Por: Dr. Fabiano de Abreu Agrela Rodrigues – Pós PhD em Neurociências (Califórnia University), Mestre em Ciências da Saúde nas Áreas de Psicologia e Neurociências (Nova de Lisboa), Biólogo – Royal Society of Biology (Reino Unido).
A relação entre genética e inteligência tem sido um tema amplamente debatido na comunidade científica, sem uma conclusão definitiva sobre o peso exato dos fatores ambientais e genéticos na inteligência. Pesquisas indicam uma variação significativa, estimando que os fatores ambientais possam influenciar a inteligência em algo entre 20 a 50%. No entanto, essa variação sugere uma interação complexa entre a genética e o ambiente, onde a genética pode não apenas contribuir diretamente para a inteligência, mas também influenciar como um indivíduo responde ao seu ambiente.
Essa variação individual nos efeitos dos fatores ambientais pode ser entendida através do conceito de predisposição genética para uma maior ou menor aproveitamento do ambiente. Em outras palavras, alguns indivíduos possuem uma capacidade genética que os torna mais receptivos aos benefícios de ambientes enriquecidos, tais como nutrição adequada, educação de qualidade e estímulos intelectuais. Contrariamente, outros podem ter uma capacidade reduzida para aproveitar esses mesmos fatores devido a diferenças genéticas.
Além disso, o cérebro humano possui mecanismos, como a neuroplasticidade, que permitem a compensação de déficits e a adaptação a novas circunstâncias ou lesões. Isso significa que, mesmo diante de limitações genéticas ou ambientais, o sistema nervoso pode reorganizar-se para maximizar a funcionalidade cognitiva. Esse sistema compensatório é crucial, pois pode influenciar como os genes e o ambiente interagem para produzir o equilíbrio necessário no desenvolvimento cerebral.
A inteligência, medida frequentemente por testes de QI, pode ser significativamente influenciada por condições neurológicas e psicológicas específicas, como o autismo e o TDAH (Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade). Essas condições ilustram a complexa interação entre predisposições genéticas, mecanismos compensatórios cerebrais e o aproveitamento dos fatores ambientais.
Por exemplo, uma pessoa autista pode ter uma predisposição genética que indicaria um QI médio entre 110 a 130. No entanto, devido à neuroplasticidade e aos mecanismos compensatórios do cérebro, essa pessoa pode desenvolver certas áreas cerebrais de forma mais acentuada para compensar déficits relacionados ao autismo, resultando em um QI mais elevado, como 140, em testes padrão. Este desenvolvimento não é diretamente decorrente de uma predisposição genética para um aproveitamento ambiental superior, mas sim uma resposta adaptativa do cérebro aos desafios impostos pelo autismo.
Contrastando com isso, uma pessoa com TDAH pode ter uma predisposição genética para um QI alto, mas enfrentar obstáculos no desenvolvimento cognitivo pleno devido às características do transtorno, como dificuldades de atenção e hiperatividade. Estes fatores podem impedir a pessoa de alcançar pontuações mais altas em testes de QI, refletindo não uma falta de capacidade intelectual inata, mas sim a interferência do TDAH no seu desempenho.
Além disso, existem indivíduos com uma predisposição genética para um QI muito alto, caracterizado por um conjunto favorável de polimorfismos de nucleotídeo único (SNPs). No entanto, a ausência de um sistema compensatório robusto ou a falta de necessidade percebida pelo cérebro para mobilizar intensamente recursos cognitivos em resposta a desafios pode resultar em um menor aproveitamento dos fatores ambientais. Assim, tais indivíduos podem não demonstrar todos os traços típicos de superdotação, apesar de seu alto potencial genético.
Esses exemplos destacam a complexidade dos fatores que influenciam o desenvolvimento cognitivo, indo além dos típicos fatores ambientais frequentemente associados a melhorias na capacidade intelectual. Utilizando como referência o relatório GIP sobre inteligência genética, que oferece estimativas do QI genético, podemos explorar mais profundamente as sutilezas entre a predisposição genética e seu impacto na inteligência. Isso inclui considerações sobre os mecanismos compensatórios do cérebro e a necessidade de estímulos ambientais, reforçando a ideia de que desafios podem estimular o desenvolvimento da inteligência e da criatividade. Essa abordagem nos permite compreender como diferentes fatores interagem para moldar as capacidades cognitivas de uma pessoa, destacando a interação entre genética, ambiente, e a capacidade adaptativa do cérebro.
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