SOROPREVALÊNCIA DE HEPATITE B EM CRIANÇAS: UMA REVISÃO INTEGRATIVA
Aline Borges Cardoso1, Brenda Bulsara Costa Evangelista2, Ranieri Flávio Viana de Sousa3,
Elaine Ferreira do Nascimento4, Camilla Soares Sobreira5, Lívia Mello Villar6
RESUMO
INTRODUÇÃO: A infecção pelo HBV é a décima principal causa de morte em todo o mundo, sendo a maioria das infecções mais frequentes em crianças das áreas endêmicas. As chances de adquirir a forma crônica são variáveis conforme a faixa etária. OBJETIVO: discutir, com base na literatura, sobre a prevalência de Hepatite B em crianças no mundo. METODOLOGIA: A presente pesquisa trata-se de uma revisão integrativa, realizada durante os meses de novembro e dezembro de 2018 na base de dados Pubmed, através dos descritores: “Prevalence”, “Hepatitis B”, “child”. Foram utilizados os filtros: artigos publicados nos anos 2014 a 2019, disponíveis, de forma gratuita, nos idiomas inglês e português e em crianças de até 18 anos. Em seguida, aplicados os critérios de inclusão e exclusão. Os trabalhos selecionados foram averiguados conforme as informações contidas nos resumos e na leitura íntegra de cada um. RESULTADOS: Foi selecionado um total de 15 artigos. Estes foram inseridos em uma tabela (Tabela 1) a fim de compará-los. As principais informações foram anexadas no quadro como: Titulo do da pesquisa, autor, ano, periódico, objetivo e resultados em relação a presença do marcador pesquisado. DISCUSSÃO: Muitos dos estudos sobre Hepatite B ainda concentram-se em grupos específicos e por isso, não existindo um inquérito global preciso, embora as pesquisas realizadas nos últimos anos divida o mundo em diferentes faixas de prevalências. A idade em que é adquirida é um dos principais fatores que influencia nas variações da infecção. O HBV ainda é o maior causador de morte por câncer hepático, assim, existe a necessidade de mais estudos para a detecção do vírus. CONCLUSÃO: Este estudo descreve a epidemiologia e variação de prevalências de infecção por HBV em algumas regiões do mundo. Esse tipo de pesquisa é imprescindível para estimar a situação atual de hepatite B, e para avaliar o impacto das políticas de imunização.
Palavras-chave: Crianças, Hepatite B, Soroprevalência, Epidemiologia.
ABSTRACT
INTRODUCTION: HBV infection is the tenth leading cause of death worldwide, and most infections are more common in children in endemic areas. The chances of acquiring the chronic form vary according to age group. OBJECTIVE: To discuss, based on the literature, the prevalence of hepatitis B in children worldwide. METHODOLOGY: This research is an integrative review, conducted in November and December 2018 in the Pubmed database, using the keywords: “Prevalence”, “Hepatitis B”, “Child”. We use the filters: articles published from 2014 to 2019, available for free in the English and Portuguese languages and in children under 18 years. It then applied the inclusion and exclusion criteria. The selected works were verified according to the information contained in the abstracts and the complete reading of each one. RESULTS: We selected 15 articles. These were entered into a table (Table 1) to compare them. The main information was attached in the table as: Research title, author, year, journal, objective and results regarding the presence of the researched marker. DISCUSSION: Many of the hepatitis B studies still focus on specific groups, so there is no precise global research, although research in recent years has divided the world into different prevalence ranges. The age at which it is acquired is one of the main factors that influence the variations of the infection. HBV is still the leading cause of death from liver cancer, so more studies are needed to detect the virus. CONCLUSION: This study describes the epidemiology and prevalence of HBV infection in some regions of the world. This type of research is essential for estimating the current status of hepatitis B and assessing the impact of immunization policies.
Key words: Child, Hepatitis B, Seroepidemiologic Studies,Epidemiology.
INTRODUÇÃO
São reconhecidos cinco vírus causadores de Hepatites. Hepatite A, B, C, D, E. Devido à diversidade etiológica das hepatites virais, sua transmissão ocorre de diferentes maneiras, sendo que sua prevalência e incidência variam de acordo com alguns fatores importantes: Região geográfica, variáveis socioeconômicas, do próprio agente etiológico e de sua relação com o hospedeiro (VIANA, et al 2017).
