O câncer de próstata é um dos tumores mais comuns entre os homens. Tradicionalmente, o diagnóstico dependia basicamente da dosagem do PSA, exame físico e, quando indicado, biópsia sistemática guiada por ultrassom. Porém, esse caminho carregava limitações: sobrediagnóstico de tumores de baixo risco, risco de complicações e dificuldade em localizar lesões em áreas mais difíceis da próstata.
Com o advento da ressonância magnética multiparamétrica (mpMRI) da próstata, a radiologia ganhou uma ferramenta poderosa. A mpMRI combina sequências anatômicas (T2) e funcionais (difusão e perfusão), permitindo identificar áreas suspeitas com maior acurácia.
Esse avanço significa que nem toda próstata suspeita precisa ser biopsiada imediatamente e de forma sistemática. É possível reduzir biópsias desnecessárias e focar recursos e riscos onde realmente importam.
Esta imagem é de um paciente que faz vigilância para câncer de próstata há cerca de 4 anos. A lesão mede 0,6 cm e está estável.

Biópsia guiada por fusão: precisão e menor risco
A mpMRI ganha ainda mais impacto quando combinada com a técnica de biópsia guiada por fusão da ressonância com a ultrassonografia. Nessa abordagem, as imagens da mpMRI são sobrepostas às imagens de ultrassom em tempo real durante a biópsia. Isso permite guiar a agulha com precisão para lesões suspeitas identificadas na mpMRI, em vez de depender de uma biópsia “cega” sistemática.
Estudos mostram que essa combinação aumenta a detecção de câncer clinicamente significante quando comparada à biópsia convencional. Além disso, como são necessários menos fragmentos para identificar uma lesão relevante, há menor risco de complicações, e as chances de detecção de tumores insignificantes, que poderiam levar a tratamentos desnecessários, diminuem.
Uma outra vantagem é que a fusão permite registrar digitalmente os locais exatos de cada punção. Isso facilita a vigilância ativa ou o monitoramento.
A mpMRI e a biópsia guiada por fusão representam hoje o padrão-ouro para a detecção e estratificação do câncer de próstata, principalmente em homens com suspeita de doença clinicamente significante ou com biópsias prévias negativas.
Ressonância Magnética (RM) biparamétrica x multiparamétrica
Há uma tendência recente de simplificação: o uso da chamada ressonância magnética biparamétrica (bpMRI), que é um exame mais rápido e sem a necessidade de administrar o contraste venoso paramagnético. Estudos preliminares indicam que a bpMRI pode não ser inferior à mpMRI na detecção de câncer clinicamente significativo. Se confirmada, essa ação poderá aumentar a acessibilidade, reduzir custos e ampliar a capacidade de diagnóstico, sobretudo em contextos com recursos limitados.
Lições da Martini-Klinik
A Martini-Klinik, instituição especializada exclusivamente em câncer de próstata na Alemanha, adotou o modelo do Value Based Healthcare (VBHC), que busca maximizar o valor para o paciente, propiciando melhores desfechos clínicos e qualidade de vida, com menores custos.
Dentre os pilares de sucesso da Martini-Klinik estão:
- Especialização intensa: cada cirurgião realiza elevado volume de procedimentos, o que melhora os desfechos, reduz complicações e consolida a expertise.
- Cultura de melhoria contínua e transparência: os resultados (incontinência, potência, margens, complicações) são monitorados sistematicamente e comparados entre profissionais, com foco na aprendizagem do grupo.
- Destaque para o que é importante para o paciente: não apenas a sobrevida, mas a qualidade de vida, incluindo a funcionalidade urinária/sexual e o bem-estar psíquico.
Essa visão reforça que diagnóstico de alta precisão, processos seguros, padronização e comunicação clara são centrais para entregar valor. E é exatamente esse movimento que a radiologia moderna precisa abraçar, sobretudo no Brasil, onde o acesso à mpMRI, à biópsia fusionada e à gestão orientada a desfechos ainda é desigual.
A radiologia tem papel central nessa jornada, incluindo reduzir erros, acelerar o diagnóstico, evitar procedimentos desnecessários, apoiar o clínico e guiar o paciente por uma linha de cuidado mais justa, eficiente e humana.
Esse é o tipo de transformação que nos impulsiona, unindo qualidade, segurança e inovação para entregar mais valor em diagnóstico por imagem.
Referências
- Turkbey et al. Comparative role of prostate MRI in active surveillance setting. Radiology. 2024. PMID: 40928788. Disponível em: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/40928788/
- Martini-Klinik. Fusion biopsy. Disponível em: https://www.martini-klinik.de/en/diagnostics/fusion-biopsy
- Beyer B. Martini-Klinik – VBHC implementation. Farmaindustria. 2018. Disponível em: https://www.farmaindustria.es/web/wp-content/uploads/sites/2/2018/10/Presentación_Burkhard_Beyer.pdf
- Vintura. VBHC: beyond egos. Disponível em: https://www.vintura.com/news/vbhc-beyond-egos/
- BVS Saúde. Multiparametric MRI and fusion biopsy in prostate cancer. Disponível em: https://pesquisa.bvsalud.org/portal/resource/pt/wpr-868279
- SciELO Brasil. Revisão sobre o uso de mpMRI na detecção do câncer de próstata. Disponível em: https://www.scielo.br/j/rb/a/KR654tBHqHSx3zZts6fKS6b/
- National Library of Medicine (PMC). Article referenced pelo link fornecido pelo usuário. Disponível em: https://pmc.ncbi.nlm.nih.gov/articles/PMC10999002/

Dra. Aline Morião
Médica radiologista, formada pelo Instituto Nacional de Câncer (INCA) e mestre pela Universidade Federal do Amazonas (UFAM), com foco em saúde da mulher, especialmente em ressonância magnética das mamas e da pelve.
É membro da Comissão de Acreditação em Diagnóstico por Imagem do Colégio Brasileiro de Radiologia (CBR) e Major da Força Aérea Brasileira.
Autora do e-book Guia de Comunicação para Radiologia Baseada em Valor, é palestrante e consultora, com atuação voltada à qualidade, segurança do paciente e humanização no diagnóstico por imagem.


