Medicina personalizada em animais de companhia

Evidências genéticas e biomarcadores impulsionam terapias individualizadas em cães e gatos

A medicina personalizada transforma cuidados veterinários ao adaptar prevenção e terapias às características individuais do animal. Em pets, isso significa integrar biomarcadores, testes genéticos e farmacogenômica para decisões mais seguras e eficazes, especialmente em oncologia, doenças hereditárias e ajuste de doses.

1. Biomarcadores para personalizar terapias

Biomarcadores séricos, moleculares e de imagem permitem diagnosticar mais cedo, estratificar risco e monitorar resposta a tratamentos. Em oncologia, marcadores sanguíneos e alterações genômicas auxiliam na seleção de quimioterapias ou terapias-alvo. O uso combinado de biomarcadores diagnósticos, prognósticos e preditivos aumenta a precisão terapêutica e reduz terapias ineficazes (Aupperle-Lellbach, 2022).

2. Testes genéticos para predisposição por raça

Testes de variantes mendelianas e painéis genéticos permitem identificar predisposições específicas em raças, como doenças endócrinas, cardiopatias e erros inatos do metabolismo. Essa informação apoia triagem precoce, aconselhamento de criadores e monitoramento individualizado. Estudos populacionais mostram que muitas raças carregam variantes clinicamente relevantes (Donner et al., 2023; Bannasch et al., 2021).

3. Farmacogenômica veterinária

Variações genéticas em transportadores, metabolizadores e receptores podem alterar eficácia e segurança de fármacos — o exemplo mais conhecido é a mutação ABCB1/MDR1 em cães pastores. A farmacogenômica permite ajustar doses, evitar medicamentos de risco e selecionar alternativas seguras, reduzindo reações adversas (Vaidhya, 2020; Mealey & Burke, 2024).

 

Conclusão:

A medicina personalizada para cães e gatos já integra a prática clínica: biomarcadores, testes genéticos e farmacogenômica são ferramentas complementares que aumentam eficácia, segurança e qualidade de vida. Para avançar, é necessário ampliar bancos genéticos, validar protocolos e educação de tutores e profissionais. Como início, recomenda-se aplicar testes direcionados em casos complexos e registrar seus resultados para fortalecer a evidência clínica local.

Foto da Dra. Alice Sampaio Del Colletto, biomédica e pesquisadora

Sobre a autora

Dra. Alice Sampaio Del Colletto

Doutora em Ciências pela Universidade de São Paulo (USP), biomédica com habilitação em histotecnologia clínica e anatomia. Atua como coordenadora dos cursos de Biomedicina e Medicina Veterinária no Centro Universitário Estácio de Santo André e como Pró Reitora de Pesquisa, Extensão e Internacionalização da mesma instituição. É pesquisadora associada ao Laboratório de Biotecnologia e Bioengenharia Celular e Molecular da UFABC. Suas áreas de atuação envolvem anatomia comparada, histotecnologia, imuno histoquímica, oncologia, biotecnologia e pesquisa translacional em saúde.

 

Referências

  1. Aupperle-Lellbach H. Clinical Use of Molecular Biomarkers in Canine and Feline
  2. Donner J. Genetic prevalence and clinical relevance of canine variants
  3. Vaidhya A. Relevance of pharmacogenetics and pharmacogenomics in veterinary practice
  4. Mealey K.L.; Burke N.S. Identification and clinical significance of pharmacogenetic variants in companion animals
  5. Bannasch D.L.; Famula T.R. Inherited disorders and genetic architecture in the domestic dog
  6. Tesi M.; Tolla L.D. Genomic tools in canine and feline medicine: applications in diagnostics and personalized therapy
  7. Ostrander E.A.; Dreger D.L. Advances in canine genomics: implications for precision veterinary medicine