Variações de Gênero e Idade nos Sintomas de TDAH e Comorbidades: Uma Análise Dimensional

O Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) é um dos transtornos do neurodesenvolvimento mais diagnosticados na infância, e estudos atuais indicam que a maioria das crianças com diagnóstico de TDAH continua a apresentar sintomas na vida adulta. Este artigo se propõe a analisar as diferenças de gênero e idade na manifestação dos sintomas de TDAH, bem como a associação desses sintomas com a depressão e a ansiedade em crianças e adolescentes. A avaliação foi realizada de forma dimensional, em vez de categórica, utilizando dados de uma amostra comunitária representativa na Alemanha, proveniente do estudo BELLA.

As análises dimensionais, baseadas em relatórios dos pais, revelaram que os meninos e as crianças mais novas (9-10 anos) apresentam pontuações mais altas em todos os sintomas de TDAH. As meninas, por sua vez, demonstram pontuações significativamente menores do que os meninos em todos os sintomas de TDAH, com um tamanho de efeito pequeno. A idade foi significativamente associada aos sintomas de hiperatividade/impulsividade, que tendem a diminuir com o tempo, mas não houve associação significativa com os sintomas de desatenção.
A pesquisa também confirmou associações positivas e significativas entre os sintomas de TDAH e os sintomas de depressão e ansiedade. O sexo feminino foi positivamente associado a sintomas de depressão e ansiedade, reforçando a noção de que as meninas são mais propensas a apresentar comorbidades internalizantes. A associação entre TDAH e a educação dos pais foi negativa, indicando que quanto maior o nível educacional, menor a probabilidade de a criança apresentar sintomas de TDAH.

A discrepância na prevalência de TDAH entre sexos e idades pode ser explicada por diversos fatores. As meninas, por exemplo, são mais propensas a apresentar sintomas de desatenção, que são menos visíveis e disruptivos, o que pode levar a um subdiagnóstico do transtorno. Além disso, vieses de gênero por parte de pais e professores, que tendem a subnotificar sintomas em meninas e supernotificar em meninos, podem influenciar o processo de diagnóstico. A avaliação dimensional dos sintomas, em vez da abordagem categórica, pode ser uma forma de capturar a diversidade de manifestações do TDAH em crianças e adolescentes não diagnosticados clinicamente.

Em suma, os resultados destacam a necessidade de abordagens de diagnóstico e tratamento mais específicas para cada gênero e idade. A conscientização de pais, professores e profissionais de saúde sobre as manifestações mais sutis do TDAH em meninas, como problemas de organização e concentração, é essencial para garantir que o transtorno não passe despercebido. Futuras pesquisas devem continuar a explorar as intersecções entre o TDAH e comorbidades como a depressão e a ansiedade, a fim de desenvolver intervenções mais eficazes e personalizadas.

Referência:
Gilbert, M., Boecker, M., Reiss, F., Kaman, A., Erhart, M., Schlack, R., Westenhöfer, J., Döpfner, M., & Ravens-Sieberer, U. (2025). Gender and Age Differences in ADHD Symptoms and Co-occurring Depression and Anxiety Symptoms Among Children and Adolescents in the BELLA Study. Child Psychiatry & Human Development, 56(4), 1162-1172. https://doi.org/10.1007/s10578-023-01622-w.

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