Por: Dr. Alexandre Silva e Silva – Médico especialista em ginecologia e obstetrícia
A endometriose, uma condição que afeta cerca de 176 milhões de mulheres no mundo, incluindo mais de 7 milhões no Brasil, é conhecida como uma das principais causas de infertilidade feminina. Segundo dados da OMS e da Associação Brasileira de Endometriose, cerca de 30% dos casos de endometriose levam à infertilidade. No entanto, um novo estudo revela que os impactos da doença podem ir além da saúde reprodutiva, representando riscos ao coração e aos vasos sanguíneos.
Risco Cardiovascular Aumentado
Apresentado no Congresso Europeu de Cardiologia (ESC 2024), em Londres, o estudo conduzido no Hospital Rigshospitalet, da Universidade de Copenhague, investigou mais de 60 mil mulheres com endometriose, comparando-as a um grupo de controle de mais de 240 mil mulheres sem a condição. A pesquisa, que se estendeu por 16 anos, analisou fatores como histórico socioeconômico e incidência de problemas cardiovasculares, incluindo infarto e AVC.
Os resultados indicaram que mulheres com endometriose têm quase 20% mais chance de desenvolver doenças cardíacas e vasculares do que aquelas sem a condição.
O Que é a Endometriose?
A endometriose é uma condição crônica em que tecidos semelhantes ao revestimento do útero (endométrio) crescem fora dele, afetando órgãos como ovários, tubas uterinas e outras áreas da região pélvica. Esse crescimento anormal pode causar sintomas dolorosos e outros problemas de saúde.
Sintomas Comuns da Endometriose:
– Dificuldade para engravidar;
– Dor intensa durante a menstruação;
– Sangramento menstrual irregular;
– Dor pélvica persistente;
– Dor durante as relações sexuais;
– Fadiga.
Tratamentos para a Endometriose
Embora a endometriose não tenha cura, há tratamentos que podem ser ajustados conforme o caso e a gravidade. Eles incluem desde o uso de medicamentos para dor até terapia hormonal, que visa reduzir o crescimento do tecido endometrial. Em casos graves, pode ser necessária a remoção cirúrgica das lesões, e em situações específicas, a retirada de parte do intestino ou da bexiga pode ser indicada.
Para algumas pacientes, a histerectomia (remoção do útero) pode ser considerada, especialmente quando há presença de adenomiose (endometriose dentro das fibras musculares uterinas) ou miomas uterinos. No entanto, a retirada do útero isoladamente não trata a endometriose.
Importância dos Resultados do Estudo Dinamarquês
O estudo que associa a endometriose a um maior risco de AVC e doenças cardíacas deve ser analisado com cautela. Pacientes com endometriose frequentemente utilizam anticoncepcionais hormonais, e sabe-se que o uso prolongado desses medicamentos pode aumentar o risco de trombose, AVC e outras complicações cardiovasculares.
A endometriose é uma condição complexa, que pode causar dores severas e incapacitantes em alguns casos, mas não deve ser considerada a única causa de risco cardiovascular. Essa conexão entre endometriose e saúde cardiovascular continua a ser um ponto importante para futuras pesquisas e acompanhamento cuidadoso dos pacientes.