Os desafios da temporada de gripe junto do SARS-CoV-2

Entrevista com Dr. Manoj Gandhi

A temporada de gripe se aproxima agora no hemisfério sul. No passado, o período já era naturalmente desafiador, mas agora com a COVID-19 tudo se intensificou. A temporada de gripe chega enquanto o novo vírus, que já sobrecarregou muito os sistemas de saúde em todo o mundo, tende a se perpetuar como ameaça permanente à população de todo o planeta. O que podemos esperar do impacto combinado desses dois vírus à medida que os casos oriundos de ambos passam a coexistir em nossos hospitais? Para responder esta e outras perguntas, conversamos com o Dr. Manoj Gandhi, Diretor Médico Sênior para Soluções em Testes Genéticos da Thermo Fisher Scientific, que nos apresentou uma análise detalhada do cenário.

O que já sabemos sobre a gripe?

A gripe advém de um grupo de vírus relacionados entre si, mas que se manifestam de forma cíclica, causando infecções que coincidem com as estações do ano. A temporada de gripe que se inicia com a chegada do outono, se estendendo por todo inverno, chegará em muitos países onde ainda há incidências significativas de infecções por SARS-CoV-2. Por se tratar de um vírus que apenas recentemente passou a infectar humanos, o SARS-CoV-2 ainda não apresenta nenhum padrão sazonal e é provável que ocorra um aumento nas taxas de infecção por COVID-19 à medida que os casos de gripe também aumentarem. Esta combinação representa um desafio especial para médicos e sistemas de saúde.

Em relação à gripe, o Dr. Gandhi comenta que “a gripe foi descrita pela primeira vez há cerca de 100 anos, mas há séculos está entre nós. Agora estamos munidos de vacinas e tratamentos contra a gripe, como o Tamiflu que, quando administrado nos primeiros dois dias de sintomas, pode ser muito eficaz”.

No entanto, o vírus influenza continua sendo um patógeno perigoso, especialmente porque sua alta taxa de mutação não permite que a imunidade adquirida forneça proteção duradoura contra todas as classes de vírus da gripe. Além disso, novos e mais virulentos subtipos podem surgir, aumentando as taxas de mortalidade pela doença.

É muito provável que o caráter sazonal dos novos subtipos de gripe e suas ondas de infecções e hospitalizações deverão ser acompanhados de uma alta incidência de infecções por SARS-CoV-2 também. Essa coincidência de tempo e lugar apresenta dois grandes desafios para os médicos e sistemas de saúde: o alto volume de pacientes e a triagem correta entre gripe ou COVID-19.

Gerenciamento de pacientes para influenza e SARS-CoV-2

Os sistemas hospitalares costumam se preparar para a chegada da temporada de gripe, alocando recursos humanos e financeiros em antecipação à chegada dos pacientes de gripe. Porém, com a pandemia de COVID-19 ainda ativa, toda a logística hospitalar adaptada permanece em grade medida ainda comprometida com os pacientes infectados pelo SARS-CoV-2. Muitos sistemas foram estendidos para e além de seus limites e não há capacidade extra disponível para atender uma nova onda de gripe como era nos anos anteriores.

Vale lembrar que no último ano a crise do coronavírus causou um efeito surpreendente sobre a temporada de gripe. Ao longo de 2020, o distanciamento social, uso máscaras e outras medidas de proteção contra o SARS-CoV-2 reduziu significativamente a transmissão da gripe e de outros vírus respiratórios sazonais, fazendo com que praticamente a temporada de gripe fosse interrompida. Agora, no entanto, é provável que isso não se repita em 2021, já que a retomada das atividades e o fim das restrições na maior parte do país podem tornar a permitir que os vírus influenza e SARS-CoV-2 se disseminem novamente, sendo possível mesmo um recrudescimento da pandemia de COVID-19.

Como é possível diferenciar as infecções causadas por SARS-CoV-2 ou por influenza?

Dr. Gandhi explica o desafio de distinguir entre essas duas condições em um contexto terapêutico: “O problema é que elas apresentam sintomas muito semelhantes, como febre, tosse, dores no corpo, coriza. Existem algumas diferenças sutis, como perda de paladar ou olfato e falta de ar, que podem ser observadas em pacientes com COVID. No entanto, [estes] podem não ser vistos em todos os pacientes e, na maioria das vezes, os sintomas entre COVID e gripe são fundamentalmente os mesmos. Então, a questão real é, como o médico pode distinguir a infecção de um ou do outro patógeno? E a resposta é que há um teste específico pra isso.”

