O uso dos inibidores do cotransportador 2 de sódio-glicose (SGLT2, do inglês Sodium-Glucose Cotransporter 2) para o tratamento de diabetes tipo 2 não parece aumentar o risco de infecção do trato urinário (ITU) em comparação com as duas outras novas classes de medicamentos contra o diabetes tipo 2, indicam os resultados de um grande estudo populacional.
Enquanto os inibidores do SGLT-2 têm demonstrado aumentar sistematicamente o risco de infecção genital (predominantemente a fúngica, bem como a gangrena de Fournier, uma complicação rara, porém grave), sua relação com a infecção do trato urinário é menos clara, e os dados anteriores eram conflitantes. No entanto, em 2015, a Food and Drug Administration (FDA) norte-americana acrescentou uma advertência sobre as infecções graves do trato urinário na bula de todos os inibidores SGLT-2 após notificações de sepse urinária e pielonefrite em pacientes usando esses medicamentos.
No estudo feito com dois grandes bancos de dados norte-americanos de solicitações de reembolso, a comparação de mais de 100.000 pessoas com diabetes tipo 2 iniciando tratamento com SGLT-2 com pacientes pareados iniciando tratamento com inibidores da dipeptidil peptidase 4 (DPP4) ou com agonistas do receptor do peptídeo 1 semelhante ao glucagon (GLP1, do inglês Glucagon-Like Peptide-1) não revelou diferenças na incidência de infecção do trato urinário, leve ou grave, durante aproximadamente dois anos.
“De acordo com os nossos achados, outros fatores de risco além da infecção urinária devem ser considerados no processo decisório sobre a prescrição do tratamento com SGLT-2 para pacientes com diabetes no atendimento de rotina”, disseram o Dr. Chintan V. Dave, PharmD, Ph.D., da Division of Pharmacoepidemiology and Pharmacoeconomics, Brigham and Women’s Hospital, nos Estados Unidos, e colaboradores.
Seus achados foram publicados on-line em 29 de julho no periódico Annals of Internal Medicine.
“Dados tranquilizadores da vida real”
Este novo estudo é “tranquilizador, tem várias implicações importantes e representa um acréscimo fundamental para a literatura”, disseram o Dr. Kristian B. Filion, Ph.D., e a Dra. Oriana H. Yu, médica, ambos da Universidade McGill e Lady Davis Institute do Jewish Hospital Geral, no Canadá, no editorial que acompanha o estudo.
O artigo tem vários pontos fortes, continuaram Dr. Kristian e Dra. Oriana. “O seu desenho de pontuação de propensão pareada, o uso de comparadores ativos em pontos semelhantes no tratamento do diabetes tipo 2 e seu rigoroso ajuste estatístico reduziram os fatores de confusão por indicação e por outras variáveis. Com mais de 100.000 pacientes por coorte, os autores puderam restringir a análise à infecção grave do trato urinário, desfecho clínico importante entre os pacientes com diabetes tipo 2. Os resultados foram sistemáticos entre as várias análises, sugerindo a robustez das observações para o estudo das hipóteses.”
No entanto, o Dr. Kristian e a Dra. Oriana advertiram que o trabalho tem algumas limitações, predominantemente, que a maioria dos pacientes com alto risco de infecção do trato urinário (p. ex.: hidronefrose, refluxo vesicoureteral, lesão medular ou uso de sonda vesical) foi excluída.
“Embora essas exclusões possam ter aumentado a validade dos dados, também podem ter atingido adversamente a possibilidade de generalização. As exclusões também não permitem análises de subgrupos entre os pacientes de maior risco para o desfecho de interesse.”