Este artigo aborda a intrínseca relação entre gênero e estilo na produção de resenhas acadêmicas por estudantes universitárias, investigando a influência do estilo do gênero nas escolhas linguísticas e a manifestação do estilo individual em um gênero discursivo aparentemente padronizado. A análise apoia-se na abordagem sociodiscursiva do estilo proposta pelo Círculo de Bakhtin, que postula que o estilo é um fenômeno construído socialmente por meio de escolhas em uma comunicação discursiva viva, englobando fatores sociais, históricos, culturais e ideológicos.
A perspectiva bakhtiniana enfatiza a coexistência de um estilo individual e um estilo coletivo (de gênero). Enquanto o estilo do gênero, caracterizado pela conexão repetida de fatores linguísticos, textuais e discursivos em um contexto enunciativo, tende a controlar as escolhas linguísticas dos produtores do texto, há espaço para a emergência de marcas de estilo individual. Isso ocorre devido ao caráter relativamente estável dos gêneros discursivos, que, embora possuam formas mais padronizadas, ainda permitem a expressão da singularidade do sujeito.
A resenha acadêmica, um gênero fundamental no meio universitário, historicamente ligada à academia para a avaliação de obras, exige a apresentação de informações selecionadas e sumarizadas sobre o conteúdo de outro texto, concomitantemente à tecelagem de comentários e avaliações. A NBR 6028, em sua versão de 2021, inclusive, preconiza que as resenhas devem ser precedidas pela referência do documento analisado quando publicadas separadamente. Estudantes, como observado na pesquisa, tendem a seguir essas diretrizes, realizando ações retóricas como apresentar a obra, informar sobre o autor e sumarizar o conteúdo, o que reflete a influência do estilo do gênero em suas escolhas.
Contudo, a possibilidade de manifestação do estilo individual é notável, especialmente no aspecto avaliativo da resenha. As escolhas lexicais e as avaliações sociais dos autores, mesmo em um gênero mais rígido, revelam posicionamentos socioideológicos. Por exemplo, a substituição de “luta das mulheres” por “machismo estrutural” ou “feia” por “fora do padrão de beleza” denota uma atitude valorativa e um entendimento crítico das questões sociais por parte da escrevente. Essas escolhas demonstram que, mesmo quando o estilo do gênero direciona grande parte das decisões, o sujeito do discurso consegue imprimir sua singularidade através de elementos estilísticos que refletem sua posição social e sua relação emocionalmente valorativa com o conteúdo e o interlocutor.
Em suma, a análise do processo de construção de resenhas acadêmicas elucida a dinâmica entre o estilo do gênero, que serve como um norteador determinante para as escolhas do produtor do texto, e o estilo individual, que emerge por meio de avaliações e posicionamentos socioideológicos. Essa interação reitera o caráter social do estilo, confirmando que a produção de um texto, imersa em um processo de comunicação discursiva viva, é intrinsecamente moldada por aspectos sociais, históricos, culturais e ideológicos.
Referência:
Rocha-Prado, A. C. D. (2025). Estilo Individual e Estilo de Gêneros no Processo de Construção de Resenhas Acadêmicas.
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