Por Redação Médica
O fenômeno denominado “brain rot”, ou “cérebro podre”, tem sido objeto de crescente preocupação entre neurocientistas e profissionais da saúde, devido ao impacto potencial do uso excessivo de redes sociais na cognição e na estrutura neurofuncional do cérebro. O termo, recentemente eleito como expressão do ano pelo Dicionário Oxford, reflete uma realidade clínica emergente e requer um olhar aprofundado sob a perspectiva neurocientífica.
Bases Neurocientíficas da Degradação Cognitiva
O neurocientista luso-brasileiro Dr. Fabiano de Abreu Agrela, pós-PhD em Neurociências e membro da Royal Society of Biology no Reino Unido, já alertava para os riscos neurobiológicos da exposição crônica a estímulos digitais de curta duração. Em um estudo publicado no Brazilian Journal of Development, o especialista aponta que o consumo reiterado de conteúdos superficiais compromete a neuroplasticidade, resultando na redução da capacidade de foco, raciocínio crítico e retenção de informações.
A exposição contínua a conteúdos digitais rápidos pode induzir alterações nas vias dopaminérgicas, favorecendo um ciclo de recompensa instantânea que compromete circuitos neuronais responsáveis pela atenção sustentada e pelo processamento de informações mais complexas. Esse fenômeno pode estar relacionado ao desenvolvimento de déficits cognitivos progressivos e à deterioração da função executiva.
Origem e Evolução do Termo “Brain Rot”
Embora tenha sido popularizado recentemente, o conceito de “brain rot” tem raízes históricas. Em 1854, Henry David Thoreau utilizou o termo para descrever o declínio intelectual causado por um ambiente saturado de informações superficiais. No contexto atual, essa definição se expande para a neurociência, relacionando-se diretamente ao impacto das novas tecnologias na cognição humana.
Alterações Funcionais e Estruturais Relacionadas ao Uso Excessivo da Internet
Segundo o Dr. Fabiano de Abreu Agrela, estudos em neuroimagem indicam que a exposição prolongada a conteúdos digitais efêmeros pode levar a uma redução da conectividade funcional no córtex pré-frontal, área responsável pelo pensamento crítico, planejamento e tomada de decisões. “A sobrecarga de estímulos digitais modifica padrões de ativação neuronal, potencialmente contribuindo para dificuldades de aprendizado, déficit de atenção e aumento da impulsividade”, afirma o especialista.
Além disso, a busca incessante por gratificação imediata, amplamente reforçada pelo design algorítmico das redes sociais, pode levar a um desbalanço neuroquímico, favorecendo quadros de ansiedade e dificuldades na regulação emocional.
Prevalência e Consequências do Uso Excessivo das Redes Sociais
No Brasil, onde aproximadamente 144 milhões de pessoas são usuárias ativas de redes sociais, o impacto desse fenômeno torna-se ainda mais relevante. O relatório Digital 2024: Brazil, produzido pela We Are Social e Meltwater, indica que o tempo médio de uso diário das redes sociais no país ultrapassa três horas, representando um fator de risco significativo para comprometimento da saúde mental e cognitiva.
Diante desse cenário, pesquisadores e profissionais da saúde enfatizam a necessidade de medidas preventivas, como a adoção de hábitos que estimulem o desenvolvimento cognitivo, o incentivo à leitura aprofundada e a prática de atividades que promovam a neuroplasticidade.
“A moderação no uso da tecnologia e o equilíbrio entre consumo digital e atividades intelectualmente enriquecedoras são essenciais para preservar a integridade funcional do cérebro e evitar impactos deletérios ao longo prazo”, conclui Dr. Fabiano de Abreu Agrela.