Por: Dr. Fabiano de Abreu Agrela Rodrigues, pós-PhD em Neurociências, presidente da ISI Society e coordenador da Intertel Brasil
A avaliação do quociente de inteligência (QI) tem ganhado destaque em diversas sociedades ao redor do mundo, criando cenários onde uma parte significativa da população tem conhecimento de suas próprias pontuações de QI. Países como Estados Unidos, Israel, Coreia do Sul, Singapura e Reino Unido lideram essa prática, enquanto nações como Suécia, Rússia, Alemanha e China também adotam métodos consistentes de avaliação cognitiva, especialmente em contextos educacionais e militares.
Esse fenômeno é impulsionado por políticas públicas e culturais que buscam identificar precocemente indivíduos com potencial intelectual elevado. Nos Estados Unidos, por exemplo, testes como o SAT (Scholastic Assessment Test) e o ACT (American College Testing) são amplamente aplicados em processos seletivos para universidades, oferecendo, indiretamente, uma estimativa das habilidades cognitivas da juventude americana. Em Israel, todos os recrutas militares passam por avaliações cognitivas obrigatórias, uma prática que também foi adotada pela Suécia até 2010. Na Coreia do Sul e em Singapura, a competitividade acadêmica reforça o uso de testes padronizados, ampliando a conscientização sobre o QI nessas sociedades. Já o Reino Unido, além de ser o berço da Mensa, destaca-se pela aplicação de testes psicométricos tanto em instituições educacionais quanto no setor corporativo.
Os Estados Unidos, em particular, possuem uma forte tradição em sociedades de alto QI, refletindo uma cultura voltada à valorização da inteligência excepcional. A Triple Nine Society, fundada em 1978, reúne indivíduos com QI acima de 146. A Intertel, criada em 1966, é destinada a pessoas no percentil 99 de inteligência, com pontuações mínimas de 135. As sociedades ISI e IIS, que fundei, complementam esse cenário ao aceitar membros com QI superiores a 148 e 140, respectivamente, destacando-se pelo reconhecimento de feitos criativos e pela inclusão de crianças a partir de seis anos.
Embora muitas figuras ilustres, incluindo acadêmicos, empresários e personalidades públicas, conheçam suas pontuações de QI, nem sempre essa informação é divulgada. A decisão de manter essa medida em sigilo muitas vezes visa evitar julgamentos ou rótulos associados à inteligência.
Os testes utilizados para medir habilidades cognitivas ao redor do mundo incluem, além do SAT e ACT nos Estados Unidos, o GAT (General Ability Test) na Coreia do Sul, o Gaokao na China, o Matrigma na Suécia, o 11-Plus no Reino Unido e o Wonderlic em contextos corporativos globais. Cada um desses testes possui objetivos e métodos específicos, com escalas de pontuação que podem variar consideravelmente. Por exemplo, o SAT apresenta uma faixa de 200 a 1600 pontos, enquanto o Gaokao segue uma métrica própria, adaptada ao sistema educacional chinês.
A principal diferença entre esses testes padronizados e os testes tradicionais de QI, como o WAIS (Wechsler Adult Intelligence Scale), WISC (Wechsler Intelligence Scale for Children), Cattell e Binet, está no foco da avaliação. Os testes clássicos abrangem uma gama mais ampla de habilidades cognitivas, incluindo memória de trabalho, raciocínio verbal, compreensão espacial e velocidade de processamento. Em contrapartida, avaliações acadêmicas como o SAT e o ACT priorizam habilidades escolares e raciocínio lógico, oferecendo uma visão mais restrita da inteligência global.
Entre todos os métodos, o WAIS e o WISC permanecem como os mais confiáveis e amplamente aceitos pela comunidade científica para a mensuração precisa do QI. Embora alguns estudos sugiram uma possível correspondência entre uma pontuação perfeita no SAT (1600 pontos) e um QI entre 145 e 155 no WAIS, essa equivalência não é exata, já que o SAT não foi desenvolvido como um teste de inteligência pura.
Um desafio adicional na comparação de pontuações de QI entre diferentes países é a influência de fatores culturais e linguísticos. Uma pessoa que obtém uma alta pontuação em um teste nos Estados Unidos pode não alcançar o mesmo resultado na Alemanha, devido a diferenças nos formatos dos testes e nas referências culturais envolvidas. Isso ressalta a importância de considerar o contexto ao interpretar esses resultados.
A ciência atual reconhece a inteligência como um construto complexo e multifacetado, o que exige uma análise cuidadosa das pontuações de QI. Testes padronizados oferecem uma perspectiva limitada, enquanto avaliações mais completas, como o WAIS, abordam dimensões adicionais, incluindo inteligência emocional, social e criativa. Para estabelecer comparações justas e fidedignas, todos os indivíduos deveriam ser submetidos ao mesmo teste, preferencialmente o WAIS, que proporciona uma base sólida para avaliações consistentes e culturalmente imparciais.
Portanto, a padronização dos testes é fundamental para assegurar uma análise justa das habilidades cognitivas, especialmente em um mundo tão diverso quanto o nosso. Somente ao aplicar o mesmo método de avaliação para todos os indivíduos é possível garantir a equidade nas comparações e o valor científico das conclusões obtidas.