Ablação por radiofrequência moderniza o tratamento e o cuidado com a próstata

Por Dr. Harley de Nicola

A medicina moderna avança continuamente em busca de técnicas menos invasivas, mais seguras e eficazes, capazes de reduzir a dor, o tempo de recuperação e o impacto dos tratamentos sobre a qualidade de vida dos pacientes. Dentro desse cenário, a ablação por radiofrequência da próstata guiada por ultrassom desponta como uma inovação que está transformando o manejo da hiperplasia prostática benigna (HPB) e, em alguns casos selecionados, do câncer de próstata.

Trata-se de um procedimento minimamente invasivo que utiliza ondas de radiofrequência para gerar calor e eliminar as células doentes da próstata, preservando o tecido saudável. O objetivo é tratar a área afetada sem comprometer as funções urinária e sexual, o que representa um grande avanço em relação às cirurgias convencionais, frequentemente associadas à incontinência urinária ou à disfunção erétil.

A técnica é realizada por via transperineal, ou seja, o médico introduz agulhas finas através da pele do períneo, região localizada entre o ânus e o escroto, até a próstata. Com o auxílio de imagens de ultrassom em tempo real, é possível visualizar a glândula e direcionar com precisão a área a ser tratada, garantindo segurança e controle durante todo o processo. O paciente recebe anestesia local e, em muitos casos, sedação leve. O procedimento é ambulatorial, e a alta ocorre poucas horas depois, sem necessidade de internação prolongada.

Um estudo conduzido por renomados especialistas, entre eles Denis Szejnfeld e Vinicius Adami Vayego Fornazari, profissionais com quem tenho a satisfação de atuar em parceria na Fundação Instituto de Pesquisa e Estudo de Diagnóstico por Imagem (FIDI), avaliou a viabilidade, segurança e eficácia da ablação térmica transperineal da próstata (TPTA) em pacientes com HPB que não obtiveram resposta satisfatória a tratamentos convencionais. Foram incluídos 25 pacientes com idade média de 69,4 anos, tratados em ambiente ambulatorial.

Os resultados observados após três meses foram expressivos, houve redução de 79,1% dos sintomas urinários, diminuição de 36,9% no volume prostático e queda de 54,7% nos níveis de PSA. Além disso, 96% dos pacientes puderam interromper o uso de medicamentos para o tratamento da HPB, confirmando a eficácia e a segurança da técnica. O estudo reforçou que a ablação térmica transperineal guiada por ultrassom é uma alternativa promissora, capaz de substituir procedimentos cirúrgicos mais invasivos com menores riscos e rápida recuperação.

Entre as principais vantagens estão a ausência de cortes, a preservação do tecido saudável, a recuperação rápida e o baixo risco de complicações como disfunção erétil e incontinência. Por ser um tratamento focal, a ablação atua apenas na área doente, o que contribui para resultados funcionais superiores e para a manutenção da qualidade de vida.

Como todo procedimento médico, a ablação pode apresentar alguns efeitos leves e transitórios, como ardor ao urinar, leve inchaço perineal ou desconforto local, que tendem a desaparecer nos primeiros dias. A indicação do tratamento depende do tamanho, bem como das características da doença. O acompanhamento médico é essencial, com monitoramento periódico por exames de imagem e dosagem de PSA.

Além do tratamento da HPB, a ablação por radiofrequência tem sido estudada como terapia focal para casos selecionados de câncer de próstata. Estudos internacionais apontam resultados encorajadores em termos de controle da doença e preservação funcional. Essa abordagem abre novas perspectivas para homens que buscam opções menos invasivas e com menor impacto no cotidiano.

A ablação por radiofrequência guiada por ultrassom representa, portanto, um avanço importante na medicina intervencionista. Segura, eficaz e minimamente invasiva, ela reflete uma mudança de paradigma no cuidado urológico, oferecendo aos pacientes a possibilidade de tratamento eficiente, com rápida recuperação e manutenção da qualidade de vida.

*Dr. Harley de Nicola é médico radiologista intervencionista, professor doutor do Departamento de Radiologia da Unifesp – Escola Paulista de Medicina, e Superintendente Médico da FIDI – Fundação Instituto de Pesquisa e Estudo de Diagnóstico por Imagem, instituição filantrópica de saúde que realiza mais de 5 milhões de exames por imagem anualmente no Brasil.

Referências:

Zhang Y. et al. Ultrasound-guided Transperineal Prostate Thermal Ablation (TPTA) for Benign Prostatic Hyperplasia, Feasibility of an Outpatient Procedure Using Radiofrequency Ablation. ResearchGate, 2024.

2.Wang L. et al. Current Perspectives on Focal Therapy for Prostate Cancer, Role of Radiofrequency and Thermal Ablation. Asian Journal of Urology, 2025.

Lee S. et al. Transperineal Radiofrequency Ablation in Localized Prostate Disease, Safety and Early Functional Outcomes. Urology Case Reports, 2025.

PubMed ID 39789257. Minimally Invasive Prostate Ablation Techniques, Evidence Review and Clinical Guidelines Update 2025.

ScienceDirect. Advances in Image-Guided Thermal Ablation for Prostate Disease, 2025.

Nunes, T. F., Rocha, R. D., Ilgenfritz, B. R. W., Stefanini, F. S., Fornazari, V. A. V., Mariotti, G. C., Viana, P. C. C., Garcia, R. G., de Castro, H. A. S., Szejnfeld, D. Prostatic Hyperplasia, Feasibility of an Outpatient Procedure Using Radiofrequency Ablation. Cardiovasc Intervent Radiol, 2025.


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