Atualmente, as doenças cardiovasculares (DCV) ocupam o primeiro lugar dentre as causas de mortes em todo o mundo. Um dos principais biomarcadores utilizados para a avaliação e estratificação do risco cardiovascular é o colesterol da lipoproteína de baixa densidade (LDL-c), já que ele está diretamente envolvido na gênese da aterosclerose.
Nos últimos consensos de especialidades para o perfil lipídico, algumas mudanças e recomendações foram feitas, dentre as quais a flexibilização do jejum (de maneira geral, não é mais obrigatório e necessário o jejum de 12 horas), bem como a utilização das fórmulas de Friedwald e Martin para o cálculo do LDL-c, quando sua dosagem direta não for possível.
Quando os triglicerídeos (TG) apresentam valores superiores a 400 mg/dL, em indivíduos com jejum de 12 horas, o uso da fórmula de Friedwald é proscrito (subestima muito o LDL-c), sendo recomendado a utilização da fórmula de Martin nesses casos.
LDL-c
Infelizmente, a dosagem direta do LDL-c é mais cara e ainda possui certa variabilidade metodológica (pode chegar a até 30% de diferença entre os kits). Sendo assim, a estimativa do LDL-c pelas fórmulas matemáticas ainda são largamente utilizadas nos laboratórios clínicos, tendo em vista que apresentam, mesmo com algumas limitações, uma boa correlação com a dosagem direta, além do baixo custo.
Fórmulas mais comuns, suas vantagens e desvantagens
A fórmula de Friedwald (LDL-c = CT – HDL-c – TG/5) é considerada a mais clássica e amplamente disponível em nosso meio. Baseada em uma equação simples, é uma forma barata e acurada para a estimativa do LDL-c. Entretanto, quando a concentração dos triglicerídeos estiverem acima de 400 mg/dL e/ou em casos de hiperglicemia, seu uso não é recomendado, já que nessas situações ocorre uma falsa redução dos valores do LDL-c.
Outra equação, segundo os consensos, que pode (e deve) ser utilizada, principalmente nas situações onde a fórmula de Friedwald perde a acurácia, é a de Martin (LDL-c = CT – HDL-c – TG/x), onde “x” varia de 3,1 a 11,9. Publicada por Martin e colaboradores em 2013, essa equação, que utiliza a ultracentrifugação como referência, apresenta um fator ajustável (x) para o cálculo do colesterol de muito baixa densidade (VLDL-c) a partir dos valores dos TG (ao invés do divisor fixo de cinco como a utilizada na de Friedwald).
Esse fator, teoricamente, melhora a distorção da fórmula de Friedwald, aperfeiçoando e tornando mais fidedigna a estimativa do LDL-c, especialmente quando os TG estiverem acima de 400 mg/dL.
Contudo, segundo um estudo brasileiro realizado em uma população da região sul do país, foi demonstrado que a fórmula de Martin superestimava os valores de LDL-c em pacientes com valores de TG < 300 mg/dL, enquanto subestimava nas concentrações de TG acima de 400 mg/dL (chegando a apresentar valores negativos em algumas situações).
Além desse achado, essa equação superestimou os níveis de LDL-c em todas as concentrações de CT avaliadas, com maior desvio padrão.
Uma alternativa a essas fórmulas tradicionais, seria a equação de Cordova & Cordova (LDL-c = 3/4 (CT – HDL-c), proposta e desenvolvida por brasileiros em 2013. Sabendo que a dosagem do LDL-c por métodos diretos tendem a superestimar seus valores quando os TG e LDL-c estão elevados, essa fórmula ajusta esse viés, reportando resultados com maior fidedignidade.
Conclusão
A análise do lipidograma, especialmente, mas não exclusivamente, do LDL-c, apresenta uma grande importância na identificação dos fatores de risco cardiovascular, no estabelecimento do plano de metas e alvo terapêutico.
Existem diferentes formas de se reportar os valores do LDL-c, seja através da sua dosagem direta ou por meio de equações matemáticas, cada uma com suas indicações e limitações específicas. A depender da população e dos valores do seu lipidograma, as fórmulas podem apresentar desempenhos distintos.
É importante que o médico solicitante dos exames, com o auxílio do médico patologista clínico, conheça sobre as principais diferenças e possíveis vieses dos valores encontrados. Dessa maneira, ao analisar em conjunto os dados clínico-laboratoriais, irá certificar-se de que resultados possam representar, da maneira mais acurada possível, o real status metabólico do paciente.
Autor:

Graduação em Medicina pela Universidade Gama Filho (UGF) • Residência Médica em Patologia Clínica/Medicina Laboratorial pela Universidade Federal Fluminense (UFF) • Pós-Graduado em Medicina do Trabalho pela Faculdade Souza Marques (FTESM) • Médico Patologista Clínico do Laboratório Morales • Médico Patologista Clínico do Laboratório Central do Hospital Universitário Antônio Pedro/UFF • Médico do corpo clínico do Instituto Estadual de Doenças do Tórax Ary Parreiras (IETAP)
Referências bibliográficas:
- Cordova CMM, Portal AS, Cordova MM. Fórmulas de Martin, Friedewald e Cordova comparadas com a dosagem direta do LDL-C no sul do Brasil. J. Bras. Patol. Med. Lab.2020;56(1):1-6 https://www.scielo.br/scielo.php?pid=S1676-24442020000100402&script=sci_arttext&tlng=pt
- Faludi AA, et al. Atualizaçao da Diretriz Brasileira de Dislipidemias e Prevençao da Aterosclerose – 2017. Arq Bras Cardiol. 2017; 109(2Supli.1):1-76.
FONTE: PEBMED