A psicopatia é um transtorno de personalidade significativamente associado a crimes e reincidência, gerando custos sociais e financeiros substanciais. Duas décadas de estudos de neuroimagem têm buscado especificar os correlatos neurobiológicos da psicopatia. A amígdala e o córtex pré-frontal ventromedial (vmPFC) têm sido o foco principal da literatura, com teorias predominantes sugerindo hipoatividade nessas regiões. No entanto, uma compreensão clara e abrangente dos correlatos neurais da psicopatia ainda está em desenvolvimento.
Uma meta-análise de 25 estudos de ressonância magnética funcional (fMRI), que utilizou a Análise de Densidade de Kernel Multilevel (MKDA), identificou achados consistentes sobre a atividade cerebral na psicopatia. Ao contrário das teorias predominantes de hipoatividade da amígdala, a análise revelou que a psicopatia está associada a um aumento da atividade cerebral em diversas regiões. Foram observadas associações positivas com a atividade cerebral no córtex dorsomedial pré-frontal (dmPFC), no cíngulo posterior (PCC) e no precuneus, áreas que se sobrepõem à rede de modo padrão (DMN). Além disso, a psicopatia foi positivamente correlacionada com a atividade no lobo temporal medial, que inclui a amígdala, o hipocampo e o giro para-hipocampal.
Em contraste, a meta-análise encontrou uma relação negativa entre a psicopatia e a atividade em uma região do córtex cingulado anterior dorsal (ACC), que se sobrepõe à rede de saliência (SN). A rede de saliência é crucial para a detecção de estímulos externos e para alternar entre a DMN (envolvida no processamento autorreferencial) e a rede frontoparietal (FPN), que se ativa em tarefas focadas externamente. Uma interpretação desses achados sugere que a hipoatividade no ACC dorsal, um nó-chave da SN, pode levar a uma falha na desativação da DMN, resultando em uma competição por recursos de atenção e déficits no desempenho em tarefas externas.
Os resultados deste estudo desafiam as teorias existentes que sugerem hipoatividade da amígdala como um déficit neural central na psicopatia. Em vez disso, a meta-análise aponta para um papel potencial da hiperatividade em regiões da DMN e hipoatividade na SN. A discrepância com estudos anteriores, que frequentemente utilizavam análises de região de interesse (ROI) e métodos meta-analíticos diferentes, destaca a complexidade da função da amígdala na psicopatia, que pode variar por subnúcleo ou contexto. Futuras pesquisas, utilizando métodos mais avançados como a meta-análise baseada em imagens, são necessárias para obter uma compreensão mais completa da neurobiologia da psicopatia.
Referência:
DEMING, P.; KOENIGS, M. Functional neural correlates of psychopathy: a meta-analysis of MRI data. Translational Psychiatry, v. 10, n. 133, p. 1-8, 2020.
Centro de Pesquisa e Análises Heráclito
Neurociência / Biologia / Psicologia / Psicanálise / Genômica
Tel.: +351 939 895 955 / +55 21 999 989 695
contato@cpah.com.br


