Agatha Amaral da Rocha[1], Katianne de Fátima Silveira Freitas¹, Sandielem Morri Menegon¹, Aline Wagner², Denise Wohlmeister², Alexandre Ehrhardt³,
[1] Discente do curso de Biomedicina- ULBRA. E-mail: agathaamaral15@gmail.com
² Co-orientadora. Biomédica Citologista- Laboratório de Citopatologia Petry&Wohlmeister.
³ Orientador/docente do curso de Biomedicina- ULBRA.
RESUMO
A citologia em meio líquido foi introduzida na década de 90, como um método alternativo, visando à automação no preparo do material colhido e propondo melhorias para o profissional no momento da leitura da lâmina. Logo, tem sido considerada uma importante alternativa para o ganho de sensibilidade do exame de Papanicolaou. Objetivos: Comparar incidência de atipias e lesões em diagnósticos citológicos executados com a metodologia de citologia convencional (CC) e após introdução da citologia em meio líquido (CML). Metodologia: Estudo quantitativo retrospectivo, com avaliação de laudos cérvico-vaginais de mulheres atendidas no Laboratório de Citopatologia Petry&Wohlmeister (Carazinho-RS), considerando casos positivos para atipia/lesão. Foram realizados 132 exames no 1° semestre de 2018, por meio da CC e 109 no 1° semestre 2019, pela CML. Resultados: No 1° semestre de 2018, foram identificados 60 (45,5%) casos de células escamosas atípicas de significado indeterminado (ASCUS), 1 (0,75%) caso de células glandulares atípicas (AGC), 63 (47,7%) casos de lesão intra-epitelial de baixo grau (LSIL), 5 (3,7%) casos de células escamosas atípicas de significado indeterminado não podendo excluir lesão intra-epitelial de alto grau (ASC-H) e 3 (2,2%) casos de lesão intra-epitelial de alto grau (HSIL). Com introdução da CML, no 1° semestre de 2019, foram 39 (35,7%) casos de ASC-US, 2 (1,83%) casos de AGC, 55 casos de (50,4%) LSIL, 5 (4,5%) casos de ASC-H e 8 (7,3%) casos de HSIL. Discussão: A CML tem maior sensibilidade do que a CC em detectar atipias e lesões celulares. Conclusão: A CML reduz a presença de interferentes bem como o número de amostras insatisfatórias, além de melhorar a preservação e disposição celular, contribuindo para melhor qualidade do diagnóstico citológico.
Palavras-chave: Papanicolaou. Câncer de colo de útero. Rastreamento.
INTRODUÇÃO:
O câncer do colo do útero (CCU), excetuando-se o câncer de pele não melanoma, é o terceiro tumor maligno mais frequente na população feminina e a quarta causa de morte de mulheres por câncer no Brasil (1). O controle do CCU teve seu ponto de partida, no Brasil, em iniciativas pioneiras de profissionais que implementaram a citologia e a colposcopia, a partir dos anos 1940 (2). Impulsionado pelo Programa Viva Mulher, criado em 1996, o controle do CCU foi considerado prioridade na Política Nacional de Atenção Oncológica (2005) e no Pacto pela Saúde (2006); sendo reafirmado como prioridade do governo em 2011, por meio do Plano Nacional de Fortalecimento da Rede de Prevenção, Diagnóstico e Tratamento do Câncer do Colo do Útero, que contempla, em um dos seus eixos, a garantia de qualidade do exame citológico (1).
Para o rastreamento do CCU, o método mais amplamente utilizado é o teste de Papanicolaou (exame citopatológico do colo do útero) (2). Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), com uma cobertura da população-alvo de, no mínimo, 80% e com a garantia de diagnóstico e tratamento adequados dos casos alterados, é possível reduzir, em média, de 60% a 90% a incidência do câncer cervical (3). A experiência de alguns países desenvolvidos demonstra que sua incidência foi reduzida em torno de 80% onde o rastreamento citológico foi implantado com qualidade, cobertura, tratamento e seguimento das mulheres (4). A qualidade dos exames citopatológicos baseia-se em um conjunto de medidas destinadas a detectar, corrigir e reduzir deficiências do processo de produção dentro do laboratório (1). O exame citopatológico apresenta limitações não apenas de cunho interpretativo, mas também de condições para realização dos exames que, no caso do colo do útero, envolve profissionais com diferentes qualificações, experiências e grau de responsabilidades (5).
A citologia cérvico-vaginal foi introduzida por George Papanicolau e Aureli Babes no ano de 1928 (6). A partir de 1943, com as pesquisas de Papanicolau e Traut, o método tornou-se o mais indicado para o rastreamento do CCU por ser um exame rápido e indolor, de fácil execução, com coleta realizada em nível ambulatorial, além de apresentar baixo custo (7). No entanto, a partir da década de 90, a citologia em meio líquido (CML) começou a ser introduzida, a princípio, para atender às demandas de rastreamento computadorizado com o intuito de minimizar as causas de resultados falso-negativo relacionadas ao escrutínio da amostra (8).
A citologia em meio ou base líquida foi aprovada em 1996 pelo Food and Drug Administration (FDA), dos Estados Unidos, para uso em ginecologia e em outras especialidades (9). Ela foi desenvolvida na tentativa de diminuir as falhas da citologia convencional por meio da obtenção de uma lâmina com fundo mais limpo, sem superposições de células e obscurecimento de outros elementos, o que se deve ao sistema de filtros, no qual apenas células epiteliais ficam retidas, resultando em uma citologia em monocamada ou em camada fina (10). Em especial pela melhoria na qualidade da fixação do material e na homogeneidade da distribuição celular no esfregaço, a citologia em meio líquido vem sendo apresentada não como substituta, mas sim, como um aprimoramento do teste de Papanicolaou convencional (11). Possivelmente devido a estes fatores, tem-se obtido menores índices de resultados falso-negativos com esta metodologia em relação à convencional (12).
O presente trabalho teve como objetivo comparar a incidência de atipias e lesões intraepiteliais em diagnósticos citológicos executados primeiramente com a metodologia de citologia convencional (CC) e após introdução da citologia em meio líquido (CML), demonstrando as principais vantagens da utilização da CML.
METODOLOGIA:
Foi realizado um estudo quantitativo retrospectivo, com avaliação de laudos cérvico-vaginais de mulheres atendidas no Laboratório de Citopatologia Petry&Wohlmeister, da cidade de Carazinho-RS, considerando apenas os casos positivos para atipia/lesão intraepitelial. Dentre os exames realizados, foram identificados 132 casos de atipias/lesões intraepiteliais no primeiro semestre de 2018, por meio da CC e 109 casos no primeiro semestre 2019, pela CML.
O período do segundo semestre de 2018, foi considerado como critério de exclusão pelo fato de a CML ter sido introduzida aos poucos no laboratório onde realizou-se a pesquisa em julho de 2018. Nesse período ainda haviam amostras em CC e outras já em CML, conforme adesão dos médicos ginecologistas, o que poderia gerar conflitos no fator do número de atipias e lesões intraepiteliais diagnosticadas.
<Para ler o artigo na íntegra, acesse a Revista Newslab Ed 157>