Uma pesquisa da Fiocruz Minas mostrou que o Lamp, teste utilizado para detecção de uma série de doenças infecciosas, pode ser empregado também para o diagnóstico de leishmaniose visceral humana. O estudo, realizado pelo Grupo de Pesquisas Clínicas e Políticas Públicas em Doenças Infecciosas e Parasitárias (PCPP), foi publicado recentemente na revista BioMed Research International.
Para verificar a eficácia do Lamp, os pesquisadores aplicaram a técnica em amostras de sangue que já haviam passado por métodos de diagnóstico tradicionalmente utilizados. Ao todo, foram 219 amostras, sendo 114 de pacientes já diagnosticados com leishmaniose visceral e 105 de pessoas cujos exames deram negativo para essa doença. Ao comparar os resultados do Lamp e dos exames feitos anteriormente, os pesquisadores verificaram que houve 98% de concordância tanto entre as amostras positivas quanto entre as negativas.
“Foram altas tanto a sensibilidade, que é a capacidade do teste de identificar corretamente os indivíduos que têm a doença, como também a especificidade, que é a capacidade do teste identificar corretamente os indivíduos que não têm a doença. Ou seja, o Lamp se mostrou uma técnica de acurácia diagnóstica bastante alta, demonstrando ser possível utilizá-lo no diagnóstico da leishmaniose visceral humana”, afirma o pesquisador Daniel Moreira de Avelar, do Grupo de Pesquisas Clínicas e Políticas Públicas em Doenças Infecciosas e Parasitárias (PCPP).
Atualmente, o Ministério da Saúde recomenda alguns tipos de testes de diagnóstico para leishmaniose visceral, entre eles o parasitológico, os sorológicos e os moleculares. Entretanto, segundo o pesquisador, tais metodologias apresentam algumas limitações que podem dificultar o diagnóstico precoce da doença.
“O parasitológico apresenta baixa sensibilidade, além de ser muito invasivo e, por isso, requer ser feito em Hospitais e Centros de Referência, fazendo com que muitos pacientes tenham que percorrer longas distâncias para ter acesso. Os sorológicos funcionam bem em pessoas com boa resposta imunológica, mas pacientes imunodeprimidos, por exemplo, não respondem bem, devido às deficiências na produção de anticorpos. Já os moleculares, também de alta precisão, geralmente dependem de equipamentos nem sempre disponíveis em todas as localidades”, explica Avelar.
Já o Lamp, de acordo com o pesquisador, é um teste isotérmico, uma vez que todas as reações necessárias para a detecção das doenças podem ocorrer dentro de uma mesma temperatura. É diferente do PCR, um tipo de teste molecular que requer variação de temperatura e, por isso, depende de equipamentos de alto custo e de laboratórios bem estruturados.
“O Lamp pode ser feito usando aparelhos simples, como por exemplo, banho-maria. Ou seja, isso facilita sua implementação em laboratórios menores”, afirma Avelar.
Leishmaniose tegumentar
A eficácia do Lamp também está sendo testada para a detecção da leishmaniose tegumentar. Um estudo, que será publicado em breve, mostrou que a técnica associada com coleta de material por swab teve resultados bem parecidos aos de exames realizados por meio de biópsia.
“A vantagem é que, ao adotar o Lamp, podemos usar o Swab para a coleta de material, técnica que é bem menos invasiva e também menos dolorosa para o paciente. Isso também significa que o procedimento poderá ser feito em laboratórios de pequeno porte”, destaca o pesquisador.
Importante salientar que os estudos que visam à avaliação de novas técnicas de diagnóstico, realizados na Fiocruz Minas, vão ao encontro do que preconiza a Organização Mundial de Saúde (OMS) em relação aos critérios que devem ser observados ao recomendar novas metodologias.
“A OMS determina que os testes devem ser sensíveis, específicos, rápidos, robustos, de fácil realização e serem executados onde as pessoas doentes estão. Além disso, devem ser realizados em tempo real, usar o mínimo de equipamentos e a coleta das amostras deve ser realizada de forma não invasiva. Em nossos estudos, temos buscado garantir esses critérios”, diz.
Doença
As leishmanioses se dividem em dois tipos: tegumentar, que ataca a pele e as mucosas; e visceral, que ataca órgãos internos, como fígado e baço. A doença é causada por protozoários parasitas que ficam hospedados principalmente em roedores e cães domésticos e são transmitidos ao homem pelas fêmeas de flebotomíneos, popularmente conhecidos como mosquito palha, cangalhinha e birigui.
No caso da leishmaniose tegumentar, o principal sintoma é o aparecimento das feridas na pele. Geralmente, a lesão aparece pequena, de forma arredondada, profunda, avermelhada e cresce progressivamente com o passar dos dias. Entretanto, quando o parasita abriga a mucosa do indivíduo contaminado, as feridas aparecem no nariz, na boca ou, em casos mais graves, na garganta e no sistema da laringe do organismo.
Já a leishmaniose visceral é uma doença infecciosa sistêmica, caracterizada por febre de longa duração, aumento do fígado e baço (hepatoesplenomegalia), perda de peso, fraqueza, redução da força muscular, anemia e outras manifestações.
Não há vacina contra as leishmanioses humanas. As medidas mais utilizadas para o combate da enfermidade se baseiam no controle de vetores e dos reservatórios, proteção individual, diagnóstico precoce e tratamento dos doentes, manejo ambiental e educação em saúde.
Com informações de Fiocruz Minas.