O diabetes mellitus tipo 2 é uma condição metabólica crônica de alta prevalência, caracterizada por alterações no metabolismo da glicose, inflamação sistêmica, rigidez tissular, disfunção autonômica e perda progressiva da capacidade adaptativa do corpo. Estudos recentes indicam que a variabilidade da frequência cardíaca reduzida, a atividade parassimpática diminuída e a hipervigilância simpática compõem um quadro autonômico disfuncional associado à instabilidade glicêmica e ao agravamento da resistência insulínica. Diante desse cenário, diversas abordagens terapêuticas adjuvantes têm sido investigadas, e o método Kaiut Yoga emerge como uma proposta com lógica metodológica distinta.
Desenvolvido por Francisco Kaiut, o método fundamenta-se na mobilidade articular guiada, neuroplasticidade funcional e reorganização proprioceptiva, sem o uso de técnicas meditativas formais ou metas atléticas. A técnica visa reativar vias neurossensoriais através de estímulos corporais simples, acessíveis e fisiologicamente seguros, focando na reorganização do sistema nervoso central e periférico. A prática se baseia em posições acessíveis e adaptáveis, estrategicamente desenhadas para o desbloqueio articular de regiões-chave como tornozelos, quadris, cintura escapular e coluna vertebral, minimizando padrões musculares compensatórios crônicos. O objetivo principal não é o desempenho, mas a restauração de vias de comunicação neuromuscular que, embora geneticamente preservadas, são frequentemente inativadas pela rigidez funcional da vida cotidiana.
A aplicabilidade do Kaiut Yoga em indivíduos com diabetes mellitus tipo 2, com ênfase na reorganização neurossensorial e nos mecanismos de modulação autonômica, é um ponto central de discussão. A técnica atua sobre o sistema nervoso por meio de vias proprioceptivas e sensório-motoras, promovendo plasticidade neural adaptativa. A partir da integração entre literatura científica e observações clínicas, sugere-se a hipótese de que a prática regular do método pode contribuir para a estabilização de funções fisiológicas envolvidas na regulação metabólica, sem promessas terapêuticas diretas, mas com plausibilidade neurofisiológica observável.
A disfunção autonômica é um marcador fisiopatológico precoce na progressão do diabetes tipo 2, impactando diretamente a variabilidade da frequência cardíaca e a modulação das respostas metabólicas basais, incluindo a regulação glicêmica. A diminuição da variabilidade da frequência cardíaca em indivíduos com síndrome metabólica e diabetes está associada ao declínio da atividade parassimpática e à dominância simpática, evidenciando um estado crônico de estresse fisiológico que compromete a homeostase autonômica. O método Kaiut Yoga, através de estímulos físicos sustentados e adaptados, atua sobre os mecanorreceptores articulares profundos, desencadeando respostas neurossensoriais que modulam o tônus autonômico pela via aferente, promovendo uma ativação funcional do sistema parassimpático.
Um estudo comparativo entre indivíduos com diabetes tipo 2 e praticantes regulares de yoga, utilizando a bateria de testes de Ewing, revelou que diabéticos apresentaram respostas significativamente mais baixas da frequência cardíaca aos testes de ortostase, Valsalva e respiração profunda, indicando disfunção parassimpática. Em contraste, os praticantes de yoga demonstraram respostas mais robustas, refletindo maior atividade parassimpática e menor hiperatividade simpática. Embora este estudo não tenha avaliado especificamente o Kaiut Yoga, ele fornece evidências de que práticas corporais estruturadas podem melhorar a função autonômica e a saúde cardiovascular em pessoas com diabetes tipo 2.
Em suma, o método Kaiut Yoga pode ser considerado um recurso funcional complementar que atua sobre eixos fisiológicos implicados na homeostase metabólica. Sua adaptabilidade e acessibilidade o tornam aplicável mesmo em indivíduos com comprometimento funcional ou histórico de sedentarismo. Embora não constitua um tratamento direto para o diabetes, sua capacidade de promover a reorganização neurossensorial e modular o tônus parassimpático o posiciona como uma estratégia segura, replicável e potencialmente reguladora, especialmente em contextos de baixa funcionalidade física ou presença de comorbidades metabólicas. Futuras investigações, incluindo ensaios clínicos randomizados com indicadores metabólicos objetivos, são necessárias para validar plenamente seus efeitos.
Referência:
KAIUT, R.; RODRIGUES, F. A. A. Kaiut Yoga e Diabetes: movimento consciente para o equilíbrio do corpo e da glicemia. Open Minds International Journal, São Paulo, v. 6, n. 1, p. 257-264, 2025. DOI: https://doi.org/10.47180/omij.v6i1.359.
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