Um novo estudo gerou o primeiro passo para o desenvolvimento de um teste diagnóstico point-of-care para determinar a presença de fatores de risco para nascimentos prematuros em áreas de recursos escassos. O estudo descobriu que a mensuração dos níveis de TIMP-1 e ácido D-lático nas secreções vaginais pode ser um método não-invasivo e custo-efetivo de determinar o risco de nascimentos prematuros devido a uma cérvice curta e a composição de microbioma. A pesquisa foi publicada no mBio, um journal de livre acesso da American Society for Microbiology.
“Nós descobrimos que há componentes na vagina, proteínas e bactérias, que podem ser utilizados para identificar mulheres cujo risco de nascimento prematuro é elevado,” disse Dr. Larry Forney, um membro do instituto de Bioinformática e Estudos evolucionários e professor no departamento de ciências biológicas na Universidade de Idaho. “Há a necessidade de se haver um diagnóstico custo-efetivo que pode ser usado para identificar mulheres que estão em risco de nascimentos prematuros para se realizar uma melhor monitoração e, se necessário, terapias mais apropriadas poderem ser iniciadas. O objetivo é ter um diagnóstico point-of-care que pessoas possam usar na clínica que não seja necessária tecnologias avançadas, instrumentação cara e habilidades extremamente especializadas.” Dr. Forney, junto com Steven Witkin, doutor do departamento de obstetrícia e ginecologia da Weill Cornell Medicine, e Antonio Moron, doutor do departamento de obstetrícia da Universidade Federal de São Paulo, Brasil, serviram como os principais investigadores desse novo estudo.
Complicações do parto prematuro chegam a quase um terço das 3,1 milhões de mortes em neonatos a cada ano. Por anos, os clínicos souberam que um curto comprimento cervical e a depleção de espécies de Lactobacillus no microbioma vaginal são fatores de risco significativos para o nascimento prematuro. Em países prósperos, a maioria das mulheres grávidas passam por um ultrassom vaginal entre 18 a 24 semanas de gestação, para determinar o comprimento cervical, e mulheres com uma cérvice curta são tratadas com progesterona, cerclagem, ou pessário cervical, para reduzir a possibilidade de partos prematuros. Similarmente, mulheres que mostram sinais de vaginoses bacterianas, pela microscopia de Gram ou diagnósticos baseados na amplificação genética, são tratadas com antibióticos para restaurar a dominância de lactobacilos e reduzir o risco de nascimentos prematuros.
Em áreas menos prósperas do mundo, entretanto, os recursos para se realizar ultrassom vaginal ou caracterizar a composição das bactérias vaginais são mais escassos. Geralmente, mulheres em países com poucos recursos que estão em risco de nascimento prematuro acabam desamparadas. “Mulheres com cérvices encurtadas que podem ter infecções ascendentes da vagina para o útero e isso pode gerar inflamação e disparar contrações e nascimentos prematuros”, explicou Dr. Forney. “Se você pode identificar pessoas em risco, há terapias padrão a ser aplicadas, mas se não se sabe quem está em risco, não se pode ter uma base de escolha de quem deverá receber terapia adicional”.
Em um novo estudo, fundado pela fundação Bill e Melinda Gates, pesquisadores de Idaho, Brasil e Nova Iorque se uniram para identificar medidas de point-of-care de baixo custo para medidas que podem ser usadas para predizer as bactérias que dominam o microbioma vaginal e indicar a presença de cérvices encurtados. Os pesquisadores coletaram e analisaram amostras de fluidos vaginais de 340 mulheres grávidas no segundo trimestre para determinar correlações de um cérvice curto. Aproximadamente 10% das mulheres no estudo tiveram cérvice encurtada. Os pesquisadores descobriram que inibidores teciduais da matriz de metaloproteinases (TIMP-1), ácido D-lático, p62, idade e etnia todos afetaram diretamente o comprimento da cérvice.
“Medir os níveis de TIMP-1 e ácido D-lático em secreções vaginais pode ser uma forma direta de determinar o risco de nascimento prematuro nas mulheres”, disse o Dr. Forney. “Nosso próximo passo é fazer um estudo maior que inclua mulheres no primeiro trimestre para verificar se os resultados são similares e monitorar e verificar se o tratamento pode começar mais cedo na gestação”.
Os pesquisadores disseram que o trabalho não seria possível sem a expertise de diversas disciplinas se unificando como um time. “Esse é o exemplo de como a pesquisa pode ser bem feita quando se junta pessoas de diferentes áreas”, disse Dr. Forney. “Esse time de investigadores incluiu obstetras, ginecologistas, imunologistas, microbiologistas e estatísticos.”
Mais informação no artigo: Steven S. Witkin et al. Vaginal Biomarkers That Predict Cervical Length and Dominant Bacteria in the Vaginal Microbiomes of Pregnant Women, mBio (2019). DOI: 10.1128/mBio.02242-19
Com informações de Medical Xpress. Traduzido por João Gabriel de Almeida.