O Transtorno do Espectro Autista (TEA) é classicamente definido por dificuldades na comunicação social e padrões de comportamento restritos ou repetitivos. No entanto, pesquisas recentes sugerem que as dificuldades no processamento emocional, frequentemente associadas ao TEA, não seriam uma característica central do transtorno, mas sim o resultado da alexitimia, uma condição coexistente. A alexitimia é caracterizada pela dificuldade em reconhecer e distinguir emoções, expressá-las e por uma falta de imaginação, com o pensamento focado em experiências externas em vez de internas.
Uma meta-análise explorou a prevalência e a natureza da alexitimia em pessoas autistas utilizando a Escala de Alexitimia de Toronto (TAS). Os resultados de 15 estudos comparando grupos autistas e neurotípicos (NT) revelaram que os indivíduos autistas obtiveram pontuações significativamente mais altas em todos os domínios da escala. A prevalência de alexitimia foi substancialmente maior no grupo autista (49,93%) em comparação com o grupo neurotípico (4,89%), indicando um risco significativamente elevado de alexitimia em participantes autistas.
Contudo, a alexitimia não é universal no autismo. A prevalência variou entre 33,3% e 63% nos estudos analisados, sugerindo que um subgrupo específico de indivíduos autistas coexiste com a alexitimia. Esta “hipótese da alexitimia” propõe que as dificuldades de processamento emocional no TEA são, na verdade, impulsionadas pela alexitimia, não sendo uma característica intrínseca do autismo. Estudos que controlaram tanto para alexitimia quanto para autismo descobriram que a alexitimia, e não o autismo, é o fator preditivo de dificuldades no reconhecimento de emoções faciais, vocais e musicais.
As implicações clínicas dessa distinção são consideráveis. Indivíduos com autismo e alexitimia concomitantes podem ter necessidades específicas, incluindo uma maior vulnerabilidade a problemas de saúde mental, como ansiedade e depressão. Tendo em vista que a alexitimia está associada a piores resultados em tratamentos psicoterápicos, intervenções direcionadas que ajudem a identificar e comunicar sentimentos, ou exercícios de mindfulness, podem ser particularmente benéficas para esse subgrupo.
A meta-análise também identificou a necessidade de melhorias metodológicas em futuras pesquisas. A Escala de Alexitimia de Toronto (TAS), embora amplamente utilizada, possui limitações, como a falta de itens que avaliem a capacidade de fantasiar. Recomenda-se o uso de medidas adicionais e a consideração de fatores de confusão, como depressão e ansiedade, para obter uma compreensão mais completa da alexitimia no autismo. Além disso, a maioria dos estudos incluídos recrutou indivíduos com autismo de “alto funcionamento”, o que pode limitar a generalização dos resultados para todo o espectro autista. Futuras pesquisas devem focar nas diferenças entre pessoas com TEA e alexitimia versus aquelas com apenas TEA, para melhor identificar e atender às suas necessidades únicas.
Referência:
Kinnaird, E., Stewart, C., & Tchanturia, K. (2019). Investigating alexithymia in autism: A systematic review and meta-analysis. European Psychiatry, 55, 80-89. https://doi.org/10.1016/j.eurpsy.2018.09.004
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