A biossegurança é um conjunto de medidas e procedimentos que visam prevenir, minimizar ou eliminar riscos inerentes às atividades realizadas por profissionais da área da saúde. O não cumprimento dessas diretrizes pode resultar em contaminação cruzada, infecções hospitalares e outros agravos à saúde pública. Diante desse cenário, a capacitação contínua dos profissionais é essencial e, mais do que uma recomendação, trata-se de uma exigência normativa de órgãos reguladores, como a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) e o Ministério da Saúde (Machado et al., 2023).
No entanto, metodologias tradicionais de ensino, centradas na transmissão passiva de conhecimento, nem sempre são eficazes para garantir a assimilação e a aplicação das normas de biossegurança na prática profissional. Nesse contexto, as metodologias ativas emergem como uma abordagem inovadora e eficiente para engajar profissionais da saúde em processos de aprendizagem mais dinâmicos e aplicáveis à realidade clínica (Seabra et al., 2023)
Este artigo tem como objetivo revisar a literatura sobre biossegurança, a importância da capacitação profissional e a aplicabilidade das metodologias ativas no ensino da biossegurança, destacando estratégias inovadoras para a formação e atualização dos profissionais da saúde.
Biossegurança: Conceitos e Relevância
A biossegurança compreende um conjunto de normas, procedimentos e condutas destinadas a minimizar riscos biológicos, químicos, físicos e ergonômicos no ambiente de trabalho. Esses riscos estão presentes em hospitais, laboratórios, clínicas odontológicas, entre outros locais, tornando a adoção de protocolos específicos essencial para a proteção de profissionais, pacientes e da comunidade em geral (Diniz Faria et al., 2020).
A Organização Mundial da Saúde (OMS) e a ANVISA estabelecem diretrizes rigorosas sobre práticas seguras, abrangendo desde o uso correto de Equipamentos de Proteção Individual (EPIs) até o descarte adequado de resíduos biológicos. Estudos indicam que falhas na adesão a essas normas estão diretamente associadas ao aumento de infecções hospitalares e acidentes ocupacionais (Silva, 2018). Assim, a capacitação contínua em biossegurança é um fator determinante para garantir que os profissionais atuem de forma segura e eficaz.
A Importância da Capacitação e sua Obrigatoriedade
A capacitação profissional em biossegurança é um requisito obrigatório estabelecido por legislações como a Norma Regulamentadora NR-32, que trata da segurança e saúde no trabalho em serviços de saúde (Tannus, 2023). Essa norma exige que instituições de saúde promovam treinamentos periódicos sobre riscos ocupacionais e medidas preventivas, garantindo que todos os trabalhadores estejam aptos a lidar com potenciais ameaças biológicas (Penna; Aquino , 2010.)
Além disso, a Resolução da Diretoria Colegiada (RDC) nº 222/2018 da ANVISA reforça a necessidade de capacitação contínua para profissionais que lidam com resíduos de serviços de saúde, enfatizando a importância da correta segregação e descarte desses materiais (ANVISA, 2018).
Estudos demonstram que treinamentos baseados apenas em palestras expositivas podem resultar em baixa retenção do conhecimento, tornando essencial a adoção de abordagens que incentivem a participação ativa dos profissionais (Machado et al., 2019)
Metodologias Ativas no Ensino de Biossegurança
As metodologias ativas de ensino buscam promover maior protagonismo do aluno no processo de aprendizagem, tornando-o responsável pela construção do conhecimento. Diferentes estratégias têm sido aplicadas com sucesso na capacitação em biossegurança, como jogos educativos, simulações e aprendizagem baseada em problemas (PBL) (Moro et al., 2020).
Gamificação e Jogos Educativos: Construção e validação a partir de um jogo educativo sobre biossegurança, para aumentar o engajamento e a motivação dos participantes. Estudos apontam que essa estratégia melhora a assimilação do conteúdo e estimula a adoção de boas práticas em biossegurança (Moraes et al., 2024).
Simulações Realísticas: A simulação permite que profissionais vivenciem situações reais de risco biológico em um ambiente seguro e controlado. É uma maneira de contribuição para a superação do tecnicismo e reprodução de práticas rotineiras inadequadas (Pedrosa et al., 2022).
