Por Juliana Garotti, gerente de produtos de Citologia e Biologia Molecular da Vyttra Diagnósticos
O movimento Novembro Azul, criado para disseminar informação e gerar conscientização sobre o câncer de próstata, abre um espaço importante para que se discuta a saúde do homem de uma maneira mais ampla, abordando outras patologias de grande prevalência, como o HPV (Papiloma Vírus Humano), e o papel fundamental da medicina diagnóstica nesse cenário à medida em que os investimentos em pesquisa e desenvolvimento propiciam diagnósticos cada vez mais assertivos e precoces.
Os holofotes sobre o câncer de próstata são justificáveis. A doença é a segunda causa de morte em diversos países1, e no Brasil é considerada um problema de saúde pública, com mais de 65 mil novos casos por ano2, muito em virtude do aumento de diagnósticos, o que pode se explicar não apenas pelo aumento da expectativa de vida, mas também pelo crescimento dos números de exames preventivos realizados precocemente.3
O principal marcador tumoral para detecção de câncer de próstata é o Antígeno Prostático Específico (PSA) que, aliado ao toque retal, possibilita o rastreamento da doença. Essa associação se faz necessária pelo fato de que o PSA auxilia no diagnóstico, mas por não ser uma substância câncer específica não deve ser utilizado isoladamente na prática clínica. No exame de toque retal é possível perceber a presença de nódulos, mas a investigação fica limitada, já que apenas a parte posterior e lateral da glândula podem ser apalpadas4.
Mas, não é possível falar em saúde masculina sem abordar o Papiloma Vírus Humano (HPV), classificado entre as maiores doenças sexualmente transmissíveis (DSTs) do mundo e a mais frequente entre os indivíduos sexualmente ativos, afetando cerca de 30% dessa população.5
Entre os cerca de 100 subtipos do vírus, mais de 30 são transmitidos sexualmente6, e se bem que a maior parte dos subtipos esteja associada a lesões benignas, há os que podem causar cânceres que afetam apenas os homens, como o de pênis, e os que vitimizam as mulheres, como de colo de útero, vagina e ânus, tendo o homem como importante vetor.7
As infecções latentes, que não são visíveis a olho nu, são diagnosticadas por colposcopia, nas mulheres, e peniscopia nos homens8, e a Biologia Molecular é capaz de desenvolver marcadores tumorais que detectam o DNA do HPV8;9, método utilizado principalmente na identificação do câncer de pênis.
Novas pesquisas estão constantemente em andamento em busca de biomarcadores tumorais mais específicos para neoplasias da próstata e que possam ser mais sensíveis ao aparecimento do tumor, assim como na identificação dos subtipos de HPV de maior risco, colocando a medicina diagnóstica como peça essencial na prevenção, diagnóstico e monitoramento dessas doenças.5
A mudança que se faz necessária é cultural e comportamental para que o homem deixe de oferecer resistência ao autocuidado, entenda a importância de consultar um médico ao menor sinal de sintomas e desconfortos, que possam indicar a possibilidade de doenças genitais, e também mantenha uma periodicidade de exames de rotina, que de maneira muito simples e acessível podem possibilitar o diagnóstico precoce de enfermidades graves, bem como a cura e tratamento, garantindo saúde e qualidade de vida.
Referências
1 – TOFANI, Ana C. A.; VAZ, Cícero E. Câncer de próstata, sentimento de impotência e fracassos ante os cartões IV e VI do Rorschach. Revista Interamericana de Psicologia/Interamerican Journal of Psychology. V.41, n.2, p.197-204, 2007. Disponível em: < http://www.redalyc.org/pdf/284/28441210.pdf>. Acesso em: 25/10/2020.
2- Instituto Nacional do Câncer (INCA). Câncer de Próstata 2020. Saúde do Homem. Disponível em: https://www.inca.gov.br/campanhas/cancer-de-prostata/2020/saude-do-homem. Nov 2020.
3 – DINI, Leonardo I.; KOFF, Walter J. Perfil do câncer de próstata no Hospital de Clínicas de Porto Alegre. Revista da Associação Médica Brasileira. V.52, n.1, p.28-31, 2006. Disponível em: < http://www.scielo.br/pdf/ramb/v52n1/a18v52n1.pdf>. Acesso em: 20/10/2021.
4 – AMORIM, Vivian Mae Schmidt Lima et al. Fatores associados à realização dos exames de rastreamento para o câncer de próstata: um estudo de base populacional. Caderno de Saúde Pública. Rio de Janeiro, v.27, n.2, p.347-356, Fev. 2011. Disponível em: < http://www.scielo.br/pdf/csp/v27n2/16.pdf>. Acesso em: 20/10/2021.
5 – SILVA, Heliana de Araújo. et al. A citopatologia uretral como ferramenta na detecção de efeito citopático do papilomavírus humano (HPV) em pacientes com peniscopia característica de infecção viral. Revista Brasileira de Análises Clínicas. Rio de Janeiro. v. 40, n. 1, p. 69- 71, jan/fev, 2008.
6 – RAMA, Cristina Helena. et al. Prevalência do HPV em mulheres rastreadas para o câncer cervical. Revista de Saúde Pública. São Paulo. v. 42, n. 1, p. 123-130, jun, 2008
7 – VERONESI. Ricardo; FOCACCIA, Roberto. Tratado de Infectologia. 4 ed. São Paulo: Atheneu. v. 01, 2010.
8 – CARVALHO, Júlio; OYAKAWA, Nadir. I Consenso Brasileiro de HPV. 1 ed. São Paulo: BG Cultural, 2000.
9 – QUEIROZ, Alda Maria Alves. et al. O papiloma vírus humano (HPV) em mulheres atendidas pelo SUS, na cidade de Patos de Minas – MG. Revista Brasileira de Análises Clínicas. Rio de Janeiro. v. 39, n. 2, p. 151-157, abr/jun, 2007.
10 – DRAISMA, Gerrit et al. Lead time and overdiagnosis in prostate-specific antigen screening: importance of methods and context. Journal of the National Cancer Institute. V.101, n.6, Mar. 2009. Disponível em: < http://jnci.oxfordjournals.org/content/101/6/374.full.pdf+html>. Acesso em: 25/10/2021.
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