Não é novidade para ninguém que os gatos estão, cada vez mais, dominando os lares e eu arrisco a dizer que eles, em breve, dominarão o mundo todo. Mas, deixando meu lado jornalista tendenciosa de lado, conversei com a médica-veterinária Hilka Fatima Frison Mendes Neves, que atende as especialidades de Medicina Felina e Endocrinologia no Hospital Veterinário AmarVets, para nos explicar mais tecnicamente sobre a relação gato-tutor.
Em especial, a profissional aborda o tópico ausência. Como os felinos domésticos encaram a ausência do tutor? Segundo Hilka, eles se acostumam com a rotina que lhes é oferecida. “Se o tutor passa muitas horas fora de casa por dia, eles se acostumam mais com a ausência do que com a presença desse indivíduo. Isso se torna normal para aquele gato. Porém, durante ausências longas por viagens ou enfermidade do tutor que requeira hospitalização, podem sofrer pela separação prolongada”, informa.
Comportamentos compulsivos e repetitivos podem acontecer como sinal de algum desconforto por se sentirem sozinhos. “Entretanto, gatos podem dormir mais por baixo estímulo, até ficarem compulsivos por alimentos, brincar além da conta ou comer objetos, o que pode ser perigoso”, alerta.
Como eles nos enxergam?
Muitos acreditam que os gatos desenvolveram capacidades “extra curriculares” de entender nosso comportamento, o que, consequentemente, altera suas atitudes também. Será verdade o boato de que, quando o tutor sai de casa, os gatos pensam que ele vai caçar? “Hoje, a mente deles é tão elaborada que acho que eles até já sabem que saímos para trabalhar e prover alimento para o lar (vide vídeos do canal da Rafaella Tuma). Agora, numa resposta mais técnica, eles não têm o ócio mental de um humano e não buscam justificativas para ausências. Simplesmente as vivem”, responde a doutora.
Mas, o vínculo do felino com seu tutor pode ser uma relação plácida ou com muito contato físico. “No geral eles gostam de observar a rotina e ficam felizes em encontrar seus tutores, por isso, alguns aguardam a volta de seus humanos perto de portas ou janelas”, comenta, mas também menciona casos em que esses pets, por sentirem cheiros e feromônios que outros gatos e outros animais produzem, incluindo os humanos, preferem aguardar o retorno do tutor em cima de uma peça de roupa, já que a referência do “cheiro” do tutor traz segurança ao animal.
Mas o tutor deve estar alerta. Sinais como miar após a saída do tutor ou quando começa a se preparar para sair; fazer de tudo para chamar atenção das pessoas, entre outros indícios, podem sinalizar uma possível ansiedade de separação. “Ficar esperando quietinho durante o dia, miar muito e ficar muito feliz com a chegada do tutor também podem ser sinais”, adiciona.
Mais curiosidades da relação gato-tutor
Além dessas informações valiosas, Hilka ainda separa alguns itens importantes para o conhecimento de que tem gatos em casa. Confira:
Cães e Gatos: É verdade que os gatos, ao trazerem “presentes” como pequenos animais mortos, estão imitando o comportamento de caçadores que compartilham a presa?
Vet Hilka: Isso equivale a presentear alguem que a gente ama muito. É uma honraria.
Cães e Gatos: Por que alguns gatos são mais apegados aos tutores, enquanto outros preferem manter certa independência?
Vet Hilka: Isso é algo individual, é como criança. Alguns mudam com o tempo, mas a maioria já mostra sinais de ser mais grudadinho ou mais distante fisicamente desde filhote.
Cães e Gatos: Existem maneiras de “comunicar-se” melhor com os gatos, para que eles se sintam mais compreendidos pelos tutores?
Vet Hilka: Respeitar seus limites e suas necessidades básicas já é a base da boa comunicação. Oferecer um ambiente cat friendly é uma grande forma de um tutor expressar seu amor por seu gatinho.
Cães e Gatos: Os gatos podem desenvolver rotinas baseadas nos hábitos do tutor? Como isso impacta a convivência?
Vet Hilka: Com certeza. Acordam cedo ou tarde junto do dono, espelhando seus comportamentos. Algumas rotinas podem ser deletérias para os gatos, mas, no geral, conseguem conviver bem com rotinas que incluem presença e ausência dos tutores.
Matéria – Revista Cães&Gatos