Por: Dr. Fabiano de Abreu Agrela Rodrigues
O fenômeno do negacionismo, frequentemente caracterizado como uma mera falta de conhecimento ou desinteresse pela realidade, pode, na verdade, ser uma manifestação mais complexa e profundamente enraizada nas bases neurobiológicas do comportamento humano. A negação, enquanto um mecanismo de defesa, é instintivamente acionada em resposta ao medo, seja ele consciente ou inconsciente. Esse comportamento tem suas raízes na evolução, onde a sobrevivência dependia da capacidade de fugir ou ignorar ameaças percebidas.
O negacionismo, sob essa perspectiva, não é simplesmente um ato deliberado de rejeição à realidade, mas sim uma reação instintiva governada por mecanismos primitivos do cérebro, particularmente o sistema límbico. A amígdala, uma estrutura central no processamento emocional, desempenha um papel crítico ao armazenar memórias associadas ao medo e ao perigo. Quando confrontada com informações que evocam uma resposta emocional negativa, como o medo de uma doença ou de uma crise econômica, a amígdala pode desencadear comportamentos de negação para proteger o indivíduo da ansiedade e do estresse associados (Rodrigues, 2019).
Além disso, o circuito neural que envolve a amígdala e o hipotálamo é fundamental na modulação dessas respostas defensivas. Estudos apontam que o hipotálamo é necessário para a expressão completa das respostas comportamentais de medo, e lesões em áreas específicas do cérebro podem diminuir drasticamente essas reações. Isso sugere que a negação não é apenas um comportamento cognitivo, mas também uma resposta visceral que envolve múltiplas regiões cerebrais (Motta et al., 2009).
A conexão entre o medo, a amígdala e o comportamento negacionista é reforçada pela maneira como o cérebro processa emoções e recompensas. A liberação de dopamina, neurotransmissor associado ao prazer e à recompensa, pode ser desencadeada pela negação de uma realidade ameaçadora, proporcionando uma sensação temporária de alívio e satisfação. Esse ciclo de busca por recompensas dopaminérgicas, mesmo através da negação, pode explicar por que atitudes negacionistas persistem, mesmo frente a evidências irrefutáveis (Conrad, 2018).
Portanto, o negacionismo deve ser compreendido como uma resposta complexa e multifacetada, enraizada tanto em processos biológicos quanto psicológicos. Reconhecer o papel do medo e das respostas neurais associadas pode ajudar a desenvolver estratégias mais eficazes para abordar e mitigar comportamentos negacionistas, promovendo uma compreensão mais empática e científica do fenômeno.
Referências:
Rodrigues, F. de A. A. (2019). Negacionismo pode não ser apenas falta de conhecimento, mas também uma resposta instintiva ao medo. Brazilian Journal of Development, 5(12), 33549-33556. https://doi.org/10.34117/bjdv5n12-395.
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