A pesquisa em psicopatia avançou consideravelmente, impulsionada por progressos na ciência psicológica e em modelos integrativos de psicopatologia. Um quadro conceitual que se destaca para a compreensão da psicopatia é o modelo triárquico, que a descreve por meio de três traços principais: ousadia (boldness), malícia (meanness) e desinibição (disinhibition).
A ousadia é caracterizada por dominância social, audácia e resiliência emocional, e está associada a uma baixa sensibilidade a ameaças. Indivíduos com altos níveis de ousadia tendem a apresentar sintomas interpessoais de psicopatia, sendo socialmente assertivos e persuasivos. Em contrapartida, a ousadia correlaciona-se negativamente com ansiedade, reatividade ao estresse e sintomas internalizantes.
A malícia refere-se a uma baixa empatia, insensibilidade e manipulação agressiva de outros, relacionando-se a sistemas bio-comportamentais de afiliação e cuidado social. Este traço foi destacado em descrições de criminosos psicopatas, caracterizados por uma agressividade predatória e atos de violência fria. Em jovens, esses traços são conhecidos como traços de insensibilidade-falta de emoção (callous-unemotional traits) e estão associados a comportamentos antissociais mais severos.
A desinibição envolve propensão ao tédio, falta de controle, irritabilidade e irresponsabilidade. Este traço está ligado a um controle inibitório deficiente e à propensão a problemas externalizantes, como uso de álcool e outras drogas, e transtornos de conduta não agressivos. Em um estudo, a desinibição foi o fator mais forte para prever externalização desinibida. A desinibição também se associa positivamente a sintomas internalizantes, como sofrimento e angústia.
O modelo triárquico oferece uma estrutura para integrar diferentes perspectivas teóricas da psicopatia e concilia achados de estudos que usam diversas medidas. Além disso, ele se alinha com o avanço de modelos dimensionais de psicopatologia, como o Hierarchical Taxonomy of Psychopathology (HiTOP), que descreve a psicopatia como uma condição contínua e multifacetada. Pesquisas futuras, baseadas nesse modelo, deverão aprofundar a compreensão de como diferentes configurações desses traços resultam em subtipos distintos de psicopatia e como se manifestam ao longo do desenvolvimento. A integração de dados de diferentes modalidades de medição (autorrelato, desempenho em tarefas e medidas neurofisiológicas) é essencial para aprimorar a compreensão dos mecanismos bio-comportamentais subjacentes.
Referência:
PATRICK, C. J. Psychopathy: Current Knowledge and Future Directions. Annu. Rev. Clin. Psychol., v. 18, p. 387-415, 2022.


