O Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) é uma das condições neurocomportamentais mais comuns na infância, com prevalência global estimada entre 5,29% e 7,1%. O diagnóstico e o tratamento precoces são cruciais para mitigar os prejuízos significativos que os sintomas causam nas tarefas escolares e nas atividades diárias das crianças. Uma revisão sistemática de estudos publicados entre 2010 e 2019, focando em países europeus, teve como objetivo investigar a idade de início (AO) e a idade de diagnóstico (AD) do TDAH em crianças e adolescentes.
A revisão analisou 44 estudos de 13 países europeus, com a maioria das pesquisas vindo da Suécia e da Alemanha. A idade média de início dos sintomas de TDAH em crianças diagnosticadas apenas com TDAH foi de 2,25 a 7,5 anos. Em crianças com TDAH e transtorno de comportamento disruptivo (DBD), a idade de início foi de 15,3 anos. A idade média de diagnóstico (AD) variou de 6,2 a 18,1 anos. O estudo destacou uma grande variabilidade em ambas as idades, bem como uma distância considerável entre o início dos sintomas e o diagnóstico.
A variabilidade observada pode ser atribuída a discrepâncias metodológicas entre os estudos, como diferenças nos desenhos das pesquisas, métodos de amostragem e nas fontes de informação (relatos de pais, professores ou médicos). Por exemplo, um estudo multinacional relatou que a idade média de diagnóstico (AD) era de 7,0 anos, variando de 6,3 anos na Alemanha a 7,6 anos na Holanda. Além disso, a presença de comorbidades parece influenciar a idade do diagnóstico. Crianças com comorbidades, como a epilepsia, tendem a ser diagnosticadas com TDAH em uma idade mais jovem (média de 8,2 anos) do que aquelas sem comorbidades (média de 9,4 anos), provavelmente por já estarem sob monitoramento de especialistas.
As diretrizes diagnósticas também desempenham um papel na variabilidade. O DSM-5 estipula que o início dos sintomas deve ocorrer antes dos 12 anos, enquanto o DSM-IV e o ICD-10 exigiam que fosse antes dos 7 anos. A alteração no critério de idade de início para 12 anos no DSM-5 tem sido debatida, com alguns especialistas argumentando que ela pode aumentar o número de diagnósticos, enquanto outros expressam preocupações sobre a capacidade dos pais de se lembrarem dos sintomas de TDAH antes dos 7 anos.
Em conclusão, a revisão sistemática evidenciou uma ampla variabilidade na idade de início e de diagnóstico do TDAH em crianças europeias. Essa variabilidade sublinha a complexidade do diagnóstico e a necessidade urgente de se reduzirem os longos períodos entre o aparecimento dos primeiros sintomas e a confirmação do diagnóstico. A identificação precoce pode facilitar o encaminhamento e o tratamento, o que, por sua vez, pode ajudar a reduzir as consequências adversas do transtorno em termos pessoais e sociais. Estudos futuros são necessários para elucidar as razões subjacentes a essa variabilidade e otimizar os caminhos para o diagnóstico e o tratamento, garantindo um padrão de cuidado equitativo para todas as crianças e adolescentes com TDAH.
Referência:
Rocco, I., Corso, B., Bonati, M., & Minicuci, N. (2021). Time of onset and/or diagnosis of ADHD in European children: a systematic review. BMC Psychiatry, 21(1), 575. https://doi.org/10.1186/s12888-021-03547-x.
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