Prevalência e Características da Comorbidade de Autismo e TDAH em Crianças em Idade Escolar

A comorbidade entre o Transtorno do Espectro Autista (TEA) e o Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) em crianças tem sido um tópico subestudado em populações escolares, apesar do reconhecimento oficial dessa coexistência no DSM-5. Um estudo da pesquisa EPINED, realizado na Espanha, teve como objetivo estimar a prevalência dessa comorbidade, considerando relatos de pais e professores, bem como o diagnóstico clínico, e comparar as características sociodemográficas, clínicas e cognitivas dos grupos diagnósticos.

O estudo, que seguiu um desenho de duas fases, incluiu 3.727 pais e professores na primeira fase de triagem. Posteriormente, 781 participantes foram submetidos a uma avaliação individual para obter diagnósticos baseados no DSM-5. A prevalência estimada para o diagnóstico comórbido foi de 0,51%, com uma diferença significativa entre os sexos: 0,89% para meninos e 0,16% para meninas. A coocorrência de sintomas de TEA e TDAH, conforme relatado por pais e professores, foi de 3,2% e 2,6%, respectivamente. A comorbidade foi identificada em 95% das crianças por pelo menos um informante. No entanto, apenas 15,8% das crianças com ambos os diagnósticos tinham sido diagnosticadas com as duas condições anteriormente.

O estudo encontrou uma taxa de comorbidade de TDAH em crianças com autismo de 32,8% e em crianças com autismo sublimiar de 31,4%. Por outro lado, a comorbidade de autismo em crianças com TDAH foi de 9,8% e em crianças com TDAH sublimiar foi de 5,7%. A comorbidade de TDAH em crianças autistas foi significativamente mais alta em crianças mais velhas (46,15%) do que em crianças mais novas (21,88%). Em contraste, a comorbidade de autismo em crianças com TDAH foi maior em crianças mais novas (15,56%) do que nas mais velhas (8,11%).

A análise de características clínicas e cognitivas revelou que o grupo comórbido de TEA e TDAH apresentou as pontuações mais baixas em memória de trabalho e maior severidade de sintomas de desregulação emocional, embora essas diferenças não tenham sido estatisticamente significativas, possivelmente devido ao pequeno tamanho da amostra. Em relação ao perfil de sintomas do TDAH, o grupo comórbido apresentou uma maior taxa do tipo combinado e uma menor proporção do tipo desatento em comparação com o grupo apenas com TDAH. As crianças comórbidas recebiam mais suporte educacional e psicológico do que aquelas com apenas TDAH. A frequência de tratamento farmacológico foi maior no grupo comórbido (15,79%) do que no grupo com apenas autismo (2,86%), mas menor do que no grupo com apenas TDAH (21,52%).

O estudo conclui que a alta taxa de identificação de perfis comórbidos por pais e professores sugere que a coleta de dados de múltiplos informantes desde a idade precoce é crucial para uma detecção e diagnóstico mais precisos. O diagnóstico precoce e preciso é fundamental para a implementação de intervenções socioeducacionais e clínicas específicas que possam melhorar o prognóstico e a qualidade de vida dessas crianças.

Referência:
Canals, J., Morales-Hidalgo, P., Voltas, N., & Hernández-Martínez, C. (2024). Prevalence of comorbidity of autism and ADHD and associated characteristics in school population: EPINED study. Autism Research, 17(6), 1276–1286. doi: 10.1002/aur.3146.

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