O HBV pertence família Hepadnaviridae, gênero Orthohepadnavirus. Apresenta genoma de DNA, parcialmente de fita dupla (ICTV, 1984) e é mais infeccioso que o HIV (SHAO, et al 2018). Para seu diagnóstico sorológico, amostras de soro são submetidas a testes imunoenzimáticos para detecção de antígenos e anticorpos, onde o HBsAg indica infecção presente, o anti-HBc infecção prévia, HBeAg infecção aguda e anti-HBs imunidade (VILLAR, et al 2015). As principais vias de transmissão são: a via sexual, parenteral, via vertical (de mãe para filho), responsável por mais de um terço das infecções crônicas (PAUL, et al 2018).
A infecção pelo HBV é a décima principal causa de morte em todo o mundo (WANG, et al 2018). A maioria das infecções ocorre nas crianças em áreas endêmicas (SHEDAIN, et al 2017). As chances de adquirir a forma crônica são variáveis conforme a faixa etária. Por exemplo, na fase adulta a probabilidade é cerca de 5%, todavia, em bebês chega a 30%. Com isso, para a prevenção e controle, a Organização Mundial de Saúde recomenda desde 1992, a imunização infantil (PAUL, et al 2018). Uma dose deve ser administrada dentro de 24 horas após o nascimento e doses posteriores aos dois e dez meses de idade (PATEL, et al 2016). Através da implementação generalizada da vacina nos últimos anos, a prevalência da infecção crônica reduziu entre os grupos de faixas etárias mais jovens. Estes dados podem ser observados nas regiões da América do Norte e Europa Ocidental. Por outro lado, em muitos países a infecção permanece endêmica, principalmente nos subsaarianos, atingindo prevalências de até 8% entre crianças e jovens de 0 a 19 anos (GOUNDER, et al 2016). Essas detecções são importantes, pois trazem a possibilidade de monitorar a eficiência do programa de vacinação contra o vírus em curto prazo (IKOBAH, et al 2016).
Em face do exposto, este estudo objetiva discutir, com base na literatura, sobre a prevalência de Hepatite B em crianças no mundo.
METODOLOGIA
A presente pesquisa trata-se de uma revisão integrativa com a temática: “Prevalência de Hepatite B em crianças no mundo”. Conceitua-se como um tipo de pesquisa que possui uma abordagem metodológica ampla, pois analisa a literatura disponível de forma abrangente e discute sobre metodologias e resultados de outros trabalhos científicos sob a ótica de diversos autores. Assim, seu principal foco é o entendimento e a compreensão de uma determinada temática baseando-se em estudos publicados anteriormente.
A pesquisa bibliográfica foi realizada durante os meses de novembro e dezembro de 2018 na base de dados Pubmed, através dos descritores: “Prevalence”, “Hepatitis B”, “child” com o emprego conjunto do operador booleano “and” entre cada descritor, a fim de, obter uma maior quantidade de publicações acerca do tema. Ao realizar a busca com os descritores foram identificados um total de 5166 artigos e em seguida, utilizados os seguintes filtros: artigos publicados nos anos 2014 a 2019, disponíveis, de forma gratuita, nos idiomas inglês e português e em crianças de até 18 anos.
Como critérios de inclusão foram adotados os artigos que abordavam como assunto principal: Prevalência de Hepatite B, risco de infecção e os marcadores sorológicos HbsAg, HBeAg e Anti-Hbc. Os critérios de exclusão aplicados foram: artigos que tratam apenas sobre cobertura vacinal, efetividade de vacina contra Hepatite B, trabalhos que abordassem diferentes infecções e co-infecções. Os trabalhos selecionados foram averiguados conforme as informações contidas nos resumos e na leitura íntegra de cada um. Com isso, foi realizada a extração dos principais dados que continham informações relevantes para análise referente à temática do estudo.
RESULTADOS
Após a metodologia aplicada (fluxograma 1), foi selecionado um total de 15 artigos. Estes foram inseridos em uma tabela (Tabela 1) a fim de compará-los. As principais informações foram anexadas no quadro.
