O surgimento da levedura patogênica Candida auris, uma levedura emergente do gênero Candida, têm gerado grande preocupação por ser um patógeno multirresistente e é considerada uma grave ameaça à saúde global. Esse agente foi descrito pela primeira vez em 2009, isolado do conduto auditivo de um paciente proveniente do Japão e se espalhou nos cincos continentes, tendo o primeiro caso no Brasil confirmado em 9 de dezembro de 2020.
A ANVISA (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) notificou um alerta aos laboratórios para dar mais atenção às cepas suspeitas de C. auris e reforçar a vigilância dos profissionais da área de saúde.
Assim como outras espécies do gênero, o espectro clínico associado à C. auris, varia desde colonização a infecção. Contudo, o que merece atenção e cuidado é a enorme resistência às drogas comumente utilizadas no tratamento de infecções invasivas causadas pelo gênero Candida. São elas: os azólicos (por exemplo, fluconazol, voriconazol, posaconazol e isavuconazol), os polienos (ex, anfotericina B) e as equinocandinas (anidulafungina, caspofungina e micafungina). Nunca visto em nenhuma outra espécie do gênero.
A C. auris pode causar desde infecções na pele até infecções na corrente sanguínea. Os pacientes mais vulneráveis são os que estão no ambiente hospitalar, com comorbidades e que realizam tratamentos prolongados com antimicrobianos. Essas infecções são geralmente graves, com taxa de mortalidade que varia de 30% a 60%.
A C. auris sobrevive em ambientes hospitalares, sendo a higienização fundamental como medida de controle e prevenção. Embora o modo de transmissão ainda não seja definido, devem ser adotadas medidas cruciais de prevenção, tais como:
- Lavagem das mãos por parte dos profissionais de saúde e dos pacientes a fim de evitar disseminação;
- Limpeza diária e completa de colchões, pias e objetos que os pacientes tenham entrado em contato;
- Isolamento dos pacientes com suspeita de infecções por auris em quartos privados;
Pesquisas recentes sugerem que peróxido de hidrogênio não esporocida e desinfetante a base de cloro, possuem uma boa resposta contra C. auris. Entretanto, produtos com quaternário de amônio amplamente usados no ambiente hospitalar tem baixa efetividade, de acordo com o alerta emitido pela ANVISA.
Diante do exposto, medidas de biossegurança na prevenção da contaminação hospitalar por Candida auris são importantes para evitar surtos, bem como uma melhor estrutura diagnóstica, em termos de identificação da levedura e testes de sensibilidade antifúngicas, são importantes para controle de possíveis infecções.
Assim, nessa situação em todas envolvendo contaminação por microrganismos, os cuidados de biossegurança, que são funcionais e dinâmicos são de fundamental importância nos laboratórios e demais ambientes de atenção à saúde, também nos de estética e beleza, na manipulação de alimentos, e até em nossa própria casa. Esses cuidados envolve medidas de prevenção e minimização dos riscos, eleva a qualidade dos serviços, atendimento e produtos, reduz as Infecções Relacionadas à Assistência à Saúde – IRAS (CDC, 2018) e os acidentes ocupacionais (MTE, 2017), além de um papel relevante na preservação do meio ambiente (ANVISA, 2020).
Mudar o panorama atual relativo à biossegurança e qualidade nos diversos ambientes não é apenas um desafio do governo, mas da sociedade de uma forma geral, exigindo o envolvimento dos gestores e trabalhadores. Assim Capacitação periódica nessa área é essencial, e além de promover um amparo legal (NR’s, RDC’s, ANVISA), possibilita transformações positivas nos postos e processos de trabalho e capitaliza a imagem dos profissionais e das instituições.
AUTORES:
Gleiciere Maia Silva (@profa.gleicieremaia ): Biomédica, Especialista em Micologia, Mestre em Biologia de Fungos e Doutoranda em Medicina Tropical. Contato: gleicieremaia@gmail.com
Jorge Luiz Silva Araújo-Filho (@dr.biossegurança): Biólogo, mestre em patologia, doutor em biotecnologia; palestrante e consultor em biossegurança.
Contato: jorgearaujofilho@gmail.com / (81) 9.9796-5514