Superdotado flexível e não flexível

Por: Dr. Fabiano de Abreu Agrela Rodrigues, pós-PhD em Neurociências, especialista em Genômica

Tudo depende de como a tríade cerebral se desenvolve no processo neurocognitivo do indivíduo. Essa tríade é composta pelo córtex pré-frontal dorsolateral, ventromedial e orbitofrontal.

Autistas superdotados, por exemplo, podem apresentar maior rigidez em seus hiperfocos, o que frequentemente causa a impressão de inteligência superior. Isso ocorre porque o córtex pré-frontal dorsolateral, responsável pela lógica, abstração e literalidade, tende a ter um funcionamento mais eficiente do que as outras duas subregiões, o córtex pré-frontal ventromedial, relacionado à interpretação emocional e empatia, e o córtex pré-frontal orbitofrontal, ligado à interação e interpretação social. Essa assimetria funcional leva a uma concentração cognitiva mais intensa e menor variabilidade emocional, o que amplifica o desempenho em áreas específicas sem representar uma superioridade global de inteligência.

Já o superdotado flexível apresenta uma ativação mais equilibrada entre essas três subregiões, o que favorece a integração entre lógica, emoção e contexto social. Essa harmonia neurofuncional permite maior adaptação comportamental e camuflagem cognitiva, o que explica por que alguns indivíduos de alta capacidade passam despercebidos em contextos cotidianos.

Imagine dois meninos superdotados, um autista e outro não autista, cujos pais trabalham muito e não têm tempo para treinar suas habilidades.

Ambos gostam de matemática e, ocasionalmente, assistem a desenhos animados em inglês.

O superdotado autista tende a buscar estímulos numéricos em casa e em diferentes ambientes, mantendo o foco independentemente do contexto. Pode até conversar com a professora em inglês quando está emocionalmente abalado, utilizando o idioma como uma forma de estabilidade emocional e previsibilidade.

O superdotado não autista, por outro lado, gosta de fazer cálculos na escola, mas prefere brincar em casa. Ele assiste a desenhos em inglês, mas sabe que vive em outro país e não sente necessidade de falar o idioma fora do contexto. Ele se adapta mais facilmente ao meio, o que pode gerar a falsa impressão, entre observadores leigos, de que “emburreceu”, quando na verdade ajustou seu comportamento ao ambiente.

A inteligência medida em testes de QI é percebida desde a infância nas perguntas curiosas e na capacidade de pensar de forma subjetiva e abstrata, além da habilidade de encontrar soluções plausíveis para situações complexas. Isso ocorre em ambos os perfis. A diferença é que o superdotado não autista é mais flexível ao contexto, buscando adaptar-se melhor ao meio e apresentando menor rigidez cognitiva.

Vídeo: https://youtu.be/PGsaELcYILs?si=odqzOCaIlUMMqwDV

Referências
Goriounova, N. A., & Mansvelder, H. D. (2019). Genes, cells and brain areas of intelligence. Frontiers in Human Neuroscience, 13, 44.
Rodrigues, F. de A. A. (s.d.). Neurobiologia e Fundamentos da Inteligência DWRI. CPAH.