Dado que muitas das abordagens terapêuticas para as duas condições, incluindo o uso de respiradores mecânicos, são baseadas nos sintomas que eles compartilham, esse teste pode parecer desnecessário aos olhos de alguns. Isso porque o normalmente o tratamento é orientado para os sintomas, e não necessariamente requer conhecimento do patógeno causador da doença, apenas busca aliviar a enfermidade do paciente. No entanto, já existem medicamentos e protocolos designados para as infecções específicas. Estes devem ser distinguidos de acordo com o patógeno, pois seus efeitos podem ser inertes ou adversos em determinados grupos de pacientes, ou então serem determinantes para salvar a vida de outro grupo de pacientes, logo não há margens para erros nesse tipo de conduta terapêutica.

Em particular, uma das principais características do SARS-CoV-2 é que ele pode induzir um grande fluxo de citocinas no organismo infectado devido à superestimulação do sistema imunológico, o que é raro em pacientes com gripe. Os medicamentos usados ​​para tratar esse influxo de citocinas são imunossupressores, contraindicados para pacientes infectados pelo influenza. Da mesma forma, vários medicamentos antivirais foram aprovados para uso contra o SARS-CoV-2, mas ainda não foram testados quanto à eficácia ou segurança contra influenza (p.ex. remdesivir) e vice-versa (p.ex. oseltamivir, zanamivir, peramivir, baloxavir).

Além disso, as recomendações de quarentena são diferentes para os dois vírus, sendo muito mais rigorosos para infectados com SARS-CoV-2. Isso permite que hospitais elaborem estratégias e otimizem seus recursos para prevenir um colapso do sistema de saúde frente a um aumento repentino de novos casos de ambas as doenças.

Os diferentes aspectos do tratamento para os dois vírus colocam um desafio ainda maior para os casos de co-infecção. “Flurona”, como apelidaram a condição de infectar-se com influenza e SARS-CoV-2 simultaneamente, podem culminar em complicações graves que exigem procedimentos especializados para solucionar o problema.

E a vacina da gripe?

A existência de vacinas contra a gripe, que são atualizadas e aprimoradas todos os anos para funcionar contra novas cepas, é uma defesa crucial contra a gripe. São as vacinas que previnem os piores impactos da gripe e limitam a propagação desse vírus na população. Mesmo quando não fornecem proteção completa contra uma infecção (sua eficácia a cada ano varia de ~ 40 a 60%), elas geralmente reduzem significativamente a gravidade da doença, ajudando a manter as pessoas infectadas fora do hospital. Quando os recursos disponíveis para tratar pessoas com casos graves de gripe são escassos, é fundamental manter altos níveis de vacinação. Altas taxas de vacinação contra influenza também reduzem a necessidade de distinguir entre infecções por influenza e SARS-CoV-2 e, consequentemente, diminuem as chances de pacientes que apresentem ambas as infecções simultaneamente.

Infelizmente, as vacinas contra a gripe não são eficazes contra o SARS-CoV-2 diretamente. Como observa o Dr. Gandhi, “o vírus da gripe pertence à família Orthomyxoviridae, enquanto o SARS-CoV-2 pertence à família Coronavírus, e existem diferenças entre a estrutura dos dois vírus, de modo que cada um requer sua própria vacina específica”. Agora que já temos várias vacinas aprovadas e disponíveis também para o SARS-CoV-2, elas podem ser administradas em um plano de vacinação semelhante ao das vacinas contra a gripe, a fim de proteger a população contra ambas as doenças.

Qual é o papel da Thermo Fisher Scientific e de outras empresas de testes em tudo isso?

O Dr. Gandhi explica que “cabe a empresas como a Thermo Fisher Scientific produzir os testes corretos que atendam às necessidades dos médicos e, mais importante, dos pacientes”. O teste TaqPath COVID-19 da Thermo Fisher Scientific lançado em 2020 é validado para fins diagnósticos e é utilizado em todo o mundo para diagnóstico PCR de COVID-19, inclusive no Brasil.

Com a chegada da temporada de gripe, a Thermo Fisher Scientific desenvolveu um novo teste de PCR multiplex que detecta simultaneamente RNA de vários vírus respiratórios, incluindo SARS-CoV-2, influenza A, influenza B e vírus sincicial respiratório. A combinação de alvos para cada um desses vírus em um único teste torna a distinção dessas infecções muito mais fácil e pode ajudar os médicos a escolher os tratamentos e protocolos apropriados para seus pacientes, salvando vidas. O Dr. Gandhi conclui: “Colocamos muito esforço e ênfase aqui na Thermo Fisher Scientific em ajudar nossos clientes a responder à pandemia de COVID-19, e estamos orgulhosos de poder colaborar também atendendo às demandas de testes de vírus respiratórios à medida que avançamos para a temporada de gripe.”

Para solicitar mais informações sobre os ensaios de PCR em tempo real SARS-CoV-2 e influenza multiplex da Thermo Fisher Scientific, visite-nos em thermofisher.com/covidflursv.

Para solicitar mais informações sobre os ensaios de PCR em tempo real SARS-CoV-2 e influenza multiplex da Thermo Fisher Scientific, visite-nos em thermofisher.com/covid19.

 

Veja mais em nossa Revista Digital clicando aqui