Compreendendo o Transtorno do Espectro Autista ao Longo da Vida: Desafios, Resultados e Necessidades Futuras

O Transtorno do Espectro Autista (TEA) é uma condição neurodesenvolvimental complexa que afeta indivíduos em todo o mundo por toda a vida. Desde a primeira descrição da condição por Dr. Leo Kanner em 1943, houve avanços consideráveis na compreensão, identificação e tratamento do autismo. A perspectiva de ciclo de vida é crucial para entender como as necessidades dos indivíduos autistas evoluem em diferentes estágios e como podem ser apoiadas de forma eficaz. A manifestação do autismo varia amplamente entre os indivíduos e ao longo do tempo, influenciada por fatores como idade, raça, gênero e condições coexistentes.

O diagnóstico do autismo é feito com base em sintomas clinicamente significativos em duas áreas principais: desafios na comunicação social e comportamentos restritos e repetitivos (CRRs). Esses desafios devem ter se manifestado no início do desenvolvimento, embora alguns sintomas possam não se tornar evidentes até que as exigências sociais superem as capacidades limitadas do indivíduo. A identificação precoce do autismo é fundamental, pois permite o acesso a intervenções especializadas que podem melhorar significativamente os resultados de desenvolvimento. No entanto, barreiras sistêmicas, como a falta de especialistas e listas de espera longas, afetam desproporcionalmente minorias raciais e indivíduos de áreas rurais ou de baixa e média renda. Além disso, a subnotificação em mulheres, especialmente aquelas com habilidades cognitivas elevadas, é uma preocupação, e é atribuída à sua capacidade de “camuflar” os sintomas.

As comorbidades são comuns no autismo. Globalmente, cerca de 33% das pessoas autistas têm deficiência intelectual (DI), embora as estimativas variem de 30% a 70%. O autismo também coexiste com altas taxas de TDAH, ansiedade e depressão. Estudos longitudinais, que acompanham os indivíduos ao longo de grandes períodos de tempo, são essenciais para entender as trajetórias do autismo e prever resultados. Embora a previsão dos resultados na infância precoce seja difícil, é possível fazer estimativas razoavelmente precisas dos níveis cognitivos e de linguagem a partir dos 5 anos de idade. A deficiência intelectual, por exemplo, está associada a trajetórias de declínio mais lento em comportamentos problemáticos ao longo do tempo, e um QI mais elevado pode estar associado a maiores níveis de ansiedade e depressão na adolescência e vida adulta.

As terapias e intervenções para o autismo não são de tamanho único e devem ser adaptadas às necessidades individuais e familiares. Intervenções mediadas pelos pais e o Discrete Trial Training (DTT) são os tratamentos mais estudados para crianças. Para adolescentes, a Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC) adaptada e grupos de habilidades sociais mostram resultados promissores. Na idade adulta, muitos enfrentam um “precipício de serviços”, caracterizado pela perda abrupta de apoio após saírem do sistema escolar.

A transição para a idade adulta é marcada por desafios significativos, com muitos adultos autistas enfrentando piores resultados em diversas áreas, como saúde mental, emprego e isolamento social, em comparação com os adultos neurotípicos. As taxas de desemprego são mais altas, e os autistas empregados frequentemente ocupam posições abaixo de sua qualificação e com salários menores. A maioria relata maior solidão, apesar do desejo de ter conexões sociais. A pesquisa sobre adultos autistas de meia-idade e idosos é particularmente escassa, o que destaca a necessidade urgente de incluir essa população em estudos para entender suas necessidades de apoio em longo prazo.


Referência:

Tafolla, M., Singer, H., & Lord, C. (2025). Autism Spectrum Disorder Across the Lifespan. Annual Review of Clinical Psychology, 21, 193–220. https://doi.org/10.1146/annurev-clinpsy-081423-031110

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