Perspectivas Atuais sobre o Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade: Desafios e Abordagens Terapêuticas

O Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) é um dos transtornos mais prevalentes na psiquiatria infantil e juvenil, afetando mais de 5% dessa população. Apesar do vasto volume de pesquisas nas últimas décadas, a avaliação e o tratamento do TDAH continuam sendo um desafio para os clínicos. O diagnóstico ainda se baseia em critérios comportamentais descritos em sistemas nosológicos como o DSM-5 e o ICD-10/11, que utilizam observações e relatos de informantes. A ausência de marcadores neurobiológicos objetivos ou critérios que permitam uma classificação diagnóstica inequívoca contribui para a complexidade do quadro.

A definição do TDAH tem se tornado mais ampla e heterogênea, em vez de mais específica, o que aumenta a dependência da expertise clínica. Aspectos controversos do construto do TDAH incluem a discussão sobre sua natureza dimensional versus categórica e a presença de fenótipos sobrepostos, como o “ritmo cognitivo lento” (sluggish cognitive tempo – SCT) e a “disregulação emocional”. O SCT, caracterizado por baixa energia, sonolência e distração, ocorre em 39 a 59% dos indivíduos com TDAH. A disregulação emocional, que se manifesta como raiva, irritabilidade e baixa tolerância à frustração, está presente em 50 a 75% das crianças com TDAH e aumenta o risco de comorbidades.

O TDAH frequentemente coexiste com outros transtornos neurodesenvolvimentais e mentais, incluindo transtornos de aprendizagem, transtorno do espectro autista (TEA), transtorno de tique, depressão, transtorno desafiador opositivo (ODD) e transtorno de conduta (CD). A comorbidade com obesidade, distúrbios do sono, enurese e condições neurológicas como enxaqueca e epilepsia também é frequente. Além disso, o TDAH pode ser “primário” ou “secundário”, sendo o último adquirido após um evento conhecido, como um traumatismo craniano ou um acidente vascular cerebral.

As diretrizes clínicas, como as do National Institute for Health and Care Excellence (NICE), recomendam uma abordagem de tratamento multimodal que inclui psicoeducação como pilar fundamental. A participação ativa da criança e dos pais no processo de planejamento do tratamento é essencial, considerando a gravidade dos sintomas, o impacto das comorbidades e as metas individuais. A abordagem terapêutica pode incluir intervenções focadas no ambiente, como aconselhamento parental e modificações na escola, e intervenções centradas no indivíduo, como treinamento de habilidades e terapia cognitivo-comportamental (TCC).

Em relação ao tratamento farmacológico, os psicoestimulantes, como o metilfenidato e a anfetamina, são a primeira linha de tratamento para os sintomas centrais do TDAH e são considerados os agentes mais eficazes. Os não estimulantes, como a atomoxetina e a guanfacina, são opções de segunda linha e podem ser preferíveis em casos de intolerância a estimulantes ou comorbidades específicas. No entanto, a decisão de iniciar a medicação deve ser tomada por um especialista com experiência, após uma avaliação completa e considerando a saúde cardiovascular do paciente. Atualmente, o TDAH em crianças com menos de 5 anos deve ser tratado primeiramente com intervenções não farmacológicas, e a medicação deve ser considerada apenas em casos graves e após uma segunda opinião especializada.

A pesquisa neurobiológica, incluindo neuroimagem e neurofisiologia, tem esclarecido os múltiplos caminhos e déficits do TDAH. Estudos de neuroimagem mostram atraso na maturação cerebral e alterações em áreas como o córtex pré-frontal e os gânglios da base. As medidas neurofisiológicas, como o eletroencefalograma (EEG), confirmam alterações no processamento de atenção e inibição. Embora esses achados não sejam suficientes para um diagnóstico clínico de rotina, eles contribuem para uma compreensão mais profunda do transtorno e podem, futuramente, apoiar a medicina de precisão.

Referência:
Drechsler, R., Brem, S., Brandeis, D., Walitza, S., Grünblatt, E., & Berger, G. (2020). ADHD: Current Concepts and Treatments in Children and Adolescents. Neuropediatrics, 51(5), 315-335. https://doi.org/10.1055/s-0040-1701658.

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