Alterações no hemograma e o diagnóstico das anemias

por Adriana Fontes e Thaís Cristina de Miranda

 

As anemias afetam mais de 25% da população mundial, e ocorrem por causas diversas, sendo as principais: anemia ferropriva, megaloblástica, aplástica, hemolítica autoimune, falciforme e as talassemias.

A anemia ferropriva ou por deficiência de ferro é a deficiência nutricional mais comumente acometida no mundo e ocorre devido a perdas sanguíneas crônicas e  ingestão e/ou absorção insuficiente de ferro, resultando na redução de seus níveis plasmáticos, limitando assim a eritropoese. Em estágios iniciais, o hemograma apresenta um volume corpuscular médio (VCM) normal, porém com concentração de Hemoglobina (HGB) abaixo dos valores de referência. Com a evolução do quadro, ocorre a queda dos valores de VCM e a diminuição do valor de concentração da hemoglobina corpuscular média (CHCM). Ademais, em prognósticos mais graves, o Red Cell Distribution Width (RDW) sofre aumento devido à anisocitose das hemácias.  Além da avaliação da HGB, é indispensável que o profissional de saúde solicite também o exame de ferritina sérica, que é o marcador das reservas de ferro do organismo.

A anemia megaloblástica é a principal anemia que causa o aumento no tamanho das hemácias (macrocitose), e é resultante da deficiência de vitamina B12 e/ou ácido fólico. Tais nutrientes atuam no processo de síntese de material genético, portanto sua deficiência resulta em anormalidades hematológicas e na própria medula. Manifesta-se com aumento de VCM, pancitopenia, sem a presença de reticulocitose, e redução no número de glóbulos vermelhos no exame laboratorial. Seu diagnóstico é feito com a análise da presença de anisocitose, em casos extremos com presença de  eritroblastos e até megaloblastos.
A anemia aplástica é uma doença rara, com incidência de 2 casos em 1.000.000 de pessoas ao ano,  caracterizada pela presença de pancitopenia em sangue periférico, causada pela substituição da medula hematopoiética por células gordurosas, sem infiltração ou fibrose. Apresenta-se de forma idiopática em até 70 % dos casos. No hemograma não são observadas alterações na morfologia das hemácias, no entanto há redução do número de eritrócitos, granulócitos e plaquetas além do aumento de linfócitos.

Já a anemia hemolítica autoimune é uma condição que ocorre devido à ligação de anticorpos à superfície das hemácias, promovendo sua destruição. Para diagnosticar este transtorno, além do teste de Coombs positivo,  é necessário que o hemograma apresente  HGB abaixo de 12 g/dL, com presença de plaquetopenia e aumento de reticulócitos.

A anemia falciforme tem origem genética e é causada por defeitos na estrutura da molécula de HGB, resultando na alteração da morfologia celular. Durante a realização do esfregaço sanguíneo, é possível perceber a presença de drepanócitos (hemácias foiciformes) e elevado número de leucócitos. Quanto ao hemograma automatizado, é importante verificar o resultado de RDW, pois caso se encontre acima de 19% é indicativo de um quadro grave de anemia falciforme.

Por fim, a talassemia beta é caracterizada a nível laboratorial pela alteração morfológica dos eritrócitos, com redução de tamanho e coloração, sendo comum a presença de anisocitose dependendo do subtipo da talassemia. No hemograma pode ser percebida uma redução do VCM, HGB, CHCM e  Hemoglobina Corpuscular Média (HCM).  Caso o quadro do paciente tenha evoluído para hiperesplenismo, é possível observar também pancitopenia.

Dado as alterações apresentadas, o hemograma é de extrema importância no acompanhamento da evolução das anemias e indispensável na avaliação da resposta ao tratamento, servindo como base para o direcionamento de terapias, não excluindo a necessidade de exames complementares.

 

Referências

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