Por: Dr. Fabiano de Abreu Agrela Rodrigues
Todo comportamento é consequência de interações neuroquímicas complexas. A capacidade de interpretar esses processos facilita o desenvolvimento de um prognóstico preciso sobre a condição subjacente. O neurocientista atua como um intermediário, desmembrando e revelando as probabilidades de forma científica e precisa, permitindo que outros profissionais possam realizar intervenções de maneira mais objetiva e simplificada.
Em um exemplo hipotético, consideramos dois jovens acadêmicos com boas capacidades cognitivas. O primeiro jovem demonstra facilidade em estudar e mantém boas notas na maioria das disciplinas. O segundo, por outro lado, adia os estudos, apresentando sintomas de fadiga e procrastinação quando precisa estudar.
Embora o segundo jovem não seja menos inteligente que o primeiro – podendo até ter potencial cognitivo superior – diferenças nas condições e no funcionamento cerebral podem explicar os comportamentos distintos. A análise e interpretação dessas diferenças podem oferecer um caminho para ajudar o segundo jovem, que sofre com consequências emocionais, como sintomas de desmotivação.
No primeiro caso, o jovem apresenta uma alta produção de glutamato e eficiência adequada na função do GABA. O glutamato, um neurotransmissor excitatório, desempenha um papel fundamental no armazenamento de memória, especialmente em conjunto com a acetilcolina, que depende do glutamato para sua função. O GABA, por sua vez, atua como um neurotransmissor inibitório, modulando a atividade excitatória excessiva do glutamato. A noradrenalina contribui para a manutenção do foco atencional, facilitando o aprendizado eficiente.
No segundo caso, o jovem também possui uma alta produção de glutamato, mas apresenta menor eficiência na função do GABA. Essa ineficiência pode resultar em desregulação da excitabilidade neural, afetando o foco atencional, possivelmente devido a uma disfunção na produção ou regulação da noradrenalina. Consequentemente, a atenção insuficiente prejudica a função da acetilcolina, comprometendo o armazenamento de memória. Além disso, níveis reduzidos de dopamina podem explicar a desmotivação e a falta de incentivo. Tais características são comuns em jovens que fazem uso excessivo de redes sociais e dispositivos eletrônicos, ou em casos de transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH). Além disso, uma alta velocidade de processamento cerebral com desregulação funcional – em que certas áreas cerebrais são mais eficientes do que outras – pode ser um fator subjacente.
Determinar essas diferenças e explorar suas possibilidades pode otimizar a avaliação da condição do jovem. É importante notar que muitas outras variáveis devem ser consideradas, sendo uma anamnese completa fundamental para um prognóstico mais preciso. Este exemplo foi ilustrado de forma simplificada para oferecer uma visão preliminar de como tais análises podem ser conduzidas.
A análise das diferenças no funcionamento cerebral, em conjunto com uma avaliação completa e acompanhamento profissional, pode auxiliar na compreensão e superação de dificuldades no aprendizado, como a procrastinação e a desmotivação.