Por Dan Waitzberg*
O corpo humano é habitado por trilhões de micro-organismos, como bactérias, vírus e fungos, o que chamamos de microbioma. Atualmente, sabe-se que esse microbioma possui funções importantes na manutenção da saúde e surgimento de doenças. O reconhecimento do seu genoma e a influencia na saúde tem sido objeto de estudo de inúmeras pesquisas científicas.
Pode-se considerar que, aproximadamente, de 1 a 2kg do peso corporal total corresponde aos trilhões de bactérias que habitam somente o trato gastrointestinal. A microbiota intestinal, nome atribuído ao conjunto das colônias de bactérias intestinais, contém micro-organismos apatogênicos (comensais) e patogênicos (causadoras de doenças). Ela começa a ser formada durante o período intrauterino e parto, é estabelecida nos primeiros cinco anos de vida e mantida até a idade adulta.
A microbiota intestinal tem importante influência sobre processos metabólicos, funcionamento do sistema imunológico, produção de vitaminas e de algumas substâncias que favorecem o funcionamento intestinal e previnem o surgimento de doenças. No entanto, essas condições benéficas podem ser observadas em situação de simbiose, ou seja, quando existe equilíbrio entre micro-organismos comensais e patogênicos.
Cada indivíduo possui uma composição microbiana única, que sofre influência dos tipos de bactérias adquiridas por transmissão vertical materna, composição genética do indivíduo, dieta, uso de medicamentos, infecções intestinais e estresse. A exposição à fatores agressores como estresse, consumo exagerado de álcool, tabagismo, uso de antibióticos e dieta não saudável podem causar desequilíbrio da microbiota, com aumento das bactérias patogênicas e diminuição das bactérias comensais. Esse distúrbio é conhecido como disbiose e pode estar associado ao aparecimento de algumas doenças, muitas delas, associadas ao trato gastrointestinal, como doença inflamatória intestinal, síndrome do intestino irritável e constipação e outras sistêmicas como obesidade e diabetes ou autismo. Este desequilíbrio simbiótico da relação hospedeiro-microbioma também se reflete no prejuízo da resposta imunológica e pode atuar com gatilho indutor no desenvolvimento e progressão de doenças metabólicas, inflamatórias, autoimunes e do câncer (4),(5).
Atualmente, é grande e crescente o interesse clínico em se conhecer a variação temporária da população microbiana de indivíduos saudáveis, e principalmente de não saudáveis, uma vez que, ao ter esse conhecimento, poderemos traçar melhores condutas de intervenção, corrigir quadros de disbiose e melhorar o tratamento clínico de diversas doenças. Esta informação permite também estabelecer marcadores microbianos de referência para risco, progressão e prognóstico de doenças (1),(5). Adicionalmente, cientistas visam nortear estratégias profiláticas e terapêuticas na promoção da saúde.
Para conhecer o impacto clínico desses microrganismos no binômio saúde-doença, existem distintas técnicas de biologia molecular e testes genéticos analíticos como o sequenciamento do DNA microbiano, que tem possibilitado conhecer o perfil estrutural, quantitativo e comportamental do microbioma humano frente a condições fisiológicas e patológicas.
A análise individual do perfil microbiano faz parte da medicina especializada, por meio da aplicação precoce de estratégias terapêuticas personalizados na promoção de saúde e prevenção da instalação de doenças. (1),(5).
O conhecimento do perfil microbiota pode ser obtido pela técnica de sequenciamento 16s no DNA ribosomal ou por sequenciamento tipo shotgun, de varredura, ambos já disponíveis pela Bioma4me em todo o território nacional.,
Referências:
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- Chong CYL, Bloomfield FH, O’Sullivan JM. Factors Affecting Gastrointestinal Microbiome Development in Neonates. 2018; 28:10(3).
- Conlon MA, Bird AR. The impact of diet and lifestyle on gut microbiota and human health. 2014; 24;7(1):17-44.
- Sunil Thomas, Jacques Izard, Emily Walsh, et al. The Host MicrobiomeRegulates and Maintains Human Health: A Primer and Perspective for Non-Microbiologists. Cancer Res, 2017; 15, 77(8): 1783–1812.
- Armstrong H, Bording-Jorgensen M, Dijk S, Wine E. The Complex Interplay between Chronic Inflammation, the Microbiome, and Cancer: Understanding Disease Progression and What We Can Do to Prevent It. Cancers (Basel).2018, 20;10(3).
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Dan L. Waitzberg é professor associado do Departamento de Gastroenterologia da FMUSP e diretor científico Bioma4Me.
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