O Transtorno Obsessivo-Compulsivo (TOC) manifesta-se como uma condição neuropsiquiátrica crônica e cíclica, assumindo particularidades em indivíduos superdotados. Este artigo explora a intrincada relação entre a superdotação e a recorrência ou exacerbação dos sintomas de TOC na vida adulta. A superdotação, caracterizada por elevadas capacidades cognitivas, também confere vulnerabilidades específicas, como hiperatividade cortical, perfeccionismo e sobrecarga mental, que podem atuar como fatores no desenvolvimento ou reativação do TOC.
O estudo aborda as bases neuropsicológicas e neurológicas do retorno do TOC, enfatizando o papel de circuitos cerebrais como o córtico-estriado-tálamo-cortical. Fatores psicossociais, emocionais e cognitivos, incluindo estresse crônico, falha em metas idealizadas e sobrecarga cognitiva, são discutidos como elementos que podem reativar a condição em adultos superdotados. As especificidades da mente superdotada, como alta consciência metacognitiva, rigor lógico e intolerância a erros, são analisadas por sua capacidade de predispor a obsessões mentais camufladas.
Resultados parciais de um estudo genômico são apresentados, investigando Polimorfismos de Nucleotídeo Único (SNPs) e genes associados ao TOC em indivíduos com diferentes QIs, sugerindo uma predisposição poligênica que demanda investigações adicionais. A pesquisa genômica preliminar, baseada em 20 indivíduos (10 com QI > 130 e 10 com QI entre 110-125), revelou que a maioria apresentou alta predisposição genética ao TOC. Foram identificados SNPs em genes como SLC1A1 (rs301430, rs3780412), HTR2A (rs6311, rs6313), COMT (rs4680), BDNF (rs6265) e SAPAP3 (rs6662980) como relacionados ao TOC e a comportamentos repetitivos. No entanto, a alta predisposição observada na maioria dos 20 testados, considerando a quantidade de SNPs avaliados e a probabilidade poligênica, sugere que as SNPs analisadas não são suficientes por si só para determinar a predisposição ao TOC. A ausência de estudos robustos que identifiquem de forma assertiva todas as SNPs relevantes reforça a necessidade de investigações mais amplas e detalhadas para uma conclusão definitiva sobre o papel da genética na predisposição ao TOC em populações superdotadas.
Um estudo de caso clínico ilustrativo, envolvendo um adulto superdotado de 43 anos, demonstra a natureza cíclica do TOC e suas manifestações em distintas fases da vida. Na infância, o indivíduo apresentou sintomas clássicos de TOC, como rituais de simetria, toque em objetos de forma ordenada e obsessão por limpeza. Apesar da intensidade, esse período foi breve, e o indivíduo desenvolveu mecanismos de autocontrole precoce. Durante a adolescência, os comportamentos tornaram-se esporádicos e quase inexistentes. Contudo, na fase adulta, sinais de retorno do TOC foram percebidos, com a compulsão por limpeza retornando de forma leve e o surgimento de um novo sintoma: a repetição involuntária de movimentos com a garganta, como uma necessidade de “finalizar” algo sensorialmente. Esse padrão é consistente com a natureza cíclica do TOC, sensível à sobrecarga mental, estresse e oscilações emocionais.
A prevenção e o manejo do TOC em superdotados devem ir além do tratamento sintomático, exigindo uma educação metacognitiva contínua, aliada a hábitos de regulação emocional e limitação voluntária da sobrecarga intelectual.
Referência:
Rodrigues, F. de A. A., Nascimento, F. H. dos S., Espírito Santo, J. L. do, Azambuja, L. S., & Silva, A. P. da. (2025). Transtorno Obsessivo-Compulsivo em Adultos Superdotados. Open Minds International Journal, 6(1). https://doi.org/10.47180/omij.v6i1.365
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