Este artigo de opinião aborda a análise crítico-semiótica de charges de Nando Motta sobre o aquecimento global, com base nos pressupostos da semiótica discursiva, e propõe a utilização dessas charges como ferramenta pedagógica no ensino de Língua Portuguesa. As charges, como textos sincréticos, articulam linguagens verbal e visual para construir sentidos e promover a leitura crítica em alunos do nono ano do Ensino Fundamental, visando à conscientização sobre manifestações ideológicas e cidadãs.
A semiótica discursiva, fundamentada por Algirdas Julien Greimas, investiga a construção de sentido em textos a partir da conexão entre um plano de expressão e um plano de conteúdo, utilizando um percurso gerativo de sentido que abrange os níveis fundamental, narrativo e discursivo. O nível fundamental se baseia em oposições semânticas mínimas; o nível narrativo estende essas oposições por meio de sujeitos que buscam valores; e o nível discursivo concretiza a narrativa em um contexto sociocultural e ideológico, expressando categorias de pessoa, tempo e espaço, e construindo temas e figuras.
Charges são textos sincréticos de viés artístico que analisam fatos sociais, veiculando críticas com tom humorístico-satírico sobre eventos polêmicos e atuais. A linguagem sincrética, que combina elementos visuais (imagens, cores, traçados) e verbais, é fundamental para a expressão do discurso na charge. A caricatura, frequentemente presente nas charges, deforma a realidade para expressar o riso e cumprir um papel sociopolítico de denúncia.
Um exemplo de aplicação é a análise da charge “O agro é fogo”, que critica as queimadas no Brasil, fundamentando-se na oposição entre natureza e cultura. A charge representa um fazendeiro que se beneficia das queimadas, contribuindo para o aquecimento global, evidenciando o negacionismo e o lucro a qualquer custo.
Outra charge analisada, “Salvaram Caramelo!”, aborda as enchentes no Rio Grande do Sul e o resgate de um cavalo, utilizando figuras como o cavalo, a equipe de resgate e o bote, e cores que remetem à sujeira das águas. O movimento do bote é indicado por traços curvilíneos, e a centralidade dos elementos no quadro enfatiza o evento. A intertextualidade é notada pela articulação da charge com notícias reais sobre o resgate, promovendo o senso crítico do leitor.
A charge intitulada “Negacionismo…” (Figura 5) aborda a crise climática e o negacionismo sociopolítico. O personagem, caricaturado com as cores da bandeira do Brasil, simboliza a negação aos efeitos das mudanças climáticas, e seu definhamento progressivo, evidenciado pela mudança de cores no plano de fundo, contrasta com suas falas, criando um efeito de ironia que denuncia a incoerência do discurso negacionista. As transformações do ambiente, de chuva a seca e morte, são representadas por elementos visuais como traços diagonais para a chuva e tons de amarelo para o calor extremo, culminando em um cenário distópico.
Em suma, a utilização de charges no ensino de Língua Portuguesa, sob a ótica da semiótica discursiva, pode aprimorar as habilidades de leitura dos alunos, conectando-os aos desafios sociais contemporâneos e fomentando o pensamento crítico e autônomo. A análise dos planos de conteúdo e expressão, dos elementos verbais e visuais, e das estratégias enunciativas das charges permite uma compreensão aprofundada dos sentidos e da função argumentativa e ideológica desses textos.
Referência:
SANTOS, A. A.; OLIVEIRA, D. F.; SILVA, M. A. M. Uma análise crítico-semiótica das charges de Nando Motta sobre o aquecimento global. Open Minds International Journal, São Paulo, v. 6, n. 1, p. 209-226, 2025. DOI: https://doi.org/10.47180/omij.v6i1.355.
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