O Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) e o Transtorno do Espectro Autista (TEA) são transtornos do neurodesenvolvimento prevalentes que frequentemente coocorrem. A coocorrência de ambos, referida como TDAH + autismo, está associada a uma maior severidade e complexidade de sintomas, tornando a tomada de decisões clínicas sobre o manejo sintomático um desafio para os profissionais de saúde. Há uma escassez de pesquisas sobre a gestão farmacoterapêutica nessa subpopulação, especialmente considerando as mudanças nos critérios diagnósticos com o DSM-5, que permitiu o diagnóstico duplo de TDAH e autismo. Um estudo australiano recente buscou preencher essa lacuna, examinando a diversidade da gestão farmacoterapêutica em crianças com TDAH, autismo e a comorbidade de TDAH + autismo.
A pesquisa, baseada em um inquérito online preenchido por 505 pais, revelou que os grupos de TDAH e TDAH + autismo apresentaram uma proporção similar de crianças que tomavam pelo menos uma medicação (90% e 86%, respectivamente). Em contraste, apenas 39% do grupo de autismo isolado tomava medicação. No entanto, a diversidade das medicações utilizadas foi significativamente diferente entre os grupos, refletindo a complexidade de seus diagnósticos. O grupo de TDAH + autismo reportou a maior proporção de polifarmácia, definida como o uso de duas ou mais medicações simultaneamente (52%), em comparação com os grupos de TDAH (21%) e autismo (22%).
O estudo encontrou que o grupo com TDAH + autismo apresentou as maiores taxas de comorbidades adicionais, como deficiência intelectual (5,37%), Transtorno Opositivo-Desafiador (20,13%), ansiedade (38,93%), depressão (6,71%) e condições genéticas (3,36%), em comparação com os outros grupos. Essas comorbidades adicionais provavelmente contribuem para a complexidade da gestão farmacoterapêutica.
Quanto aos tipos de medicamentos, os pais de crianças com TDAH + autismo relataram maior uso de medicamentos não estimulantes para TDAH (25,5%), antipsicóticos (18,79%), antidepressivos (22,15%) e melatonina (31,54%) em comparação com os grupos de TDAH e autismo isolados. O uso de estimulantes foi mais comum no grupo de TDAH isolado (81%), seguido pelo grupo de TDAH + autismo (66%) e, por último, pelo grupo de autismo (4%). A melatonina, frequentemente utilizada para problemas de sono que são prevalentes em ambas as populações, foi o segundo medicamento mais comum no total da amostra, sendo mais relatado no grupo comórbido (32%).
As descobertas sugerem que a gestão farmacoterapêutica de crianças com TDAH + autismo é complexa, com o uso de múltiplas classes de medicamentos para tratar não apenas os sintomas centrais do TDAH e do autismo, mas também as comorbidades associadas. A pesquisa aponta para a necessidade urgente de estudos mais direcionados para otimizar o manejo clínico e os resultados terapêuticos nessa população, permitindo que clínicos, pais e jovens tomem decisões mais informadas sobre o tratamento.
Referência:
Mellahn, O. J., Knott, R., Tiego, J., Kallady, K., Williams, K., Bellgrove, M. A., & Johnson, B. P. (2022). Understanding the Diversity of Pharmacotherapeutic Management of ADHD With Co-occurring Autism: An Australian Cross-Sectional Survey. Frontiers in Psychiatry, 13, 914668. doi: 10.3389/fpsyt.2022.914668.
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