Tramadol apresenta benefício limitado na dor crônica e eleva risco de eventos adversos

Evidências clínicas indicam efeito analgésico modesto e aumento do risco de eventos adversos

A segurança do tramadol na dor crônica tem sido questionada por evidências recentes que indicam benefício clínico modesto e aumento relevante do risco de eventos adversos, especialmente cardiovasculares. Uma revisão sistemática publicada na literatura científica reacende o debate sobre o uso rotineiro desse opioide amplamente prescrito.

O tramadol é frequentemente classificado como uma opção intermediária no manejo da dor crônica, por atuar tanto em receptores opioides quanto na modulação da recaptação de serotonina e noradrenalina. No entanto, a nova análise de ensaios clínicos randomizados aponta que a redução da dor, quando comparada ao placebo, é pequena e, em muitos casos, abaixo do limiar considerado clinicamente significativo.

Evidências clínicas e impacto real na prática assistencial

A revisão avaliou dados de estudos controlados envolvendo pacientes com diferentes condições de dor crônica, como lombalgia, osteoartrite e dor musculoesquelética persistente. A análise sistemática, publicada na revista BMJ Evidence-Based Medicine em 2025, intitulada Tramadol versus placebo for chronic pain: a systematic review with meta-analysis and trial sequential analysis, conduzida por Barakji e colaboradores, mostra que, embora o tramadol promova alguma redução nos escores de dor, o efeito médio observado é discreto e pode não se traduzir em melhora funcional relevante ou qualidade de vida sustentada

Em contrapartida, os pesquisadores observaram aumento estatisticamente significativo na ocorrência de eventos adversos graves entre os pacientes que utilizaram tramadol. Entre os achados mais preocupantes estão eventos cardiovasculares, incluindo dor torácica, insuficiência cardíaca e doença arterial coronariana, além de maior incidência de interrupção do tratamento por efeitos colaterais.

Relevância para segurança do paciente e monitoramento clínico

Além dos riscos cardiovasculares, efeitos adversos já conhecidos, como náusea, tontura, constipação e sonolência, foram mais frequentes no grupo tratado com tramadol. Esses efeitos têm impacto direto na adesão terapêutica, no risco de quedas e na necessidade de acompanhamento clínico mais próximo.

Para laboratórios clínicos e serviços de apoio diagnóstico, o uso disseminado do tramadol também traz implicações indiretas, como a necessidade de interpretação criteriosa de exames laboratoriais em pacientes com comorbidades, polifarmácia e risco aumentado de eventos adversos.

Implicações para diretrizes e tomada de decisão baseada em evidências

Os autores da revisão destacam que os resultados reforçam a importância de uma avaliação rigorosa do risco-benefício antes da prescrição de opioides, mesmo aqueles considerados de menor potência. O uso do tramadol deve ser criterioso, individualizado e, sempre que possível, associado a estratégias não farmacológicas e terapias alternativas para o manejo da dor crônica.

Do ponto de vista da medicina baseada em evidências, os dados sugerem que a percepção de segurança do tramadol pode estar superestimada na prática clínica, exigindo atualização de protocolos assistenciais e maior vigilância farmacológica.

Contexto para o sistema de saúde e a prática diagnóstica

Em um cenário de envelhecimento populacional e aumento da prevalência de dor crônica, decisões terapêuticas precisam equilibrar eficácia real, segurança e impacto no sistema de saúde. Estudos como este contribuem para qualificar o debate clínico e apoiar escolhas mais seguras, com reflexos diretos na atuação médica, no monitoramento laboratorial e na proteção do paciente.