Aprendizagem Baseada em Problemas (PBL): No PBL, os participantes são desafiados a resolver situações-problema relacionadas à biossegurança, utilizando conhecimentos científicos e normas regulamentadoras. A utilização de metodologias que privilegiem a participação ativa das pessoas na construção do conhecimento (Veiga, 2016).
Oficinas e Dinâmicas Interativas: Ferramentas aplicadas como oficinas e dinâmicas práticas permitem a troca de experiências entre os profissionais, facilitando a contextualização do aprendizado. Essas atividades reforçam a importância da biossegurança e promovem a reflexão sobre a aplicabilidade das normas no cotidiano profissional, além de complementar o conhecimento prévio (Vasconcelos et al., 2024).
Considerações Finais: A capacitação em biossegurança é um elemento essencial para a segurança dos profissionais de saúde, dos pacientes e da sociedade como um todo. No entanto, métodos tradicionais de ensino nem sempre garantem uma aprendizagem efetiva e duradoura.
A literatura evidencia que as metodologias ativas são estratégias promissoras para potencializar o ensino da biossegurança, tornando-o mais dinâmico, interativo e aplicável à prática profissional. A implementação de abordagens como gamificação, simulações e PBL pode não apenas aumentar a adesão às normas de biossegurança, mas também promover uma cultura de segurança nos serviços de saúde.
Nesse sentido, o desenvolvimento de materiais educacionais inovadores, como manuais interativos e ferramentas digitais, pode contribuir significativamente para a qualificação contínua dos profissionais da saúde, consolidando a biossegurança como um pilar fundamental da assistência segura e eficiente.
Referências
- Resolução Rdc Nº 222, De 28 De Março De 2018. Dispõe Sobre O Gerenciamento De Resíduos De Serviços De Saúde. Brasília, 2018.
- Diniz Faria, M. H.; Dantas Pereira, L. . .; Barbosa Palmeira Limeira, A.; Santos Dantas, A. B.; Marinho Bezerra De Oliveira Moura, J. .; Maia De Almeida, G. C. . Biossegurança Em Odontologia E Covid-19: Uma Revisão Integrativa: Biosafety In Dentistry And Covid-19: An Integrative Review . Cadernos Esp, Fortaleza-Ce, Brasil, V. 14, N. 1, P. 53–60, 2020.
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- Machado, Michelle Eifler; Paz, Adriana Aparecida; Da Costa Linch, Graciele Fernanda. Uso Das Tecnologias De Informação E Comunicação Em Saúde Pelos Enfermeiros Brasileiros. Enfermagem Em Foco, V. 10, N. 5, 2019.
- Moro, C. Et Al. Estratégias Inovadoras Para A Capacitação Em Biossegurança: Revisão Integrativa. Revista De Inovação Na Saúde, 2020.
- Pedrosa, Emily Emanuele Da Silva; Da Silva, Leonardo Carvalho; De Aguiar, Viviane Ferraz Ferreira. Utilização Da Simulação Realística Na Prática De Biossegurança Como Inovação No Processo De Ensino-Aprendizagem. In: 15º Congresso Internacional Da Rede Unida. 2022
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- Silva, Joselma Pinheiro. Uso Dos Equipamentos De Proteção Individual E Biossegurança: Conhecimento Dos Auxiliares E Técnicos De Enfermagem. 2018.
- Tannus, Sérgio Ferreira Et Al. Norma Regulamentadora 32 (Nr-32): Aplicada No Contexto Hospitalar. 2023.
- Vasconcelos, Ana Carolina Sobota Et Al. Relato De Experiência: Intervenção Educativa Sobre Biossegurança Para Profissionais De Limpeza E Higienização Hospitalar. Ensino & Pesquisa, V. 22, N. 2, P. 319-331, 2024.
- Veiga, Ilma Passos Alencastro. Formação Médica E Aprendizagem Baseada Em Problemas. Papirus Editora, 2016.
Gabriela Coelho Bezerra
Acadêmica de Medicina
Kamila Barros Chaves
Acadêmica de Medicina
Jorge Luiz Silva Araújo-Filho (@dr.biossegurança)
Biólogo, mestre em patologia, doutor em biotecnologia; palestrante e consultor em biossegurança. drbiosseguranca@gmail.com