Fungos são microrganismos que estão presentes no nosso dia a dia. São eucarióticos, heterotróficos, sapróbio ou parasitas, unicelulares (leveduras) ou multicelulares (filamentosos) (TORTORA et al, 2012). Dificilmente pode existir ambiente livre de contaminação fúngica, pois estes organismos têm o ar atmosférico como seu principal meio de sobrevivência e suportam grandes variações de temperatura, umidade, pH e concentrações de oxigênio. Sendo, portanto, distribuídos largamente em ambientes internos como shoppings, escritórios, escolas, hospitais e residências (PETER et al. 2017).
Os fungos que compõem a microbiota do ar são conhecidos como fungos anemófilos, e os principais gêneros presentes são: Aspergillus, Penicillium, Fusarium, Cladosporium, Cladophialophora e Curvularia (KLINGSPOR et al., 2015). Os fungos dispersados pelo ar produzem uma gama de metabólicos secundários, dentre eles as micotoxinas, que causam doenças por inalação ou contato direto, sendo seus efeitos variando de desordens agudas/ crônicas, a reações sistêmicas. Podendo ainda estar envolvidas com doenças de hipersensibilidade, pneumonite por hipersensibilidade, a síndrome da fadiga crônica e insuficiência renal.
Pessoas imunossuprimidas, idosos e crianças são o grupo de riscos para desenvolvimento de micoses oportunistas causadas por fungos anemófilos. Uma vez que precisam estar atentas, inclusive no ambiente domiciliar, que por sua vez, podem ser veículo de contaminação. Sistema de refrigeração e aquecimento das casas, resultam em diminuição da ventilação e aumento da umidade contribuindo para proliferação de mais de 200 tipos de fungos, incluindo mofos e bolores.
O monitoramento para identificar os níveis de qualidade do ar em ambientes climatizados artificialmente, está determinado de acordo com a Resolução RE Nº 9, de 16 de janeiro de 2003, da ANVISA que definem padrões referenciais técnicos de limpeza e manutenção de sistemas de ar condicionado, qualidade e monitoramento do ar interno. Existe um valor máximo recomendável de contaminação microbiológica aceitável ≤750 UFC/m 3 e de ≤1,5 para relação entre o ar interno e externo (BRASIL, 2003). A qualidade dos ambientes internos é uma preocupação relevante de saúde pública. A OMS estima que cerca de metade da população mundial sofra com a má qualidade do ar interior, com comprometimento do sistema respiratório e cardiovascular, sendo um fator importante na saúde e bem estar da população (NUNES, 2013).
Torna-se necessário o monitoramento da qualidade fúngica do ar e o controle ambiental de fungos viáveis. Associadas a essas ações, são imprescindíveis medidas de biossegurança aplicadas nesses ambientes, incluindo reformas para correção de umidade, melhoria da ventilação e iluminação, além da retirada do material em deterioração. Uma forma eficiente é realizar a limpeza espacial com produtos antifúngicos ou uso de solução de limpezas para eliminar o crescimento desses agentes.
Recomenda-se que limpe a área com hipoclorito de sódio e água, na proporção 1:1 com o auxílio de uma bucha, devendo sempre na realização da limpeza o operador estar fazendo uso de equipamentos de proteção individual (EPI´s), incluindo luvas, óculos de proteção e uso de máscaras.
Para o controle da qualidade do ar nas residências, é importante também verificar se a mesma possui infiltração local, uma vez que fungos crescem com mais facilidade em ambientes úmidos, e manter a umidade da casa o mais baixa possível, torna-se um fator dificultante da proliferação. Medidas como: deixar as portas abertas para favorecer a circulação do ar, optar por desumidificador ou ar-condicionado com filtro adequado para reduzir a umidade ambiental e uso de tintas fungicidas em sítios que tendem a criar umidade, são eficientes para o controle de propágulos fúngicos do ambiente, evitando, consequentemente, o surgimento do bolor.
Diante do exposto, tais medidas de Biosseguranças são úteis na diminuição de fungos anemófilos, podendo evitar doenças respiratórias ou agravamento do estado de saúde em crianças e pessoas imunocomprometidas.
Autores:
Jorge Luiz Silva Araújo-Filho (@dr.biossegurança): Biólogo, mestre em patologia, doutor em biotecnologia; palestrante e consultor em biossegurança. Contato: jorgearaujofilho@gmail.com
Gleiciere Maia Silva. (@profa.gleicieremaia ): Biomédica. Doutora em Medicina Tropical. Mestre em Biologia de Fungos e Especialista em Micologia.
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Referências:
BRASIL. Ministério da Saúde. Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA). Metodologia dos Testes de Sensibilidade a Agentes Antimicrobianos por Diluição para Bactéria de Crescimento Aeróbico; Norma Aprovada M7-A6. 6. ed. v. 23, n.2, p. 1-81. 2003.
KLINGSPOR, L. et al. Invasive Candida infections in surgical patients in intensive care units: a prospective, multicentre survey initiated by the European Confederation of Medical Mycology (ECMM) (2006–2008). Clinical Microbiology and Infection. v. 21, n. 01, p. 87-e1, 2015.
NUNES, L. G. 2013. Avaliação da qualidade do ar interno de salas de aula. 67f. Monografia (Engenheiro Ambiental) – Universidade do Vale do Itajaí. Centro de Ciências Tecnológicas da Terra e do Mar, Santa Catarina, Itajaí, 2013.
PETER, M. C; Crippa, l. B.; Roncada, C. Fungos anemófilos causadores de doenças respiratórias nas escolas de caxias do sul-RS. In: 2° Congresso de Responsabilidade Socioambiental. 2º.2017.Caxias do Sul. Anais. [s.n.]. 2017.
TORTORA, G.; CASE, C. L.; Funke, B. R. Microbiologia. 8ª Ed. – São Paulo: Editora Atheneu, 2012.