A transição demográfica, caracterizada pelo rápido envelhecimento populacional em sociedades ocidentais, particularmente na Europa, impõe desafios significativos aos sistemas de saúde, com projeções indicando que 30% da população europeia terá 65 anos ou mais até 2050. Nesse contexto, a compreensão da relação entre doenças crónicas, multimorbilidade e incapacidade é crucial para otimizar o bem-estar dos idosos e gerir os custos de saúde. A quantidade de tempo vivida com doença é um fator preponderante na determinação da incapacidade potencial e dos custos associados, tanto a nível individual quanto para o sistema de saúde.
Um estudo conduzido na Holanda em 2007, utilizando cálculos de tabelas de vida multiestados para homens e mulheres com 65 anos ou mais, investigou como diversas doenças, isoladas ou em combinação, afetam os anos de vida vividos com doença ao longo do curso de vida restante. As doenças consideradas incluíram insuficiência cardíaca congestiva (ICC), doença coronariana (DAC), cancros (mama, próstata, cólon, pulmão), diabetes, doença pulmonar obstrutiva crónica (DPOC), AVC e osteoartrite.
Os resultados revelaram que, para homens holandeses com idades entre 65 e 85 anos, a DAC foi a doença individual que mais contribuiu para o tempo vivido com doença (de 7,6 anos aos 65 para 3,7 anos aos 85). Para as mulheres, a osteoartrite foi a principal causa, variando de 11,7 anos aos 65 para 4,8 anos aos 85. Em termos de multimorbilidade, a combinação de diabetes e osteoartrite resultou no maior tempo vivido com doença para ambos os sexos, com 11,2 anos para homens e 14,2 anos para mulheres aos 65 anos, decrescendo para 4,9 e 6,0 anos, respetivamente, aos 85 anos.
Essas descobertas sublinham que o tipo de doença e a sua prevalência são fatores determinantes no tempo vivido com doença entre idosos. Doenças não-fatais, como a osteoartrite, que é altamente prevalente entre idosos holandeses, especialmente em mulheres, contribuem significativamente para o tempo vivido com doença e incapacidade, aumentando a necessidade de recursos de saúde. Por outro lado, doenças fatais como a DAC, embora prevalentes em homens e com tratamentos eficazes que aumentam a sobrevida, também resultam emmaior tempo de vida com a doença, transferindo os custos do cuidado hospitalar para a enfermagem e instalações de cuidados residenciais.
A análise também demonstrou diferenças notáveis na progressão da incapacidade ao longo do curso de vida. O tempo vivido com diabetes, DAC e osteoartrite aumenta progressivamente com a idade para homens, e o mesmo ocorre para mulheres com osteoartrite. No entanto, cancros, AVC e demência não exibem a mesma tendência crescente de incapacidade em mulheres idosas. Essas distinções por sexo e idade são cruciais para o planeamento de serviços de saúde e para o desenvolvimento de intervenções personalizadas.
A multimorbilidade, especialmente a combinação de diabetes e osteoartrite, que são consideradas doenças não-fatais, pode reduzir significativamente o período livre de incapacidade para homens e mulheres idosos. Além disso, as combinações de doenças que incluem demência e AVC parecem ser problemas mais acentuados na faixa etária dos “mais velhos”, ou seja, nos grupos de 80-84 e 85+ anos, onde aumentam o tempo vivido com a doença. A gestão de pacientes com multimorbilidade, embora associada a uma maior utilização de serviços de saúde, pode resultar num melhor controlo das suas condições, atrasando a progressão da doença e a mortalidade.
Em suma, este estudo realça a importância de intervenções específicas por sexo e idade, focadas tanto em doenças individuais quanto em condições multimórbidas, para reduzir a incapacidade e os custos de saúde, e aumentar o bem-estar dos idosos. A prevenção e a gestão eficaz de doenças crónicas, como diabetes, osteoartrite e DAC, através de escolhas de estilo de vida saudáveis e de uma melhor compreensão das barreiras sociais, culturais e económicas, são fundamentais para alcançar esses objetivos.
Referência:
Botes, R., Vermeulen, K. M., Correia, J., Buskens, E., & Janssen, F. (2018). Relative contribution of various chronic diseases and multi-morbidity to potential disability among Dutch elderly. BMC Health Services Research, 18(1), 24.
Centro de Pesquisa e Análises Heráclito
Neurociência / Biologia / Psicologia / Psicanálise / Genômica
Tel.: +351 939 895 955 / +55 21 999 989 695


