Intervenções Genômicas no Estilo de Vida: Potenciais e Limitações para a Promoção da Atividade Física

A busca por estratégias eficazes de promoção da saúde tem ganhado novos contornos com os avanços na genômica comportamental. Um estudo recente conduzido por Horne et al. (2020) explorou o impacto de uma intervenção baseada em informações genéticas — chamada de Lifestyle Genomics (LGx) — na promoção da atividade física (AF) entre indivíduos com sobrepeso e obesidade. Este ensaio clínico randomizado, denominado NOW (Nutrigenomics, Overweight/Obesity and Weight Management), comparou a eficácia de uma intervenção tradicional baseada em diretrizes populacionais com uma intervenção personalizada que incorporava informações genéticas sobre predisposições ao desempenho físico e resposta à AF.

A base teórica da intervenção foi o modelo da Teoria do Comportamento Planejado (Theory of Planned Behavior), considerando fatores como normas subjetivas, controle comportamental percebido e atitudes. A intervenção padrão (GLB – Group Lifestyle Balance™) recomendava ao menos 150 minutos semanais de AF moderada, com atividades de fortalecimento duas vezes por semana. Já o grupo GLB + LGx recebeu, adicionalmente, recomendações personalizadas com base em variantes genéticas específicas, como FTO (rs9939609), associada à obesidade, e ACTN3 (rs1815739), relacionada à performance em atividades de força.

O achado mais relevante foi o aumento significativo no gasto energético semanal (em equivalentes metabólicos, METs) no grupo GLB + LGx após seis meses de acompanhamento (1.114,7 ± 141,9 METs/semana) em comparação ao grupo padrão (621,6 ± 141,9 METs/semana; p = 0,01). No entanto, tal efeito não se sustentou aos 12 meses, e não houve diferença estatisticamente significativa nos minutos semanais de AF ou na adesão às diretrizes recomendadas entre os grupos em longo prazo. Este padrão sugere que a personalização genética pode gerar um impulso motivacional inicial, mas que sua eficácia isolada, sem reforço contínuo ou adaptação progressiva, pode ser limitada em termos de adesão sustentável.

É importante destacar que, embora os resultados apontem para um potencial promissor da abordagem LGx, o próprio desenho do programa (com foco reduzido em AF nos últimos meses) e o perfil da amostra — majoritariamente mulheres brancas, de meia-idade, com obesidade classe II — limitam a generalização dos achados. A utilização de medidas autorreferidas também representa uma limitação metodológica. Futuros estudos devem empregar métodos objetivos (como acelerômetros) e investigar a aplicabilidade dessa abordagem em contextos clínicos menos estruturados do que o GLB, cuja oferta é restrita a centros especializados.

Do ponto de vista científico, este estudo reforça a necessidade de integrar conhecimentos genéticos com fundamentos da psicologia comportamental. A simples comunicação de riscos ou predisposições genéticas, sem contextualização prática ou suporte motivacional adequado, pode não ser suficiente para induzir mudanças duradouras. Por outro lado, quando bem estruturadas, as intervenções baseadas em genômica comportamental podem representar uma ferramenta valiosa na personalização de programas de saúde, alinhando-se a um paradigma mais individualizado de cuidado.

Assim, a intervenção LGx demonstrou eficácia moderada em aumentar o engajamento na AF no médio prazo, mas evidenciou também os desafios de sua implementação e sustentabilidade. A incorporação de recomendações genéticas em programas de mudança de estilo de vida pode representar um passo adiante na medicina personalizada, desde que combinada com estratégias baseadas em evidências do comportamento humano.

Referência:

HORNE, Justine R. et al. Can a Lifestyle Genomics Intervention Motivate Patients to Engage in Greater Physical Activity than a Population-Based Intervention? Results from the NOW Randomized Controlled Trial. Lifestyle Genomics, Basel, v. 13, n. 6, p. 180–186, 2020. DOI: https://doi.org/10.1159/000510216.

 

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