A HPLC por Partição é uma das formas mais clássicas e fundamentais de separação na cromatografia líquida. Embora esse mecanismo esteja presente em outras modalidades como a fase reversa e a fase normal, ele também pode ser aplicado de forma predominante em sistemas projetados especificamente para promover partição líquido-líquido, baseando-se na diferença de solubilidade dos analitos entre duas fases imiscíveis.
Este artigo apresenta os fundamentos da partição cromatográfica, os tipos de sistemas mais comuns, os mecanismos de separação, vantagens, limitações e principais aplicações, especialmente em compostos naturais, lipídios e fracionamento de misturas complexas.
1. Fundamentos da HPLC por Partição
Na partição, o analito se distribui entre duas fases imiscíveis: uma fase estacionária líquida, que é retida no suporte sólido (fase suportada), e uma fase móvel líquida, que flui através da coluna. A separação ocorre com base no coeficiente de partição (K) do analito entre essas duas fases:
Analitos com maior afinidade pela fase estacionária serão retidos por mais tempo, enquanto aqueles com maior afinidade pela fase móvel eluem mais rapidamente.
2. Tipos de Sistemas por Partição
2.1. Cromatografia Líquido-Líquido Convencional (LLC)
Utiliza uma fase estacionária líquida imobilizada em suporte inerte (como sílica), e uma fase móvel líquida miscível. Foi uma das primeiras formas de cromatografia líquida moderna.
2.2. Cromatografia Contracorrente (CCC) / Centrifugal Partition Chromatography (CPC)
Ambas usam duas fases líquidas sem suporte sólido: a fase estacionária é mantida por força centrífuga ou sistemas de bombeamento. Não há fase sólida, o que elimina problemas de adsorção e degradação.
2.3. Partição Indireta em Fase Reversa ou Fase Normal
Muitos métodos em RP-HPLC ou NP-HPLC baseiam-se em partição entre uma camada estacionária hidrofóbica/polar e a fase móvel, embora haja também contribuição de outros mecanismos como adsorção e interação dipolar.
3. Mecanismo de Separação
A separação por partição é eficiente quando:
- Há uma diferença significativa de solubilidade dos analitos entre as duas fases
- As fases são estáveis e não sofrem troca ou emulsificação
- O sistema permanece termicamente estável durante a análise
Em CPC e CCC, o sistema pode operar com diferentes regimes (modo ascendente ou descendente), otimizando a retenção da fase estacionária líquida.
4. Aplicações da HPLC por Partição
4.1. Compostos Naturais e Produtos Bioativos
- Fracionamento de extratos vegetais e fúngicos
- Isolamento de alcaloides, flavonoides, terpenos e glicosídeos
- Separação de compostos termossensíveis e instáveis
4.2. Indústria Cosmética e Alimentícia
- Fracionamento de lipídios, ceras e ésteres graxos
- Separação de vitaminas lipossolúveis
- Purificação de aromas e fragrâncias naturais
4.3. Purificação de Insumos Farmacêuticos
- Etapas preparativas para isolamento de impurezas ou isômeros
- Retirada de interferentes em análises de controle de qualidade
- Pré-purificação antes de análise por HPLC convencional ou LC-MS
5. Vantagens da HPLC por Partição
- Alta recuperação: sem adsorção em fase sólida
- Separações suaves: ideal para compostos sensíveis
- Grande capacidade de amostra: útil para purificação em escala
- Baixo custo operacional, especialmente em CCC/CPC
- Evita a contaminação por resíduos sólidos (sem fase estacionária sólida)
6. Limitações e Cuidados Específicos
- Menor eficiência de separação comparado à RP-HPLC
- Requer equilíbrio estável entre as fases líquidas
- Suscetível à formação de emulsões, especialmente com amostras complexas
- Limitações na detecção direta com UV para compostos sem cromóforos
- Equipamentos especializados (CCC/CPC) não são amplamente disponíveis
7. Quando Utilizar a HPLC por Partição?
Conclusão
A HPLC de Partição continua sendo uma abordagem relevante e poderosa em aplicações específicas que exigem alta recuperação, baixo impacto sobre compostos sensíveis e purificações suaves e seletivas. Embora menos difundida nos sistemas analíticos de rotina, a partição cromatográfica tem seu espaço consolidado em fitoterápicos, naturais, cosméticos, alimentos e purificações preparativas.
Compreender os fundamentos físico-químicos da partição, selecionar corretamente as fases líquidas e operar com estabilidade são fatores determinantes para o sucesso da técnica. Em um cenário que valoriza produtos naturais e processos verdes, a cromatografia de partição está mais atual do que nunca.
Referências Bibliográficas
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- Mandava, N. B., & Ito, Y. (1988). Countercurrent Chromatography: Theory and Practice.
AUTOR:
Edwin Bueno é engenheiro químico e especialista em cromatografia, com mais de 13 anos de experiência no desenvolvimento de métodos analíticos. Atualmente é diretor técnico da Atuallabs e consultor técnico de grandes indústrias, dedica-se a otimizar processos, garantir a qualidade analítica e disseminar boas práticas laboratoriais, contribuindo para a excelência do setor.