Após publicar, nesta quarta-feira (21), uma análise de pesquisas atuais sobre microplásticos em água potável, a Organização Mundial da Saúde (OMS) pediu uma avaliação adicional desses materiais no meio ambiente e de seu potencial impacto na saúde humana. Além disso, o organismo internacional também solicitou uma redução na poluição por plásticos para beneficiar o meio ambiente e reduzir a exposição humana.
“Precisamos urgentemente saber mais sobre o impacto dos microplásticos na saúde, pois eles estão em toda parte – inclusive em nossa água potável”, afirmou Maria Neira, diretora de Saúde Pública, Determinantes Ambientais e Sociais da Saúde da OMS. “Com base nas informações limitadas que temos, os microplásticos na água potável não parecem representar um risco para a saúde nos níveis atuais, mas precisamos descobrir mais. Também precisamos deter o aumento da poluição por plásticos em todo o mundo”.
De acordo com a análise, que resume os conhecimentos mais recentes sobre o tema, os microplásticos com mais de 150 micrômetros provavelmente não são absorvidos pelo corpo humano e espera-se que a absorção de partículas menores seja limitada. A absorção e a distribuição de partículas microplásticas muito pequenas podem, no entanto, ser maiores, embora os dados atuais sejam extremamente limitados.
Mais pesquisas são necessárias para obter uma avaliação mais precisa da exposição a microplásticos e seus potenciais impactos na saúde humana. Entre elas, o desenvolvimento de métodos padronizados para medir partículas de microplásticos na água; mais estudos sobre as fontes e ocorrência de microplásticos em água potável; e a eficácia de diferentes processos de tratamento.
A OMS recomenda que fornecedores e reguladores de água potável priorizem a remoção de patógenos microbianos e produtos químicos que são riscos conhecidos para a saúde humana, como aqueles que causam doenças diarreicas fatais. Isto tem uma dupla vantagem: os sistemas de tratamento de águas residuais e de água potável que tratam o conteúdo fecal e produtos químicos também são eficazes na remoção de microplásticos.
O tratamento de águas residuais pode remover mais de 90% dos microplásticos, com a maior remoção proveniente do tratamento terciário, como é o caso da filtração. O tratamento convencional com água potável pode remover partículas menores que um micrômetro. Uma proporção significativa da população mundial atualmente não se beneficia de tratamento adequado de água e esgotamento sanitário. Ao lidar com o problema da exposição humana à água contaminada por fezes, as comunidades podem abordar simultaneamente a preocupação relacionada aos microplásticos.
Riscos à saúde
Os estudos realizados até hoje são suficientes para identificar a presença dos microplásticos. Entretanto, a OMS alerta os governos e autoridades de saúde pública para o fato de que ainda faltam métodos adequados e padronizados para analisar essas partículas de plástico e seus impactos.
Embora ainda não seja necessário fazer um monitoramento de rotina para a presença de microplásticos na água, de acordo com a OMS, há pelo menos três os potenciais riscos à saúde humana, pois essas partículas são:
- Um perigo físico para o corpo, pois representam um “corpo estranho” e não fazem parte da alimentação humana normal;
- Um perigo químico, pois os produtos de plástico contêm elementos químicos que podem ser tóxicos;
- Um perigo biológico, pois essas partículas podem reter e acumular micro-organismos que fazem mal ao ser humano, como bactérias e fungos, por exemplo.
Além disso, a OMS observa que a poluição causada pelo plástico mal descartado tem impactos na qualidade de vida das pessoas, no turismo e pode agravar a poluição do ar.
“Se as emissões de plástico no ambiente continuarem nos níveis atuais, em um século pode haver a disseminação dos riscos associados aos microplásticos em ecossistemas aquáticos”, diz o texto.
Uma forma possível de reduzir a poluição com plástico é “um maior comprometimento público e político”, o que já vem ocorrendo em muitos lugares. “Mais de 60 países já taxam ou proíbem o uso de plásticos descartáveis, especialmente as sacolas plásticas”, afirma a OMS.
Tratamento de água e esgoto
Além de reduzir a poluição, a forma mais eficiente de minimizar o problema é intensificar o tratamento de água e esgoto e levá-lo para os lugares que ainda não têm, segundo a OMS. “Onde existem, eles são considerados altamente eficientes em remover partículas com características parecidas àquelas dos microplásticos”, afirma o documento.
“Embora estejam disponíveis apenas dados limitados sobre a eficácia da remoção dos microplásticos no tratamento da água potável, esse tratamento se mostrou efetivo na remoção de muito mais partículas, de tamanho menor e em maiores concentrações do que os microplásticos”, acresenta a OMS.
Entretanto, aproximadamente 67% da população em países de renda baixa e média ainda não tem acesso ao saneamento básico. E 20% do esgoto doméstico não passa sequer por tratamento secundário (aquele que remove, pelo menos, os poluentes sólidos e a maior parte da matéria orgânica).
Nesses lugares, mesmo que os microplásticos possam ser encontrados em concentrações maiores nas fontes de água doce e potável, os riscos associados a outras impurezas da água pode ser ainda maior.
Ou seja, os micro-organismos ainda são a maior preocupação da OMS quando o assunto é a qualidade da água consumida pelas pessoas.
De qualquer forma, “ao resolver o problema maior de exposição à água não tratada, as comunidades podem, simultaneamente, resolver a preocupação menor relacionada aos microplásticos na superfície da água e em outras fontes de água potável”, afirma a Organização.