A possibilidade de reinfecção pelo SARS-CoV-2 (acrônimo do inglês, Severe Acute Respiratory Syndrome Coronavirus 2) é discutida desde o princípio da pandemia, e agora as informações provenientes de relatos de casos e pesquisas começam a aumentar a compreensão sobre alguns aspectos relacionados com o tema ─ além de fomentar mais dúvidas.
A mais recente contribuição para este debate vem de um relato de caso escrito por cientistas de Hong Kong, que confirma e documenta a infecção de um paciente por duas cepas diferentes do novo coronavírus com quatro meses e meio de intervalo. O trabalho foi publicado on-line no periódico Clinical Infectious Diseases.
O paciente é um homem de 33 anos, morador de Hong Kong, que foi hospitalizado por covid-19 em 26 de março e teve alta em 14 de abril. Recentemente, em 15 de agosto, ele foi testado no aeroporto de Hong Kong quando retornava de uma viagem para a Espanha em um voo que passou pelo Reino Unido e seu resultado foi positivo. [1]
No dia seguinte à publicação do artigo sobre o paciente de Hong Kong, considerado o primeiro caso bem documentado de reinfecção, a NOS, uma rede de televisão pública holandesa, e a Reuters, uma agência internacional de notícias, informaram mais dois casos de reinfecção; um na Holanda e outro na Bélgica.
No Brasil, a quantidade de casos suspeitos de uma nova contaminação está aumentando. Entre a segunda e a terça-feira (25), mais de 10 casos foram informados aos pesquisadores da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (FMRP-USP), no interior do estado. O mesmo ocorreu no ambulatório criado no Hospital das Clínicas da USP, na cidade de São Paulo, para abrigar pacientes com covid-19 e investigar estes casos. Também há estudos sendo conduzidos pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz).
“Os números estão mudando rapidamente, com novas suspeitas chegando”, disse ao Medscape o Dr. Fernando Bellissimo Rodrigues, da FMRP-USP, e acrescentou: “São casos espalhados pelo Brasil, vindos de Rondônia, Santa Catarina, Bahia, Rio de Janeiro, Goiás…”
No início de agosto, pesquisadores da FMRP-USP apresentaram um relato de caso de uma técnica de enfermagem de 24 anos com diagnóstico de reinfecção. A profissional de saúde manifestou sintomas condizentes com covid-19 em 06 de maio, dois dias depois de um colega de trabalho dela ter recebido o diagnóstico da doença. Seu primeiro teste por reação em cadeia da polimerase com transcrição reversa (RT-PCR, sigla do inglês, Reverse Transcription Time Polymerase Chain Reaction), realizado no quarto dia após o surgimento dos sintomas, deu negativo. Como os sintomas (fraqueza muscular, dor de cabeça e de garganta, sensação febril e congestão nasal) persistiram, foi realizado um novo teste no nono dia, desta vez com resultado positivo. Com a boa evolução do quadro e o desaparecimento dos sintomas, a técnica de enfermagem voltou ao trabalho. Em 27 de junho, porém, ela voltou a apresentar os mesmos sintomas, desta vez acrescidos de anosmia, tosse e diarreia. Ela foi testada no quinto dia e teve novamente resultado positivo. Foram 38 dias assintomática entre o primeiro e o segundo diagnósticos. Algo semelhante foi descrito em junho por pesquisadores nos Estados Unidos em uma publicação no periódico American Journal of Emergency Medicine.
Com informações de “Covid-19: Mais dados reforçam possibilidade de reinfecção – Medscape – 31 de agosto de 2020”, texto de Mônica Tarantino.


