Atletas Olímpicos Vivem Mais? O Que a Ciência Diz Sobre Performance e Longevidade

Por: Dra. Elodia Ávila — Médica Cirurgiã Plástica | Especialista em Longevidade

Durante muito tempo, associamos o alto desempenho físico à longevidade. Afinal, corpos treinados, hábitos regrados e acompanhamento constante dariam, em tese, uma vantagem biológica significativa. Mas até que ponto isso é verdade? E mais: será que existe um “custo” oculto da performance esportiva no tempo de vida?

Um estudo robusto publicado no periódico Ageing Research Reviews se debruçou justamente sobre essa questão: será que atletas olímpicos, que atingiram níveis extremos de performance, vivem mais?

O estudo

A pesquisa analisou 8.152 atletas olímpicos — homens e mulheres — que competiram entre os anos de 1896 e 1936. Um banco de dados extenso, com décadas de observação, permitiu aos autores compararem a expectativa de vida desses atletas com a população geral, e entre si.

A pergunta-chave era: o nível de performance esportiva está associado diretamente à longevidade?

Os achados

Sim, mas com ressalvas. De modo geral, os atletas de elite viveram mais do que a média populacional. Aqueles com maior sucesso esportivo — especialmente os que ganharam medalhas ou participaram de múltiplas Olimpíadas — tiveram uma vantagem média de 2 a 3 anos a mais de vida.

No entanto, a relação não é linear. A pesquisa demonstrou que essa vantagem não cresce indefinidamente. Ou seja, não há proporcionalidade direta entre maior performance e maior longevidade. Em outras palavras: há um “ponto ótimo” onde o ganho existe, mas a partir do qual ele se estabiliza — ou até pode regredir.

A “lei do equilíbrio biológico”

Esse resultado corrobora o que venho observando na prática clínica com meus pacientes: longevidade não é um sprint, mas uma maratona com pausas. O organismo responde positivamente ao estímulo físico, mas também exige recuperação, nutrição adequada e controle de estresse oxidativo e inflamatório. Treinar ao extremo pode levar a desgastes articulares, distúrbios hormonais e estresse crônico.

A performance atlética, principalmente em modalidades de alta intensidade, pode vir acompanhada de um custo metabólico elevado. Isso envolve alterações em eixos hormonais (como o eixo HPA), supressão imunológica crônica e, em alguns casos, desgaste de estruturas cerebrais envolvidas na regulação do ritmo circadiano e da homeostase inflamatória.

Implicações para todos nós

Este estudo amplia a compreensão pública sobre o que realmente importa para viver mais e melhor. Não precisamos ser atletas olímpicos para alcançarmos longevidade de qualidade. O segredo está no equilíbrio: movimento regular, alimentação anti-inflamatória, sono profundo, saúde emocional e exames preventivos.

É possível inspirar-se nos atletas — especialmente em sua disciplina e constância —, sem cair na armadilha de achar que “quanto mais intenso, melhor”. A longevidade é mais amiga do equilíbrio do que do excesso.

Como médica, tenho repetido a mesma fórmula aos meus pacientes: mova-se como um atleta, descanse como um monge, alimente-se como um centenário. E viva com propósito.

Referência

Saulière, G., Berthelot, G., Marck, A., Antero, J., Cittanova, M.-L., Dor, F., Billat, V., Marck, A., & Toussaint, J.-F. (2024). Longevity of elite athletes: Is there a trade-off between sport performance and life expectancy? Ageing Research Reviews, 91, 101949. [https://doi.org/10.1016/j.arr.2024.101949](https://doi.org/10.1016/j.arr.2024.101949)