Prevalência de malária urbana atinge 8,5% no principal foco de transmissão da Amazônia brasileira
Histórico
As taxas de transmissão da malária no Brasil são hoje maiores no Vale do alto rio Juruá, próximo à fronteira com o Peru (Fig. 1). Com <0,5% da população da Amazônia, a região contribui com 18% da carga geral de malária do país, estimada em 186.485 casos em 2018. Apresentamos aqui as estimativas de prevalência da malária na cidade de Mâncio Lima (Fig. 1), o principal foco
de transmissão da malária no Brasil. Tais estimativas são provenientes de duas pesquisas transversais realizadas em 2019.
Métodos
1. Inquéritos transversais em maio e setembro de 2019 compreendendo uma amostra aleatória de base domiciliar de 20% dos residentes da cidade de Mâncio Lima (n aprox. 1.700 indivíduos);
2. Os participantes do estudo foram entrevistados e testados para parasitas da malária utilizando:
a. Testes de diagnósstico rápido para detecção de antígeno (TDR/ LumiQuick Diagnostics);
b. Microscopia convencional (gota espessa);
c. PCR quantitativo focalizando gene rRNA 18S e mitocondrial;
3. Utilizamos teste qui-quadrado para comparar resultados de diferentes métodos de diagnóstico.
Resultados
• Durante os inquéritos transversais em 2019 o total de 3.346 amostras de sangue foram coletadas e examinadas;
• 0,51% dos TDRs foram positivos para malária, comparados com 0,63% de gota espessa examinada por microscopia (P < 0,01, teste qui-quadrado);
• 8,5% of dos testes de qPCR positivos, significantivamente mais que TDR positivos (P < 0.01,
teste qui-quadrado);
• A imensa maioria dos resultados foram coesos entre TRDs e microscopia (99,34%) e TDRs e qPCR (91,55%).
Discussão
A carga da malária no principal foco de transmissão no Brasil pode ser avaliada por meio de diferentes métodos diagnósticos. Estes não produzem necessariamente estimativas de prevalência semelhantes, dadas suas diferenças em sensibilidade e
especificidade. É importante ressaltar que os resultados obtidos com os TDRs LumiQuick são comparáveis aos da microscopia convencional, sugerindo que ambos os métodos podem ser usados na avaliação epidemiológica rápida da prevalência da malária
neste ambiente urbano endêmico. Análises adicionais a estas e subsequentes inquéritos transversais no local de estudo irão guiar as estratégias de eliminação da malária, considerando suas características humanas, ambientais e biológicas. Esses resultados
serão cruciais para apoiar a redução da transmissão residual da malária na Amazônia brasileira.
Referências
Lana RM, Riback TIS, Lima TFM, da Silva-Nunes M, Cruz OG, Oliveira FGS, et al. Socioeconomic and demographic characterization of an endemic malaria region in Brazil by multiple correspondence analysis. Malar J. 2017;16:397.
Salla LC, Rodrigues PT, Corder RM, Johansen IC, Ladeia-Andrade S, Ferreira MU. Molecular evidence of sustained urban malaria transmission in Amazonian Brazil, 2014-2015. Epidemiol Infect. 2020;148:e47.
Poster apresentado durante o encontro anual da ASTMH em Toronto, Canada -Nov. 15-19 , 2020
AUTORES: Johansen Igor Cavallini, Rodrigues Priscila Thihara, Ferreira Marcelo Urbano – USP