Sífilis: como é feito o diagnóstico por VDRL

Na última década, os casos de sífilis têm aumentado significativamente. Segundo o Boletim Epidemiológico de Sífilis 2020, no Brasil, entre 2010 e 2019, a taxa de detecção de sífilis adquirida aumentou de 2,1 casos por 100 mil habitantes para 72,8 casos para 100 mil. A taxa de sífilis em gestantes cresceu de 3,5 para 20,8 casos por 1 mil nascidos vivos.

O que é a sífilis?

A sífilis é uma doença silenciosa e de caráter sistêmico. Ela é causada pela bactéria Treponema pallidum, transmitida por contato sexual ou vertical (na gestação ou parto).

A transmissão de mãe para filho pode ter como consequência aborto, parto prematuro, retardo do desenvolvimento neuropsicomotor, lesões de pele e malformações, com mortalidade em torno de 40% nas crianças com sífilis congênita.

Quem possui sífilis pode apresentar diversas manifestações clínicas e diferentes estágios: a sífilis primária, secundária, latente e terciária.

A manifestação inicial é uma úlcera no local de entrada da bactéria, geralmente na região genital, que desaparece mesmo sem tratamento. Ainda manifestações iniciais incluem erupções ou manchas no tronco, nas mãos e pés; placas e lesões em mucosas. Esta fase pode ser acompanhada de sintomas inespecíficos como febre baixa, mal-estar e cefaleia. Se a doença não for tratada, pode evoluir para estágios mais graves acometendo o sistema nervoso central e cardiovascular.

Diagnóstico da sífilis

O Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas para Atenção Integral às Pessoas com Infecções Sexualmente Transmissíveis (PCDT-IST) recomenda que todo paciente diagnosticado com sífilis seja acompanhado durante um ano, por meio da realização de testes não treponêmicos para verificar a queda da titulação do patógeno.

Estes são os testes sugeridos:

Técnica Testes não treponêmicos
Floculação VDRL (Venereal Disease Research Laboratory)
RPR (Rapid Test Reagin)
USR (Unheated Serum Reagin)
TRUST (Toluidine Red Unheated Serum Test)
Imunoenzimáticos ELISA (Enzyme – linked immunossorbent assay)
Imunocromatográficos Testes Rápidos – TR

Em caso de gestantes, esse seguimento deve ser feito mensalmente e, no restante da população a cada três meses durante um ano.

Sempre que houver suspeita de sífilis congênita, deve-se realizar o VDRL no líquor da criança.

Como funciona o teste de floculação?

Os testes de floculação baseiam-se em uma suspensão antigênica que contém cardiolipina, colesterol e lecitina. No preparo da suspensão antigênica, a ligação desses componentes ocorre ao acaso e resulta na formação de estruturas arredondadas denominadas micelas.

A ligação de anticorpos em várias micelas resulta na floculação, que pode ser observada ao microscópio.

Fonte imagem: Sífilis: estratégias para diagnóstico no Brasil, Ministério da Saúde.

Escolha do teste de floculação para diagnóstico da sífilis

A escolha do teste não treponêmico vai depender de características como:

– O tipo de amostra a ser testada (líquor, soro ou plasma);
– Equipamentos disponíveis (banho-maria, microscópio); e
– Tamanho da rotina.

Veja as características e exigências de cada teste:

Fonte: Sífilis: estratégias para diagnóstico no Brasil, Ministério da Saúde.

Teste de VDRL em líquor

O VDRL é o único teste de floculação que pode ser utilizado para a pesquisa de anticorpos não treponêmicos no líquor. A realização do teste em amostras de líquor é uma ferramenta fundamental para o diagnóstico da sífilis congênita ou da neurossífilis.

Para realizar o VDRL em líquor, são necessários os seguintes materiais:

– Suspensão antigênica de VDRL preparada anteriormente

– Solução salina (NaCl 0,9%).

– Micropipeta de 10 µL.

– Micropipeta de volume variável (ajustável) entre 50 e 200 µL.

– Ponteiras descartáveis para volumes entre 50 e 200 µL.

– Recipiente para descarte de ponteiras.

– Placa de Kline (lâmina escavada com círculos côncavos).

– Agitador tipo Kline, ajustado para 180 ±2 rpm.

– Microscópio óptico comum (objetiva 10X e ocular 10X).

– Recipiente de vidro para descontaminação de produtos biológicos, contendo solução aquosa de hipoclorito de sódio (uma parte de água sanitária comercial mais quatro partes de água) ou contendo álcool 70% (peso a peso – p/p).

– Cronômetro.

– Caneta para escrever em vidro.

– Protocolo de trabalho.

Os procedimentos do VDRL qualitativo em amostras de líquor são:

  1. Pipete 50 µL do líquor em uma demarcação da placa de Kline.
  2. Cuidadosamente, faça a homogeneização da suspensão antigênica modificada.
  3. Pipete 10 µL da suspensão antigênica modificada na demarcação da placa que contém o líquor.
  4. Coloque a placa no agitador tipo Kline durante 8 minutos, com agitação de 180 rpm.
  5. Faça a leitura da reação em microscópio óptico, com objetiva de 10X e ocular de 10X, imediatamente após o término da agitação.
  6. Se não for observada floculação na amostra, a reação é negativa e o laudo pode ser emitido. Caso haja floculação na amostra de líquor puro, a reação é positiva. Neste caso, para determinar o título é necessário fazer a reação quantitativa por meio da diluição seriada do líquor em solução salina.

Conheça o agitador orbital tipo Kline que faz parte da linha de equipamentos da Firstlab que possibilitam realizar o VDRL:

Fonte: site Firstlab