Perfil Adaptativo em Crianças com Transtorno do Espectro Autista e TDAH: Uma Análise da Comorbidade

O Transtorno do Espectro Autista (TEA) e o Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH) são transtornos do neurodesenvolvimento comuns que frequentemente coocorrem em crianças. A comorbidade entre o TDAH e o TEA é agora oficialmente reconhecida pelo DSM-5, diferentemente do DSM-IV que proibia um diagnóstico combinado. Um estudo buscou identificar e avaliar o perfil adaptativo de crianças e adolescentes com diagnóstico de comorbidade de TDAH e TEA, em comparação com indivíduos que apresentavam apenas um dos diagnósticos.

O estudo transversal incluiu 91 crianças, entre 3,1 e 13,4 anos de idade, que foram divididas em três grupos: apenas TEA (n=31), apenas TDAH (n=25) e TEA+TDAH (n=35). A avaliação neuropsicológica incluiu testes cognitivos e adaptativos, como o ADOS-2 para sintomas de autismo, a escala CPRS-R para sintomas de TDAH, e a VABS-II para avaliar o funcionamento adaptativo.

Os resultados indicaram um perfil adaptativo geral mais prejudicado nos grupos de TEA e TEA+TDAH em comparação com o grupo de TDAH isolado. Diferenças significativas foram encontradas em todos os domínios da VABS-II, incluindo Comunicação, Socialização, Habilidades de Vida Diária e Habilidades Motoras, bem como na pontuação composta de Comportamento Adaptativo. No entanto, não foram observadas diferenças estatisticamente significativas nas pontuações adaptativas entre o grupo com TEA e o grupo com TEA+TDAH. Essa ausência de diferença significativa pode ser atribuída ao tamanho relativamente pequeno da amostra.

Em termos de características clínicas, o estudo encontrou diferenças de QI entre os grupos, com o grupo de TDAH apresentando um QI significativamente mais alto do que os grupos de TEA e TEA+TDAH. Curiosamente, a gravidade dos sintomas de autismo (avaliada pelo ADOS-2) e a gravidade dos sintomas de TDAH (avaliada pelo CPRS-R) não apresentaram diferenças significativas entre os grupos de TEA+TDAH e TEA ou TDAH isoladamente.

Uma análise de regressão linear revelou que pontuações mais altas na escala VABS-II de Comportamento Adaptativo estavam associadas negativamente com a idade e com o diagnóstico de TEA, e positivamente associadas com o QI. Isso sugere que o QI e a idade são preditores importantes das habilidades adaptativas, independentemente da comorbidade.

A pesquisa destaca que a comorbidade de TDAH e TEA é uma condição complexa e que as crianças que a apresentam enfrentam maiores dificuldades no dia a dia. O perfil adaptativo dessas crianças é mais prejudicado do que o de crianças com TDAH isoladamente. Esses achados reforçam a necessidade de avaliações longitudinais que possam aumentar a compreensão do desenvolvimento, das mudanças e da estabilidade dos sintomas ao longo do tempo, e identificar fatores de proteção e de risco para essas condições. O estudo conclui que a atenção a essa dupla excepcionalidade é crucial para fornecer intervenções apropriadas e melhorar os resultados e a qualidade de vida dessas crianças.

Referência:
Scandurra, V., Gialloreti, L. E., Barbanera, F., Scordo, M. R., Pierini, A., & Canitano, R. (2019). Neurodevelopmental Disorders and Adaptive Functions: A Study of Children With Autism Spectrum Disorders (ASD) and/or Attention Deficit and Hyperactivity Disorder (ADHD). Frontiers in Psychiatry, 10, 673. doi: 10.3389/fpsyt.2019.00673.

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