Redes Sociais e o Bem-Estar de Jovens: Uma Análise a Partir da Economia

Nos últimos anos, o uso de mídias sociais tem gerado grande preocupação entre educadores e especialistas, que alertam para os riscos à saúde mental e ao bem-estar dos jovens. Contudo, a vasta literatura existente sobre o tema, oriunda de áreas como psicologia, sociologia e ciência da computação, não chegou a conclusões definitivas devido às dificuldades em estabelecer causalidade, encontrar indicadores confiáveis e lidar com a heterogeneidade do uso das plataformas.

Um estudo de revisão aborda essa questão a partir de uma perspectiva inovadora, analisando pesquisas empíricas da literatura econômica que utilizam o método de “experimentos naturais” para investigar o problema de forma mais rigorosa. Esses estudos examinam a implementação escalonada de tecnologias de acesso à internet e mídias sociais em diferentes regiões geográficas, tratando-a como um experimento natural. Essa metodologia permite contornar o problema da causalidade, pois a variável instrumental (acesso à tecnologia) é considerada independente do bem-estar, eliminando a causalidade reversa. Além disso, o método evita o viés de auto-relato, comum em outras pesquisas, ao usar dados objetivos sobre a disponibilidade da tecnologia.

A revisão de cinco estudos, conduzidos nos Estados Unidos, Reino Unido, Alemanha, Itália e Espanha, chega a uma conclusão convergente: o uso de mídias sociais geralmente prejudica o bem-estar e a saúde mental dos jovens. O impacto negativo é considerado significativo e substancial, especialmente para meninas. Por exemplo, um estudo nos EUA revelou que a introdução do Facebook em universidades teve um impacto negativo na saúde mental dos estudantes, equivalente a cerca de 22% do efeito da perda de emprego. Na Itália e Espanha, o acesso à internet foi associado a um aumento nos diagnósticos de depressão, ansiedade, abuso de drogas e transtornos de personalidade entre jovens.

Para explicar essa relação, o estudo propõe uma interpretação baseada em dois mecanismos principais:
Deslocamento de Atividades Benéficas: As mídias sociais são projetadas para atrair a atenção imediata dos usuários. Para os jovens, que possuem uma imaturidade na regulação emocional e maior plasticidade em sua personalidade , isso leva a um deslocamento de atividades com propósitos futuros e pró-sociais, como estudar, praticar esportes e interações sociais presenciais, por passatempos focados no presente e em si mesmos. Com o tempo, a perda de habilidades e a indefinição de objetivos a longo prazo causam uma deterioração do bem-estar.

Adicção Prejudicial: A adicção às mídias sociais surge da repetição de um comportamento atrativo que substitui atividades que, de outra forma, teriam acumulado experiências úteis para prevenir riscos. A adicção é um tópico complexo, pois os indivíduos podem escolher livremente algo que sabem ser prejudicial, especialmente devido a um viés de preferência pelo presente. A vulnerabilidade a esse tipo de adicção parece estar ligada às condições psicológicas e familiares iniciais dos usuários, com o estudo indicando que meninas que já sofrem conflitos com os pais, por exemplo, são mais suscetíveis aos efeitos negativos.

Os resultados e as conclusões do estudo, embora não sejam totalmente conclusivos e não abordem a heterogeneidade do uso das mídias sociais , contribuem para o debate ao fornecer evidências causais robustas. Eles ressaltam a necessidade de uma abordagem interdisciplinar para o problema e sugerem princípios para a formulação de políticas, como a promoção de maior concorrência no mercado de mídias sociais e a educação sobre o uso consciente da tecnologia para crianças e jovens.

Referência:
Pugno, M. (2025). Does social media harm young people’s well-being? A suggestion from economic research. Academia Mental Health and Well-Being, 2. doi: 10.20935/MHealthWellB7581.

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