O INCA têm realizado crescentemente estudos dedicados à investigação das células individuais, dentro de um tumor. Esse tipo de estudo fornece uma compreensão mais abrangente sobre como as células do sistema imunológico influenciam no desenvolvimento e na progressão dos tumores, gerando dados que podem contribuir para avanços em tratamentos mais eficazes. Nesse sentido, os pesquisadores do Instituto têm investigado o comportamento das células de defesa do corpo humano, a exemplo dos macrófagos, que atuam como "faxineiros" do nosso organismo, engolindo células mortas e microrganismos invasores, além de coordenar a resposta imunológica. Essa foi uma das principais motivações do estudo Caracterização de estados de células mieloides em resolução de célula única com implicações no desfecho do câncer, publicado na revista Nature Communications, em 07 de julho. A pesquisa coordenada pelo INCA foi realizada em parceria com a Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), a Universidade de São Paulo (USP) e a Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).
Para compreender melhor a ideia do estudo é preciso considerarmos que, no caso do câncer, os macrófagos podem ter um papel duplo. Alguns atacam diretamente as células cancerosas e estimulam a resposta imunológica. Enquanto, outros, podem ser “enganados”; pelo tumor para promover seu crescimento e disseminação, suprimindo a resposta imunológica e ajudando a formar novos vasos sanguíneos para o tumor. “Assim, é fundamental estudar esses comportamentos e identificar e discenir subpopulações de macrófagos, apresentando oportunidades para o desenvolvimento de novas terapias. Para isso, temos trabalhado com metodologias inovadoras como o sequenciamento de células únicas integrada à bioinformática”, explica Mariana Boroni, coordenadora do estudo e líder do Laboratório de Bioinformática do INCA.
A pesquisa investigou como as células imunes derivadas de mieloides (tecido responsável pelo surgimento das células sanguíneas) – com foco em macrófagos associadas a tumores – impactam o prognóstico e a resposta ao tratamento de pacientes com câncer, devido à sua capacidade de adaptação e de mudança de comportamento. “Fomos capazes de identificar e caracterizar os principais tipos de macrófagos que podem ser encontrados em tumores sólidos, e como essas subpopulações específicas afetam o curso da doença.”, explica Gabriela Raposo, doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Oncologia do INCA (PPGO) e primeira autora do estudo, com mestrado nota 10 pela Faperj.
Para realizar a pesquisa, a equipe analisou dados de 392.204 células, provenientes de treze conjuntos de dados públicos, abrangendo sete tipos de tumores sólidos. A equipe trabalhou durante quatro anos, de forma integrada. O principal objetivo foi o de mapear em alta resolução os diferentes tipos de células imunes derivadas de mieloides, em especial os macrófagos, que podem ser encontrados no microambiente tumoral. “Em linhas gerais, os resultados mostram que existem populações específicas que estão associadas à progressão tumoral, e que estão muito presentes nos tumores de alta malignidade como o de mama triplo negativo e de ovário”, complementa Gabriela.
Assim, segundo as pesquisadoras, um dos avanços mais significativos deste estudo é o fato de que ele permite identificar populações específicas de macrófagos, e seus respectivos biomarcadores, que estão associados a um prognóstico desfavorável em câncer. “A identificação dessas populações de macrófagos possibilita o desenvolvimento de biomarcadores voltados para medicina de precisão, assim como abre possibilidades para o desenho de novas imunoterapias para o tratamento de tumores sólidos”, acrescenta Mariana. Esse tipo de estudo é fundamental para o avanço na pesquisa em câncer e mostra como a bioinformática, integrada aos demais campos, tem contribuído nessa direção.