DISCUSSÃO
Este foi o primeiro estudo a reunir dados de diversos países quanto a infecção por Hepatite B em crianças. Este trabalho demonstra grande variação da presença do HBV ao redor do mundo. Os resultados foram avaliados conforme a presença dos marcadores HBsAg, anti-HBc e HBeAg. A prevalência do marcador HbsAg pode classificar-se em: baixa (<2%), intermediária(2-7%) e alta endemicidade (> 8%) (SANT’ANNA, 2016). A maioria dos países concentra-se nos menores índices de prevalência, aproximando-se cada vez mais de uma das metas do Objetivo de desenvolvimento sustentável, que consiste em combater as hepatites até o ano de 2030, reduzindo a mortalidade infantil em 12-25 por 1.000 nascidos vivos (Agenda 2030). Dentre estas regiões pode-se destacar a China (0,2%-1,16%) (SHISHEN, et al 2018, ), Egito(0,04%) (SALAMA, et al 2017), Bangladesh(0,05%) (PAUL, et al 2018), Coreia do Sul (0,09%) (LEE, et al 2017), Polinésia (0,9%)(PEZZOLI, et al 2017) e Polinésia Francesa(0%)( PATEL, et al 2016). Esses achados apontam para o sucesso que os programas vacinais têm alcançado ao redor do mundo, através do cumprimento rigoroso que estas nações têm seguido do esquema vacinal. É importante enfatizar, que para uma soroproteção eficaz, é necessário a administração das 3 doses, não importando os níveis de prevalências; e a pontualidade na imunização dos recém-nascidos, uma vez que a proteção dos bebês o mais cedo possível, causa impacto significativo no ciclo de transmissão do vírus (PAUL, et al 2018). A prevalência encontrada no Brasil (0,02%) (CIACCIA, et al 2014), pode indicar outro fator determinante nesse baixo índice, a faixa etária. Grande parte dos estudos realizados neste país mostra que a maioria dos casos positivos foram entre as idades de 20-40 anos (ANASTACIO, et al 2008). A Nigéria chama atenção quanto ao resultado encontrado de 1,2% (IKOBAH, et al 2016), pois tem divergido da maioria dos trabalhos realizados neste local, que geralmente enquadram-se dentro das faixas de intermediário a altos índices. Por exemplo, em 2003 CHUKWUKA et al encontraram uma prevalência de 7,6% de HbsAg em crianças de 5 a 12 anos de idade. Posteriormente, em 2009, UGWUJA et al no sudeste da Nigéria estimaram uma positividade de 4,1% na faixa etária adolescente. Estes achados podem estar indicando sucesso no controle do HBV ou podem estar relacionados a diferentes tamanhos amostrais ou a distintos métodos de triagem para análise laboratorial entre os estudos (IKOBAH, et al 2016).
A África lidera em termos de prevalência (gráfico 1).Os achados encontrados neste trabalho assemelha-se a maioria dos estudos feitos nessas regiões, devido sua característica endêmica. É discutível se fatores culturais, sociais, econômicos, genéticos, populacionais, geográficos ou históricos possam ter alguma influência na positividade encontrada (NUNES, et al 2004). Contudo, localizar precisamente as causas da transmissão em países subdesenvolvidos é um desafio, pois a infecção não está relacionada apenas aos comportamentos de risco (uso de drogas, múltiplos parceiros, homossexuais masculinos, hemodialisados), como observado nos países desenvolvidos. Assim, diversos fatores podem influenciar na cadeia de transmissão do HBV, por exemplo, os portadores crônicos infectantes, a multiplicidade de formas de exposição ao vírus, infectados assintomáticos (ASSIS, et al 2004), dificuldades de acesso a saúde, falta de informação, recursos limitados, incompletude vacinal e os desafios logísticos colocados pela alta taxa de nascimentos domiciliares (PAUL, et al 2018). A maioria dos estudos sobre Hepatite B ainda concentram-se em grupos específicos e por isso, ainda não existe um inquérito global preciso, embora as pesquisas realizadas nos últimos anos divida o mundo em diferentes faixas de prevalências. A idade em que é adquirida é um dos principais fatores que influencia nas variações da infecção. O HBV ainda é o maior causador de morte por câncer hepático, assim, existe a necessidade de mais estudos para a detecção do vírus, principalmente, em crianças e jovens, uma vez que, as chances de avanço para a cronicidade são maiores (MATOS, 2007).
CONCLUSÃO
Este estudo descreve a epidemiologia e variação de prevalências de infecção por HBV em algumas regiões do mundo. Esse tipo de pesquisa é imprescindível para estimar a situação atual de hepatite B, e para avaliar o impacto das políticas de imunização. Ainda existem locais que precisam de atenção e estratégias de controle da infecção, mas com aplicação de medidas eficazes de soroproteção e educação em saúde pública, o controle do HBV será eficazmente alcançado.
REFERÊNCIAS
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