A Estimulação Cerebral Profunda, conhecida pela sigla “DBS” (Deep Brain Stimulation) e ainda como “marca-passo cerebral”, é um dos tratamentos eficazes na redução de sintomas na doença de Parkinson, tremor essencial e distonia, através do uso de eletrodos cerebrais capazes de estimular regiões específicas das redes neurais envolvidas com os nossos movimentos.
No entanto, o procedimento pode não se mostrar tão efetivo para alguns problemas de caminhada, particularmente no Parkinson, relacionados ao equilíbrio e ao chamado congelamento (“freezing”), ainda que a marcha possa melhorar no aspecto da lentidão e da rigidez.
É esse problema que um estudo recentemente publicado na revista científica “Nature Medicine” tentou superar. Ele traz uma nova perspectiva para o uso de implantes na recuperação da capacidade de caminhar.
Trata-se da estimulação do sistema nervoso no interior da coluna vertebral. O princípio dessa técnica já é amplamente utilizado no tratamento de dores crônicas mais resistentes. Através de algumas adaptações e aperfeiçoamentos, pessoas que não mais caminham normalmente poderiam reduzir suas limitações na doença de Parkinson.
O princípio do tratamento é estimular, de modo coordenado, regiões-chave dos tecidos neurais localizados no interior da coluna, conforme os sinais recebidos por sensores colocados externamente nos membros inferiores. Um sistema computacional faz correções em tempo real e permite, assim, uma lapidação dos movimentos. O sistema de estimulação conta com uma bateria, e é implantado no corpo do paciente.
O teste permitiu com que um paciente de 62 anos, diagnosticado há 28 anos com Parkinson, mas sem resultados muito positivos no tratamento relacionado à marcha, pudesse retomar grande parte da qualidade perdida em movimentos dos membros inferiores, como para ficar em pé, caminhar, descer escadas e manter-se em equilíbrio.
Precisamos ressaltar que esse paciente já possuía o implante cerebral (DBS), e que os resultados foram melhores quando os dois aparelhos entraram em ação simultaneamente. Vislumbramos, então, a associação entre as duas técnicas para a recuperação da marcha em pacientes com Parkinson.
Essa abordagem é altamente promissora, não apenas pelos resultados positivos que trouxe para uma área ainda sem grandes avanços em relação ao tratamento de Parkinson, mas também por se basear, principalmente, em técnicas e equipamentos já existentes e amplamente difundidos, o que pode facilitar a sua implementação em relação a que vemos em outros tratamentos inovadores.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
A SPINAL cord neuroprosthesis for locomotor deficits due to Parkinson’s disease. Nature Medicine, [s. l.], 6 nov. 2023. DOI https://doi.org/10.1038/s41591-023-02584-1. Disponível em: https://www.nature.com/articles/s41591-023-02584-1. Acesso em: 10 nov. 2023.
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Sobre o Dr. Bruno Burjaili
Neurocirurgião funcional